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Um ano de Javier Milei: como está a situação da economia da Argentina

Economista "anarcocapitalista" assumiu Argentina com altíssima inflação, elevados gastos públicos e moeda desvalorizada

Por Paula Freitas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 dez 2024, 20h37 - Publicado em 10 dez 2024, 16h28

Há exato um ano, em 10 de dezembro de 2023, o presidente da Argentina, Javier Milei, rompia com a divisão clássica da política do país, partida em dois entre peronistas e antiperonistas, e assumia o controle da Casa Rosada como um político outsider. Com pouca experiência como deputado, o economista “anarcocapitalista”, como se autointitula, recebeu nas mãos uma Argentina com altíssima inflação, elevados gastos públicos e moeda desvalorizada, o peso, em comparação aos vizinhos da América do Sul.

Ainda em campanha, Milei prometeu implementar medidas austeras. Surge, nesse contexto, um símbolo que viraria o rosto do seu governo: a motosserra, que mirava cortar os gastos e as funções do Estado, dando espaço à iniciativa privada. No poder, ele avançou com a controversa “terapia de choque” para controlar a economia.

Em junho, conseguiu aprovar a Lei de Bases, um pacote de medidas que, no conjunto, pretende reduzir a presença do Estado na economia, sanear as contas públicas e ampliar os poderes do Executivo. É verdade que a proposta, mais conhecida como Lei Omnibus (para todos, em latim), minguou de 664 para 238 artigos para poder vingar. Daí o apelido que a oposição se apressou a dar ao texto: “Micro-ônibus”.

Um dos mais celebrados tópicos da reforma foi o estabelecimento do Regime de Incentivos a Grandes Investimentos, com o objetivo de destravar a burocracia e dar estímulo a empresas dispostas a investir vultosas somas em solo argentino. Também passou uma anistia fiscal para fundos no exterior, com o objetivo de chamar atenção do dólar para o país.

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Queda da inflação

O resultado, por um lado, parece mostrar prenúncios de melhora econômica: a inflação mensal desacelerou de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,7% em outubro deste ano, no menor índice desde 2020. O peso argentino — que Milei prometeu substituir pelo dólar, mas não cumpriu — valorizou, e as taxas do dólar no mercado paralelo encolheram em até 44%, aproximando-se do valor comercializado oficialmente.

Trata-se de passos de bebê, já que a Argentina ainda enfrentará um longo caminho pela frente. Uma das pedras no sapato é a inflação anual, em 193%. Grande parte da população, no entanto, tem interpretado as taxas mensais como um positivo prognóstico para o futuro, o que rendeu ao ultraconservador uma boa popularidade, de 42% a 45% no primeiro ano, com um salto para 47% em novembro.

O otimismo também está amparado, além da economia, no comportamento político de Milei — conhecido pela instabilidade e por subir o tom, flertando com ameaças. No governo, já foram realizadas cerca de 100 substituições, seja por demissões ou renúncias, desde o início do mandato, mostrou um levantamento do cientista político argentino Pablo Salinas. 

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Pobreza em alta

Há, no entanto, um efeito rebote: o aumento da pobreza, que chegou aos maiores níveis em 20 anos na história do país. Quase 53% dos argentinos são considerados pobres. As crianças não saem imunes desse panorama social: duas em cada três vivem em situação de vulnerabilidade, sendo a faixa etária mais afetada. Ao todo, 1,5 milhão de cidadãos pulam uma refeição durante o dia e, muitos deles, escolhem alimentos menos nutritivos, mas mais baratos, nas compras.

Em julho, o consumo de carne bovina atingiu o menor nível em um século na Argentina, país famoso pelas parrillas. A preços elevados, ela virou quase um item de luxo, sendo trocado por outras proteínas, como o frango. O levantamento da Bolsa de Comércio de Rosário estimou que o consumo médio anual do produto será de apenas 44,8 quilos por habitante em 2024, uma redução e tanto em comparação à média histórica, de 72,9 quilos. Milei espera que as mudanças duras na economia melhorem, eventualmente, o panorama de pobreza.

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No mês passado, ele disse que “a recessão terminou”, que o país estava “saindo do deserto” e “finalmente começou a crescer”. Embora o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial prevejam que a Argentina tenha o maior desenvolvimento entre os sul-americanos em 2025, o presente é uma dura realidade a ser encarada: a produção de bens e riquezas no país deve cair 3,4% neste ano, na pior recessão da América Latina. A ver as cenas dos segundo ano de governo do ultralibertário, ultraconservador e ultrapolêmico presidente argentino.

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