Com capacidade de vender 150 milhões de doses da vacina russa Sputnik V ao Brasil, Fernando de Castro Marques, 66 anos, presidente da farmacêutica União Química, teve uma carreira bem curta — e sem sucesso — na política. Em 2018, decidiu disputar uma vaga no Legislativo. Telefonou para o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, se oferecendo para disputar o cargo de senador do Distrito Federal. Brasília, contou ele a VEJA, é onde passa mais da metade de seu tempo. O outro domicílio fica em São Paulo.
“Ele me procurou dizendo que queria ser candidato, se eu teria interesse. Eu disse que sim. Ele ficou só uns oito meses no partido. Não me disse que ia se desfiliar. Na verdade, ele não falou nem por que entrou nem por que saiu”, diz Paulinho, que comenta o resultado eleitoral do ex-filiado: “Não foi bonito, não”. A empreitada fracassou, como destaca Paulinho, que pareceu chateado com a saída sem explicação do colega de partido. Marques ficou em nono lugar entre os dezoito candidatos, com 4.7% dos votos.
“Mas se eu tivesse disputado para deputado do DF, teria sido o mais votado”, diz Marques, referindo-se aos 124.904 mil votos. Apesar de ter saído do Solidariedade e não ter se filiado a nenhuma legenda, Marques ainda pensa em se candidatar. “Não posso dizer que dessa água não beberei. A política define a vida do cidadão do Oiapoque ao Chuí. Sou apaixonado por ela. Nosso Legislativo está muito enfraquecido, o que é muito triste.”
Apesar da baixa votação e do fracasso eleitoral, o empresário ganhou notoriedade naquele ano depois que foi apontado como candidato mais rico do país, com um patrimônio declarado à Justiça de R$ 668 milhões, entre participações em empresas, imóveis e outros bens.
“Isso me surpreendeu, eu acho que há candidatos que têm bem mais dinheiro do que eu. Lá do Ceará com certeza tem um. Eu tenho uma situação patrimonial grande, fruto de 50 anos do meu trabalho. Mas é ruim, né [ter os dados divulgados]? Você acaba tendo uma exposição.”
Se o caminho pela política foi breve e sem sucesso, não se pode dizer o mesmo de sua trajetória no ramo farmacêutico. A União Química começou com a compra do laboratório Prata, de 1936, pelo pai de Marques, em 1970. Hoje, o conglomerado soma oito fábricas e 6.480 funcionários. Ele entrou no mercado promissor de vacinas contra a Covid-19 ao firmar no ano passado um acordo com o Fundo de Investimentos Diretos da Rússia (RDIF), controladora da Sputnik V.
A vacina já foi aprovada para uso emergencial em alguns países, como a Argentina, mas ainda aguarda o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para ser comercializada no Brasil. Marques espera que o órgão libere até o início da próxima semana a autorização para que a União Química inicie os testes da fase 3 no país. O governo brasileiro já manifestou interesse em comprar o imunizante caso ele seja aprovado.