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O obeso não tem culpa, tem desejos

Uma nova linha de pesquisa em obesidade sugere que nós não engordamos porque comemos demais, comemos demais porque estamos engordando

Por Antonio Carlos do Nascimento
Atualizado em 26 mar 2017, 12h00 - Publicado em 26 mar 2017, 12h00

Mudanças comportamentais, tais como exercícios frequentes e reorientação alimentar, tem se mostrado bastante positivas em vários cenários, em especial na melhora de condições cardiovasculares, gastrointestinais, osteoarticulares e psíquicas, mas pouco ou nada sustentáveis a médio e longo prazo na diminuição ponderal. Mas continuamos vendendo este perfil comportamental para solucionar o problema de dois terços de americanos, brasileiros e tantas outras populações que se apresentam com sobrepeso e obesidade.

Tal culpabilização da vítima gera um processo global e gigante de sugestões de realinhamento alimentar, que encontra soluções na retirada industrial de gorduras de alimentos, substituição do açúcar por adoçantes sintéticos, adição de fibras e toda sorte de compostos de baixas calorias que renda melhor palatabilidade aos produtos modificados, produtos sem glúten, sem lactose e assim… Continuamos gordos – ainda que no momento pareça que alcançamos uma deprimente estabilização nos números americanos, restando um terço de magros.

Sem inocentar os obesos, a verdade é que já existem muitas linhas acadêmicas aceitando haver um grave erro conceitual na interpretação dessa doença, o qual provavelmente exigirá muitas décadas para minimizar suas consequências: Nós não engordamos porque comemos demais, o fato é que comemos demais porque estamos engordando. Apenas obedecemos ordens cerebrais impondo a ingestão de alimentos além do que necessitamos.

Essa incipiente “mea culpa” do mundo da ciência tem gerado uma busca frenética na identificação de elementos químicos com potencial de corromper a falível relação fome-saciedade-metabolismo. Essas substâncias são denominadas disruptores endócrinos, estruturas químicas capazes de imitar, bloquear ou atrapalhar os hormônios que regulam funções biológicas fundamentais em seres humanos e outros animais, incluindo o desenvolvimento cerebral, a reprodução, o metabolismo e o crescimento. Se avaliarmos estes compostos pela capacidade de indução à obesidade podemos denominá-los apenas obesogênicos.

A primeira exposição a estes compostos pode ocorrer em nossos tempos intrauterinos. Ao nascer já teríamos termostatos da fome e saciedade modificados, um número maior de células gordurosas e uma maior competência de armazenamento energético na forma de gordura. Mudança metabólica para toda a vida.

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É certo que essa exposição é contínua e aparentemente ofertada por todos os alimentos processados, agrotóxicos, hormônios, antibióticos, elementos inaláveis provenientes de escapamentos de carros ou chaminés de indústrias, plásticos e outros. Apesar de não alterarem nossa sequência no DNA, é possível que modifiquem a expressão de alguns de nossos genes e que transfiramos tais mudanças para nossa descendência. Por outro lado, talvez algumas dessas substâncias nos transtornem apenas enquanto tivermos contato com as mesmas.

O bisfenol A, encontrado em plásticos, revestimentos de alimentos enlatados, pesticidas e outros produtos é transferido para nossos organismos mais comumente através do consumo de alimentos acondicionados em recipientes plásticos que contenham este elemento. O simples congelamento ou aquecimento do conjunto libera a substância para o alimento. Não à toa, perto de 90% daqueles que vivem nos ambientes urbanos apresentam níveis mensuráveis de bisfenol A em seus organismos. Um estudo recente utilizando camundongos sugere fortemente que essa substância impede perenemente a ação da leptina, hormônio da saciedade, junto ao seu local de ação no hipotálamo.

Espessantes utilizados para melhorar a palatabilidade de sorvetes, iogurtes, achocolatados e outros produtos, se mostraram capazes de interferir negativamente na produção intestinal de GLP-1, substância envolvida, entre outras ações, na modulação de centros da fome e saciedade. Talvez esse comprometimento seja reversível.

É quase certo que tudo que conseguirmos deduzir nessa procura trará a necessidade de atitudes, que, se tomadas, produzirão resultados após algumas gerações. No momento, restam bilhões de pacientes obesos e com sobrepeso, para os quais temos a obrigação de evitar a administração da fácil equação que subtrai supostos gastos energéticos do presumido total calórico ingerido, sem considerar as irrecusáveis ordens cerebrais.

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(Ricardo Matsukawa/VEJA.com)

 

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