E chega novembro, sai o rosa e entra o azul, em campanhas mundiais para mostrar que cuidar da saúde, também é coisa de homem. O novembro azul foi iniciado na Austrália, onde desde 2003, um grupo de pessoas deixa crescer o bigode no mês de novembro para alertar sobre saúde masculina, riscos e prevenções sobre câncer de próstata, denominado Movember, mistura de duas palavras inglesas, mustache (bigode) e november (novembro).
O movimento hoje, com o mundo globalizado e a instantaneidade das informações, nos faz refletir sobre a saúde do homem como um todo e, claro, para um urologista, especialista em reprodução humana, sobre sua fertilidade.
Falar sobre prevenção faz aflorar com força a relação saúde e qualidade de vida. Sabe-se que a qualidade média dos espermatozóides dos homens de todo o mundo vem caindo desde 1930. Nosso grupo avaliou essa queda e demonstrou com evidências pertinentes que há um declínio geral de 32,5% na concentração de espermatozóides em homens europeus nos últimos 50 anos (Human Experimental Toxicology, P Sengupta, E Borges Jr et al., 2018).
Fertilidade masculina
Embora a evidência que liga fatores ambientais ao prejuízo à fertilidade masculina seja fraca, ainda existem alguns dados que sugerem que a qualidade do sêmen pode ser influenciada por fatores ambientais e estilo de vida. Esse achado pode ter implicações no status de fertilidade de homens e enfatiza a necessidade de mais estudos abordando o estilo de vida e outros fatores, a fim de encontrar a correlação adequada com os agentes causadores.
Há muito tempo encampamos os dez mandamentos da fertilidade, onde apontamos a necessidade do homem se afastar de vilões como cigarro, álcool e stress, para preservar sua capacidade reprodutiva. O cigarro afeta a produção dos espermatozóides, com aumento de taxa de espermatozóides imóveis, anormais e menos concentrados.
Já o álcool altera sua qualidade e função, além de induzir um funcionamento inadequado dos testículos e reduzir os níveis de testosterona (hormônio sexual masculino). O estresse, outro fator que comprovadamente leva ao aumento do número de células inflamatórias que interferem na qualidade dos espermatozoides, causa ansiedade e disfunção erétil.
Tabagismo e alcoolismo
Em recente publicação no Jornal Andrologia (Paternal lifestyle factors in relation to semen quality and in vitro reproductive outcomes. E Borges Jr et al. Andrologia. 2018;e13090), fizemos um estudo de corte prospectivo que submeteu 965 pacientes do sexo masculino à análise seminal, entre outubro de 2015 e dezembro de 2016. Apuramos que realmente o tabagismo e o consumo de álcool parecem reduzir a qualidade do sêmen, fertilização e as taxas de formação de blastocisto (melhor embrião a ser transferido nos tratamentos de fertilização in vitro).
Sensato, portanto, recomendar que o homem submetido a tratamento de reprodução humana busque o equilíbrio, uma alimentação saudável e a sadia qualidade de vida. A finitude da vida e a vulnerabilidade do corpo representam nosso desafio de prolongar a sobrevivência digna, curar doenças e domar a morte.
Fatores genéticos
Neste constante desafio, o departamento de urologia da Universidade de Stanford, na Califórnia, a partir do pioneiro David Barker, que estuda conceitos de origens fetais de doenças em adultos, sugere a infertilidade masculina como uma janela para a saúde. Potenciais associações entre infertilidade e saúde podem surgir de fatores genéticos, de desenvolvimento e estilo de vida. Estudos exploraram possíveis ligações entre infertilidade masculina e doenças oncológicas, cardiovasculares, metabólicas e autoimunes. Infertilidade masculina também pode ser um preditor de hospitalização e mortalidade.
É certo que pesquisas adicionais são necessárias para elucidar os mecanismos pelos quais a infertilidade masculina afeta a saúde geral, mas uma coisa é certa, o homem não existe por si só, sua qualidade de vida possui uma conexão direta com tudo o que o rodeia e possa lhe proporcionar um bem estar físico, psíquico, econômico e social.
Isto vale repensar e despertar para saúde. Hoje, novembro, e sempre.
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Paulo Hoff, oncologista
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista