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Câncer de próstata: por medo de efeitos colaterais, homens tratam menos

Um novo estudo mostrou que muitos homens preferem correr risco de morte do que enfrentar efeitos colaterais decorrentes do tratamento na vida sexual

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 nov 2018, 19h10 - Publicado em 24 nov 2018, 17h28

Homens preferem ter menores chances de sobrevivência a enfrentar possíveis efeitos colaterais do tratamento que podem alterar sua vida sexual. A conclusão alarmante é de um estudo apresentado na conferência do Instituto de Pesquisa Nacional do Câncer em Glasgow, no Reino Unido.

Atualmente, o tratamento do câncer de próstata inclui cirurgia ou radioterapia, mas ambos podem causar incontinência urinária e perda da função sexual. O novo estudo sugere que, embora os pacientes valorizem uma vida mais longa, eles também valorizam a qualidade de vida, e podem estar dispostos a escolher menos tratamentos com base nisso.

Para chegar a essa conclusão, pesquisadores do Imperial College London conversaram com 634 homens que tinham recebido recentemente o diagnóstico de câncer de próstata. Em todos os casos, o tumor ainda não havia se espalhado. A maioria (74%) tinha tumor de baixo ou médio risco e os demais (26%), de alto risco.

Após o diagnóstico, os pesquisadores propuseram dois tratamentos hipotéticos aos pacientes. As alternativas eram diferentes em termos de impacto na sobrevivência, incontinência urinária, impotência sexual, tempo de recuperação e probabilidade de necessitar de tratamento adicional. Em seguida, eles deveriam escolher uma das opções, com impactos variados na sobrevivência e nos efeitos colaterais.

Os resultados mostraram que entre obter uma melhoria de 1% na chance de manter a função urinária ou 0,68% de chance na melhora de sobrevida, os homens tendiam a escolher a primeira opção. A mesma decisão se repetiu quando as opções eram a chance de 0,41% de melhora na sobrevida ou uma probabilidade 1% maior de não precisar de mais tratamento. Por fim, para ter 1% a mais de chance de conseguir ereções, estavam dispostos a desistir de melhorar em 0,28% a chance de sobrevida.

“É fácil supor que a principal motivação dos pacientes é a sobrevivência, mas esta pesquisa mostra a situação é mais sutil. Os homens querem vida longa, mas eles valorizam altamente os tratamentos que têm efeitos colaterais baixos, tanto que, em geral, eles estavam dispostos a aceitar uma menor sobrevivência se isso significasse o risco de efeitos colaterais foi baixo.”, disse Hashim Ahmed, urologista e líder do estudo.

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Novas estratégias

Para Ahmed, esses resultados chamam atenção para a necessidade de novas estratégias, que reduzam o dano ao paciente e limitem o impacto dos efeitos colaterais do tratamento na qualidade de vida. “Para muitos pacientes, isso significa optar pela vigilância ativa ou por tratamentos menos invasivos, como terapia focal”, reforça o especialista. A terapia focal usa calor ou frio para atacar o câncer localmente, em oposição à próstata como um todo, a fim de reduzir os efeitos colaterais.

Segundo o patologista clínico Helio Magarinos Torres Filho, diretor médico do Richet Medicina & Diagnóstico, “estes casos [de efeitos colaterais graves] têm se tornado cada vez mais raros, devido aos avanços das técnicas cirúrgicas, como a utilização de cirurgia robótica, mas mesmo assim ainda existe risco, mesmo que pequeno”.

Câncer de próstata

O câncer de próstata, o sexto tipo mais comum de câncer no Brasil e o segundo mais frequente em homens, após os tumores de pele, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). A doença mata um brasileiro a cada meia hora e a principal razão para isso é o diagnóstico tardio. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), 20% dos pacientes são diagnosticados em estágios avançados, o que diminui bastante as chances de cura.

Em geral, a doença é silenciosa – não apresenta sintomas em seu estágio inicial – e lenta, podendo levar até quinze anos para atingir 1 grama. Porém, alguns tumores crescem de forma rápida, podendo se espalhar para outros órgãos e por isso a importância da investigação precoce. Sua incidência é mais comum em após os 50 anos de idade. De acordo com o Inca, estão previstos mais de 68.000 novos casos de câncer de próstata no Brasil neste ano.

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A baixa taxa de diagnóstico precoce está fortemente associada a dois fatores principais: o fato de os homens não terem o hábito de ir ao médico regularmente e o tabu em relação ao toque retal, um dos exames mais tradicionais para identificar a doença. Diferentemente das mulheres, que tendem a ir ao ginecologista desde o início da puberdade, o pai não tem o costume de acompanhar o filho ao urologista. Além dessa falta de costume, existe o preconceito em torno do exame de toque retal pelos homens, que acabam postergando a visita ao especialista e quando vão, geralmente já há algo errado.

O câncer de próstata deve ser encarado como uma doença curável e tratável quando diagnosticada no início. As consequências de se relegar o diagnóstico precoce podem ser muito graves. Também é importante lembrar que não basta apenas fazer os exames, mas também ter uma rotina de consultas médicas em dia.

afirma Torres Filho.

No Brasil, a recomendação é que homens com risco médio para o câncer de próstata façam o rastreamento a partir dos 50 anos. Aqueles com alto risco, como os que têm um parente de primeiro grau com diagnóstico antes dos 65 anos, devem começar aos 45 anos. Em alguns casos específicos, quando o médico avalia que o risco é ainda maior, como quem possui caso de parente de primeiro grau com câncer de próstata em idade precoce, pode ser recomendado o rastreio a partir dos 40 anos.

Além do toque retal, outros dois exames integram o consenso para diagnóstico do câncer de próstata: O PSA (sigla em inglês para Antígeno Prostático Específico), feito no sangue; e a ressonância magnética. Menos invasivos que o toque retal, eles têm maior aceitação entre o público masculino (principalmente o PSA), contribuindo para a descoberta precoce da doença. Conheça mais sobre cada um deles:

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  • Toque retal: exame clínico mais tradicional no rastreio do câncer de próstata. Simples e rápido, é feito diretamente no consultório e permite ao médico avaliar alterações da próstata, como endurecimento e presença de nódulos suspeitos. Cerca de 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados somente por constatação de alteração durante esse exame.
  • PSA: esse exame de sangue faz a dosagem de uma proteína, o antígeno prostático específico ou PSA, na sigla em inglês. É o segundo exame indicado para rastreio do câncer de próstata – além do toque retal. Sua grande vantagem é que tende a ser mais aceito pelos pacientes. “Normalmente ele é recomendado que seja feito uma vez ao ano. O resultado costuma ser mais alto na presença de alterações na próstata, como tumores”, explica Torres Filho. A desvantagem do PSA é sua interpretação. Nem toda alteração equivale a diagnóstico de câncer de próstata, por isso, a avaliação médica é fundamental.
  • Ressonância magnética: outro exame que vem ganhando destaque para o diagnóstico auxiliar do câncer de próstata é a ressonância magnética, através de um protocolo chamado avaliação multiparamétrica. Com as imagens obtidas pelo exame, é possível realizar a avaliação estrutural da próstata e identificar possíveis áreas de aumento ou distorções. Outra função do método é acompanhar a progressão ou regressão do tumor.
  • PCA3: exame simples feito a partir da urina usado para identificar proteínas cancerosas produzidas pela próstata. Ele é o principal aliado para descartar a dúvida sobre necessidade de biópsia nos pacientes.
  • P2PSA: representa o que há de mais novo em termos de diagnóstico do câncer de próstata. Recém-chegado ao país é mais específico que o PSA, e serve para auxiliar o médico em caso de dúvidas ante um resultado de PSA alterado, diminuindo o número de biópsias desnecessárias.

 

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