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Afinal, o que a miocardite tem a ver com infecções e vacinas?

Muito se falou sobre a relação entre Covid-19 e essa doença no coração. Especialista esclarece o assunto e as falácias propagadas por aí

Por Edmo Atique Gabriel*
Atualizado em 28 mar 2024, 09h13 - Publicado em 28 mar 2024, 09h01

Não podemos nos iludir de que a pandemia da Covid-19 acabou por completo. Basta lembrar que as infecções pelo coronavírus aumentaram 85% no estado de São Paulo após o carnaval e, com a mudança de estação, temos um momento propício para quadros virais respiratórios.

Soma-se a isso uma situação em que nem todas as pessoas que deveriam tomar o reforço da vacina de Covid-19 o fizeram e outras ainda convivem com sequelas da infecção, caso de alterações de memória, fadiga e problemas no coração.

Ainda que não seja comum, a Covid-19 pode desencadear o que chamamos de miocardite, uma inflamação das fibras musculares do músculo cardíaco. Seus sintomas podem ser confundidos com os de um infarto, mas algumas particularidades nos direcionam ao diagnóstico correto.

Na miocardite, o paciente pode apresentar febre, dor difusa no tórax, sem irradiação específica, perda de apetite e prostração física – características que não são frequentes no infarto.

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A miocardite pode ser causada por agentes virais, bacterianos, fúngicos ou por efeitos tóxicos da quimioterapia e radioterapia. Traumas na região torácica, como nos acidentes automobilísticos, quedas da própria altura e lesões esportivas podem contribuir também para esse processo inflamatório.

No caso específico da Covid-19, fica sempre a dúvida sobre o que seria mais ativo em causar uma miocardite: a infecção em si ou a vacina. Sabemos que, desde a fase mais crítica da pandemia, existem grupos completamente contrários ao uso das vacinas e o principal argumento deles é exatamente a ocorrência dos efeitos pós-vacinais.

Mas os estudos clínicos e a experiência profissional daqueles que vivenciaram a fase caótica da pandemia são praticamente unânimes em mostrar os benefícios das vacinas na mudança do prognóstico da infecção pelo coronavírus. Em outras palavras, o número avassalador de casos que necessitava de internação em UTI, suporte de oxigênio e intubação, apresentou uma redução significativa após o início da vacinação.

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A vacina é capaz de evitar a evolução da infecção para sua forma mais avançada, diminuindo os índices de internação e mortalidade. Sabemos, contudo, que os imunizantes podem ter efeitos colaterais, ainda que não cheguem aos pés das manifestações e complicações da doença em si.

+ LEIA TAMBÉM: Número de crianças vacinadas contra Covid permanece baixo

O que está em análise, no entanto, é se a miocardite aguda viral seria mais complicada, do ponto de vista das taxas de ocorrência e mortalidade, em relação a uma eventual miocardite aguda pós-vacinal. Para isto, precisamos relembrar que existem diferentes tipos de vacinas para a Covid-19.

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A vacina da Pfizer, largamente empregada hoje, por exemplo, se baseia na tecnologia de RNA mensageiro. A da Astra Zeneca, por sua vez, recorria à manipulação genética de um adenovírus, no qual é inserida uma proteína do coronavírus.

Recentemente, um importante estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, trouxe diversas informações esclarecedoras sobre a polêmica envolvendo a infecção pelo coronavírus e os efeitos pós-vacinais. Ele avaliou dados de aproximadamente 43 milhões de pessoas que receberam pelo menos uma dose da vacina – 22 milhões de pessoas receberam três doses da vacina e cerca de 6 milhões de pessoas tiveram a infecção pelo coronavírus antes ou depois de estarem vacinadas. A faixa etária considerada foi de 13 anos ou mais.

Os principais resultados demonstraram que a miocardite viral é mais comum após uma infecção pelo coronavírus do que após o uso da vacina. O risco de hospitalização ou de morte por miocardite é substancialmente maior após a infecção pelo coronavírus do que após a primeira dose da vacina da AstraZeneca ou dose inicial ou de reforço da vacina da Pfizer.

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Analisando especificamente a associação entre miocardite e vacinas, notou-se que homens com menos de 40 anos foram os mais acometidos de uma forma global. No caso da vacina da Pfizer, chama atenção que os casos de miocardite foram mais evidentes após a segunda dose e, neste público mais jovem, as taxas de ocorrência superaram os casos decorrentes da infecção pelo coronavírus.

Os pesquisadores salientaram que o risco de miocardite associado a vacinas é considerado pequeno.

Cada vez mais estudos populacionais e séries de caso serão necessários para orientar as melhores condutas quanto ao risco de miocardite viral após uma infecção por coronavírus ou pós-vacinal. Até o presente momento, as evidências apontam para um risco maior de miocardite após uma infecção por coronavírus do que como efeito pós-vacinal.

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Assim, continuar fazendo o acompanhamento médico periódico e se vacinando configuram boas medidas para se blindar do vírus. Inclusive em matéria de proteção ao coração.

* Edmo Atique Gabriel é cardiologista e cirurgião cardiovascular, professor universitário e coordenador do curso de medicina da Unilago, em São José do Rio Preto (SP)

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