Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

José Casado Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por José Casado
Informação e análise
Continua após publicidade

Fora da lei

Cresce produção legislativa contrária à Constituição

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 Maio 2023, 10h18 - Publicado em 26 Maio 2023, 06h00

Está aumentando a produção de leis contrárias à Constituição. Triplicou a quantidade de normas anuladas pelo Supremo Tribunal Federal na última década e meia.

Sete de cada dez aprovadas entre 2007 e 2022 acabaram vetadas — no todo ou em parte — porque prejudicavam os direitos constitucionais dos 208 milhões de brasileiros.

A situação se agrava. Somente nos últimos cinco anos foram abolidas 1 101 legislações que o STF julgou inconstitucionais. Em comparação, no quinquênio anterior haviam sido 181. Houve um crescimento exponencial (508%).

Governo e Legislativo mantêm fábricas de leis ativas em Brasília, nos estados e nos municípios regulando tudo ao mesmo tempo para todos. Há 34 000 normas federais em vigor, cada uma com média de 3 000 palavras, balizando a vida de pessoas físicas e empresas.

O Congresso, por exemplo, produziu 759 novas leis durante o ano passado — quase cinco por dia de trabalho parlamentar, com três votações por semana.

Como consequência desse ímpeto legislativo, realçado nos últimos dez anos, a Constituição perdeu o caráter de código permanente. Em 2022 virou um periódico trimestral, com catorze emendas promulgadas em apenas doze meses.

O quadro piora nos estados, demonstra uma série de pesquisas conduzidas pelos jornalistas Marcio Chaer, Lilian Matsuura e Mauricio Cardoso para a revista eletrônica Consultor Jurídico.

Continua após a publicidade

O Tribunal de Justiça de São Paulo considerou inconstitucional 89% da legislação estadual que analisou no ano passado — a quantidade de vetos já é 3,5 vezes maior do que há dez anos. Coisa parecida acontece em Roraima, no Acre, no Maranhão e no estado do Rio. Em Sergipe simplesmente todas as normas examinadas em 2022 foram declaradas incompatíveis com a Constituição.

“Cresce produção legislativa contrária à Constituição”

O reformismo tem moldado a democracia brasileira, mas, paradoxalmente, começou a fomentar um ambiente de insegurança jurídica crescente e permanente. Deve-se à predominância de práticas de má qualidade e de controles deficientes nos governos e nas casas legislativas. É o que explica a nulidade integral ou parcial da maioria das leis federais e atos administrativos editados no ano passado na Presidência da República, no Senado, na Câmara dos Deputados e nas agências reguladoras.

Legislar é ato de escolha, mas governantes e parlamentares cada vez mais têm usado a produção legislativa como plataforma de propaganda da sua atuação política.

Fica visível, por exemplo, quando deputados do Rio decidem atropelar a Constituição e impor a coleta e armazenamento de amostras de DNA de gestantes e recém-nascidos como método de controle de pacientes nos hospitais. Da mesma forma, quando a Assembleia de Mato Grosso resolve proibir a construção de hidrelétricas no Rio Cuiabá. Ou, ainda, quando dezessete estados tentam incluir no foro privilegiado delegados de polícia, diretores de órgãos de trânsito e reitores de universidades — cinco ações foram anuladas no ano passado.

Essas deformações espelham a ineficácia das Comissões de Constituição e Justiça, etapa inicial de todo procedimento legislativo, quando se analisa a compatibilidade com o texto constitucional. No Congresso, nas 27 Assembleias e em 5 570 Câmaras de vereadores esse controle está, praticamente, abandonado. Por isso, quase 90% das leis de municípios paulistas como São Bernardo, Mauá, Andradina, Dracena e São José do Rio Preto, entre outros, anualmente têm sido vetadas pela Justiça.

Continua após a publicidade

Relevante, também, são os estímulos à imaginação política dados pelo Judiciário com decisões ambíguas. O Supremo liberou em 2015 a concessão de todo tipo de isenções tributárias nos estados e nos municípios. O resultado está na ampliação do tumulto fiscal numa federação já atolada em 36 000 regras tributárias federais, 147 000 estaduais e 260 000 municipais.

Do outro lado do balcão, observa-se aumento constante no número de decisões de juízes contrárias à Constituição. No ano passado, o STF considerou total ou parcialmente inconstitucionais 67% das decisões judiciais que analisou.

Um país pode se manter com leis ruins. O problema crescente de legislação de má qualidade, ou fora da lei, está nas consequências diretas sobre os direitos de pessoas e empresas. Só aumenta o nível de conflito na sociedade.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 31 de maio de 2023, edição nº 2843

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.