Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Jorge Pontes Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
Continua após publicidade

Plano contra Moro: ação, reação e algumas verdades

Para obtermos os efeitos desejados em qualquer política criminal, temos de seguir atacando o edifício da criminalidade começando de cima para baixo

Por Jorge Pontes
23 mar 2023, 12h09

Diante da operação Sequaz, bem-sucedida ação repressiva deflagrada no dia 22 de março do ano corrente, pela Polícia Federal, contra membros de facções criminosas que estariam planejando executar Sergio Moro e o promotor de justiça do Ministério Público de São Paulo Lincoln Gakiya, entre outras autoridades, é importante sejam feitas algumas inferências, e renovadas certas verdades inapeláveis.

A primeira é que Sergio Moro, durante sua curta passagem pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, tomou medidas acertadas que incomodaram a delinquência organizada, entre elas a de transferir lideranças de facções criminosas para presídios de segurança máxima. Foi um cartada que desorientou e impactou essas organizações delituosas. À mesma conclusão podemos chegar em relação ao desassombrado Promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que teria provocado o processo que culminou com o translado desses presos perigosos. Moro, Gakiya e as demais autoridades ameaçadas merecem nossa solidariedade.

Uma segunda verdade é que Moro, ao sair do MJSP escorraçado por Bolsonaro, foi apedrejado pelos extremistas da direita e por 100% dos bolsonaristas. Sua gestão no ministério foi achincalhada pelo próprio presidente, com enorme produção de fake news e distorções da realidade sobre o seu trabalho. Essa verdade, em especial, é destinada à bolsosfera, que já inicia uma nova onda de desinformação acerca dessa operação da PF, buscando se reapoderar de um ex-ministro que, há apenas três anos, foi tachado de inoperante e incompetente pelos fanáticos seguidores do ex-presidente.

A terceira verdade é que as reminiscências de Lula, sobre o que ele pensava quando estava preso (palavras essas que poderiam ter sido evitadas) estão sendo descontextualizadas e desvirtuadas, não podendo ser trazidas para a discussão sobre a operação que frustrou planos de executar Sergio Moro e outras autoridades. A fala foi infeliz, mas não guarda nenhuma relação com a ameaça ao ex-ministro. Fazer essa vinculação é uma leviandade política sem tamanho.

Continua após a publicidade

A quarta verdade é que o Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e a Polícia Federal estão de parabéns pelo planejamento e execução de uma ação que pode ter evitado uma tragédia aos moldes da máfia siciliana, e que seria executada contra um parlamentar que é adversário do atual governo.

A quinta e última inferência é que esse audacioso plano engendrado contra a vida de promotores e agentes da lei representa uma afronta sem precedentes ao Estado de Direito e nos mostra que estamos a um passo de nos tornarmos um “narcoestado”, a exemplo do que ocorreu com a Colômbia em passado recente. Medidas enérgicas, com a cooperação e articulação entre forças policiais federais e estaduais, devem ser encetadas para a contenção dessa escalada absurda da alta criminalidade.

Finalmente, vale realçar, como bem coloca o Professor Robert Rotberg, especialista em combate à corrupção, da John F Kennedy School of Government de Harvard, no seu livro Anticorruption, “assim como um peixe apodrece a partir da cabeça, todos os tipos de corrupção tomam sua forma e direção a partir dos desvios e fraquezas de líderes e de seus assessores”, o que significa que para atacarmos o crime de rua e a delinquência organizada — e outras modalidades criminosas violentas — é imperiosa a realização do enfrentamento à alta corrupção empresarial e política — a dita criminalidade institucionalizada. Em suma, para obtermos os efeitos desejados em qualquer política criminal, temos de seguir atacando o edifício da criminalidade começando de cima para baixo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.