Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Em Cartaz Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Raquel Carneiro
Do cinema ao streaming, um blog com estreias, notícias e dicas de filmes que valem o ingresso – e alertas sobre os que não valem nem uma pipoca
Continua após publicidade

Jennifer Lawrence exala veia cômica em besteirol americano saboroso

Em 'Que Horas Eu Te Pego?', atriz interpreta jovem contratada para seduzir rapaz introvertido — filme renova o formato para gerações mais jovens

Por Thiago Gelli Atualizado em 23 jun 2023, 15h08 - Publicado em 23 jun 2023, 13h07

Em 1965, o cineasta Mike Nichols introduziu ao cânone cinematográfico a personagem Mrs. Robinson (Anne Bancroft), de A Primeira Noite de Um Homem, eternizada também na música pela serenata de Simon & Garfunkel: uma mulher mais velha que busca em um jovem graduando a energia sexual e afetiva que lhe falta em seu casamento. Emoldurando o protagonista de Dustin Hoffman com suas pernas, ela deu o pontapé no Complexo de Édipo que nunca mais deixou o cinema americano, muito aproveitado por besteiróis como American Pie: A Primeira Vez É Inesquecível, que popularizou o termo “milf” com Jennifer Coolidge, referente a mulheres atraentes acima dos 40 anos. Em 2023, porém, filmes de orçamento intermediário como pastelões já não são feitos como outrora, nem o sexo é discutido na mesma linguagem. 

Dustin Hoffman sob as pernas de Anne Bancroft em 'A Primeira Noite de um Homem'
Dustin Hoffman sob as pernas de Anne Bancroft em A Primeira Noite de um Homem (MUBI/Reprodução)

Mesmo assim, Que Horas Eu Te Pego?, em cartaz nos cinemas, se orgulha do título canastrão e promete retomar o gênero: na trama, Maddie (Jennifer Lawrence) vive em uma pequena cidade litorânea dominada por turistas ricaços, mas está longe de ter uma boa conta bancária. Motorista de Uber e bartender, ela perde metade de sua renda após ter o carro guinchado, e corre o risco de perder a casa de sua família. Uma solução inusitada, porém, aparece quando a protagonista se depara com o anúncio “Precisa de um carro? ‘Namore’ nosso filho neste verão”. Ela aceita a proposta dos pais superprotetores e, então, se dedica à dura missão de cativar e seduzir o tímido Percy (Andrew Barth Feldman), de 19 anos, que não sabe do contrato selado. Medroso, o rapaz é nulo no vigor libidinoso adolescente que costuma permear comédias de sexo — uma curiosa quebra de expectativa em tramas joviais.

Que Horas Eu Te Pego? funciona, justamente, pela inovação da dinâmica: desta vez, nenhuma das partes realmente deseja explorar o Kama Sutra, nem a virgindade é preocupação máxima. Aqui, sexo não passa de uma atividade, e assim, são desarmadas as convenções do gênero. Mesmo que 13 anos mais velha, Maddie não pode ser chamada de “adulta” com todo o peso da palavra, dados os obstáculos financeiros e sociais que a mantêm em um estado de imaturidade eterna. Já Percy é um cavalheiro feito, mas vítima de uma ansiedade geral — pauta que ganha força entre a geração Z.

Continua após a publicidade

Enquanto Feldman desenvolve as neuroses de seu personagem com comédia física clássica, cada passo de Lawrence parece fugir de modelos que a precederam. Ela não possui o glamour nem a delicadeza de Mrs. Robinson, e suas tentativas de encarnar o ideal masculino de feminilidade são desengonçadas e cartunescas. Seu corpo nu é exibido apenas uma vez, no auge de sua voracidade cênica, em momento hilariante, mas nada erotizado. Repleta de falhas, a personagem é vulgar, desagradável e um prato cheio para a atriz, que nunca esteve tão carismática e vibrante em sua carreira estrelada repleta de dramas emoldurados para o Oscar. Mergulhada em química, a dupla impõe a afeição necessária para que as risadas e os momentos sentimentais — mais presentes que o esperado — se sustentem.

Expandindo o escopo para além da dupla central, o texto esbarra em fraquezas na hora de estabelecer seu ritmo e comentários sobre gentrificação feitos pela metade — no que parece ser uma homenagem aos filmes de humor lançados durante a última recessão americana. Maddie não hesita em alfinetar a inflação local causada por famílias abastadas, mas seus ideais vagos e a obrigatoriedade de um final feliz não permitem que as críticas atinjam seu potencial. Que seja. Indômita, Lawrence se recusa a ser reduzida ou a reduzir seus trabalhos, e — fantasiada de sex symbol — se afirma, reluzente, uma estrela de cinema completa. 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.