No último fim de semana, Barbie se tornou o mais novo membro do seleto clubinho de Hollywood de filmes que ultrapassam 1 bilhão de dólares em bilheterias mundiais. Mais especificamente, é o 53º título a atingir o valor. Em 17 dias, desde sua estreia global, o longa da boneca icônica somou 459 milhões de dólares na América do Norte e 572 milhões internacionalmente. A conquista grandiosa também simboliza um acontecimento histórico: trata-se do primeiro filme dirigido exclusivamente por uma mulher, a americana Greta Gerwig, a alcançar 1 bilhão.
Até então, somente três títulos com mulheres no comando tinham chegado a tamanho sucesso — mas todos eles eram codireções com cineastas homens: Frozen e Frozen 2, que arrecadaram 1,3 e 1,45 bilhão de dólares, respectivamente, foram dirigidos por Jennifer Lee e Chris Buck; enquanto Capitã Marvel, que fez 1,1 bilhão, foi uma colaboração de Anna Boden e Ryan Fleck. Greta já havia feito história logo no lançamento de Barbie, que se tornou a maior estreia de um filme dirigido por uma mulher, com 356 milhões de dólares. Antes, esse recorde era de Mulher-Maravilha, de Patty Jenkins, que fez 103 milhões — era também o longa com direção-solo feminina de maior bilheteria até então, tendo arrecadado 820 milhões ao longo de sua exibição. O incrível feito de Gerwig relembra que, apesar de hoje existirem maiores oportunidades para as mulheres na indústria cinematográfica, a disparidade entre os gêneros persiste.
Com 40 anos recém-completos, a atriz, roteirista e diretora tem um currículo modesto de filmes próprios — todos, porém, aclamados pela crítica. Seu primeiro trabalho por trás das câmeras foi Lady Bird (2017), um coming of age produzido pela badalada A24 que conquistou cinco indicações ao Oscar — entre elas, de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro original (creditado também a Greta). Já em 2019, se dedicou à adaptação de Mulherzinhas, livro de Louisa May Alcott. Sua versão do clássico americano concorreu em seis categorias do Oscar (incluindo a de melhor filme, como seu antecessor), com Greta disputando a estatueta de melhor roteiro adaptado. Barbie é seu terceiro longa-metragem, e inquestionavelmente seu maior sucesso até aqui.
Antes de se tornar diretora, porém, Greta já lograva reconhecimento como atriz, em papéis menores de produções alternativas, e sobretudo como roteirista, no mesmo nicho. Ela começou a escrever e atuar em peças de teatro quando ainda estava na faculdade. Seu primeiro papel nas telas foi em LOL, em 2006, e, nos anos seguintes, estrelou e roteirizou Hannah Takes the Stairs e Nights and Weekends — os três são projetos de Joe Swanberg, cineasta que é um dos principais nomes do chamado mumblecore, subgênero do cinema indie de baixo orçamento onde Greta iniciou sua carreira. O movimento valoriza atuações realísticas, com valorização dos diálogos (muitas vezes improvisados), em busca de colocar as relações interpessoais no centro da narrativa.
Foi nessa cena alternativa que Greta conheceu Noah Baumbach, seu parceiro de profissão de longa data e hoje marido, com quem tem dois filhos. Juntos, fizeram o adorável Frances Ha (2012) — roteirizado por ambos, estrelado por ela e dirigido por ele — e Mistress America (2015). A colaboração criativa perdura: Barbie também foi escrito em conjunto pelos dois, e, no ano passado, Greta voltou à frente das câmeras do marido em Ruído Branco, distribuído pela Netflix, em que contracena com Adam Driver.
Depois de Barbie, o caminho das superproduções hollywoodianas se alarga para Greta. A cineasta assina o roteiro do live-action de Branca de Neve e os Sete Anões, da Disney, programado para o próximo ano. Também foi anunciada como diretora do remake do clássico infantojuvenil As Crônicas de Nárnia, da Netflix. E, se seguir os planos da Mattel para o cinema nos próximos anos, Greta pode comandar mais filmes do mundinho cor-de-rosa da Barbielândia.