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Por Amanda Capuano Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O que é fato e ficção em filmes e séries baseados em casos reais

Filme ‘The Post’ passa longe de ser ‘fake news’

O que é verdade e o que é ficção no longa de Steven Spielberg, com Meryl Streep e Tom Hanks

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 fev 2018, 09h40

Em junho de 1971, o jornal New York Times deu início a uma série de reportagens que revelou dados de um relatório secreto do governo americano, mais tarde conhecido como Pentagon Papers (Papéis do Pentágono). A análise feita durante a Guerra do Vietnã, encomendada em 1967 pelo então secretário de defesa Robert McNamara, apresentava evidências do envolvimento dos Estados Unidos com eleições fraudadas, assassinatos, além do conhecimento de que eram poucas as chances de vencerem o conflito – mesmo assim, o país continuou a enviar soldados americanos a campo.

O vazamento das 7.000 páginas que o jornal teve acesso causou um grande embate entre a imprensa e o governo, que conseguiu uma medida judicial para impedir o New York Times de continuar a divulgar as informações. Enquanto isso, o jornal The Washington Post recebeu os mesmos arquivos e se viu na dúvida: publicar ou não publicar?

A decisão é esmiuçada por Steven Spielberg no filme The Post – A Guerra Secreta, com Meryl Streep, que interpreta Katharine Graham, primeira mulher a ter um cargo de chefia no jornal, e Tom Hanks, que dá vida ao enérgico editor Ben Bradlee.

Confira abaixo o que é verdade e o que é ficção no longa indicado em duas categorias ao Oscar (melhor filme e atriz, para Meryl).

 

Cópias que duraram meses

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(//Divulgação)

Muito antes de Edward Snowden, o americano Daniel Ellsberg encarou um processo do governo americano por traição ao vazar os Papéis do Pentágono. Chamado de “o homem mais perigoso da América” na época, Ellsberg, vivido por Matthew Rhys no filme, era um analista militar que trabalhava para a RAND Corporation, instituição que desenvolve pesquisas para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Assim como mostra o filme, Ellsberg foi a campo no Vietnã e ficou desiludido com o governo, que escondia da população informações sobre a guerra e a impossibilidade de vencê-la. O ex-militar passou três meses, em 1969, copiando as 7.000 páginas dos arquivos por partes, com a ajuda do amigo Anthony Russo, na máquina de xerox do escritório onde trabalhava a namorada de Russo, Lynda Resnick. Ellsberg saia da RAND durante a noite com algumas páginas e as devolvia ao local na manhã seguinte. Em 1971, ele vaza o material para os jornais New York Times e Washington Post – mais tarde é condenado a 115 anos de prisão, sentença que ele não cumpre quando se descobre que o FBI o espionava sem autorização da Justiça.

 

Viagem em caixas

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(//Divulgação)
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Após o New York Times ser impedido por uma ordem judicial de continuar publicando os documentos, o jornalista Ben Bagdikian (Bob Odenkirk, de Better Call Saul) consegue cópias do material com a promessa de publicá-las no Washington Post. Assim como mostra o filme, Bagdikian pegou duas poltronas na primeira classe em um voo de Boston para Washington, uma para ele e outra para as caixas com a papelada — já que não queria despachá-las. Em sua autobiografia, Double Vision, Bagdikian conta ainda que, enquanto andava pelo aeroporto com o pesado material, deixou uma das caixas cair. “De repente, vi no chão vários papéis escritos ‘Top-Secret’.”

 

Desordem

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(//Divulgação)

O filme também é fiel ao mostrar como os documentos foram recebidos pelos jornalistas. O editor Ben Bradlee (Tom Hanks) armou acampamento em sua casa, onde a equipe teve um trabalho hercúleo de colocar os papéis na ordem. Em 2011, os documentos deixaram de ser oficialmente secretos e foram divulgados online. Segundo o Washington Post, em texto publicado também em 2011, a liberação do material preencheria lacunas deixadas pelas páginas vazadas nos anos 1970, já que algumas cópias feitas por Ellsberg estavam ilegíveis, incompletas ou rasuradas.

 

Entre festas e decisões

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(//Divulgação)

Katharine Graham é a anfitriã de grandes festas em dois momentos decisivos da trama. Quando Bradlee está por receber os documentos, a dona do jornal celebra seu aniversário em uma festa de gala em sua casa. O roteiro toma a liberdade de aumentar um pouco a história neste caso. Realmente era aniversário de Katharine, mas, como ela conta em sua autobiografia, Personal History, a celebração era apenas um jantar íntimos com poucos amigos, entre eles Bob McNamara, o ex-secretário de defesa do país que encomendou a pesquisa vazada pelos jornais. Na segunda festança, a empresária recebe muitas pessoas em sua casa para se despedir de um funcionário aposentado, quando é confrontada pelo telefonema durante o fechamento do jornal e precisa decidir se publica ou não o material. Aqui, o filme é fiel aos acontecimentos. Ela estava até no meio de um brinde quando teve que interromper o momento para atender ao telefonema.

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Machismo e a decisão de Katharine

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(Reprodução/Divulgação)

 

Katharine Graham foi a primeira mulher a chefiar uma grande empresa de notícias, herança deixada pelo pai, Eugene Meyer, ao seu marido, Philip Graham — e que caiu em seu colo assim que ficou viúva, com o suicídio do esposo, em 1963. Como mostra o filme, Katharine teve que enfrentar olhares tortos em um ambiente empresarial dominado por homens. Porém, como ela contou em entrevista a Chris Wallace, na vida real, ela em nada se enxergava no papel de uma heroína e demorou muito a perceber as consequências que poderiam vir com a publicação. “Nunca passou pela minha cabeça que aconteceria algo se publicássemos o material. Até que atendi o telefonema em pleno momento de impressão do jornal. Os jornalistas diziam: ‘claro que temos que publicar’, e os advogados diziam, ‘sério, você não pode, pois é muito perigoso fazer isso bem no momento que o Times está sob restrição judicial’”. Foi então que ela se viu em dúvida sobre o que fazer. “Eu engoli seco. Não sou uma líder heroica. Eu simplesmente disse: ‘oh, vamos nessa’”, conta a empresária, enquanto refaz a expressão facial de preocupação que acompanhou a frase. “Foi muito difícil. Tiver que tomar essa decisão em 30 segundos e tinha apenas 50% de chance de estar certa.”

 

Nixon vilão

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(//Divulgação)

Há controvérsias sobre a maneira como o presidente Richard Nixon é retratado como um grande vilão no filme. Os Papéis do Pentágono foram feitos antes de seu mandato, tanto que Nixon não é citado nas páginas, mas sim seus antecessores, Lyndon Johnson e John F Kennedy. Nixon, em 1973, é o responsável por finalizar a guerra do Vietnã. Segundo o próprio Washington Post, inicialmente, o então presidente não se importou com o vazamento das informações, até ser confrontado por seu conselheiro em questões de segurança nacional, Henry Kissinger, que sugeriu ao mandatário que a publicação de material secreto nos jornais o fazia parecer “fraco”. Nixon partiu para ação e não economizou forças para que Ellsberg fosse condenado. O filme também afirma, logo no começo, que o presidente barrou o jornal de cobrir os eventos sociais da Casa Branca. A proibição, contudo, só ocorreu mais tarde, após o escândalo Watergate.

 

Telefonema dramático

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(//Divulgação)
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Após a proibição, a Suprema Corte Americana decidiu em favor da imprensa, por seis votos a três, ao considerar que a publicação dos Papéis do Pentágono não era um risco à segurança nacional. Na declaração, o juiz Hugo Black diz: “Na Primeira Emenda, os Fundadores da Nação deram à imprensa livre a proteção necessária para que ela cumpra seu papel essencial na nossa democracia. O papel da imprensa era servir os governados, não os governantes”. No filme, o trecho é ouvido pelo telefone pela jornalista Meg Greenfield, que o repete emocionada aos colegas de trabalho. A cena realmente aconteceu, porém, a pessoa ao telefone era outra repórter, Mary Lou Beatty, que não foi retratada no filme.

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