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Claudio Lottenberg Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Um ano de pandemia: o que esperar do futuro?

Apesar de tamanha tragédia humanitária, acredito que há motivos para falar em otimismo

Por Claudio Lottenberg
Atualizado em 25 mar 2021, 21h39 - Publicado em 23 fev 2021, 08h27
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  • O 25 de fevereiro é uma data para ser lembrada – infelizmente, não por um bom motivo. Aquele foi o dia, em 2020, em que registramos o primeiro caso de Covid-19 no território brasileiro. Um homem de 61 anos, que acabara de voltar de uma viagem a trabalho na Lombardia, Itália, começou a sentir sintomas típicos da doença – febre, tosse seca, dor de garganta. Ele se dirigiu ao pronto-socorro do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, na segunda-feira. Foi testado. No dia seguinte veio o resultado positivo. Naquele 25 de fevereiro, enquanto o Brasil inteiro aproveitava, despreocupado, o último dia do Carnaval, soubemos que o coronavírus havia oficialmente desembarcado em nosso país.

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    Estamos nos aproximando do primeiro aniversário da pandemia no Brasil. Que balanço devemos fazer desses doze meses em que o país foi aprendendo, de forma dolorosa, a conviver com uma nova doença?

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    Antes de qualquer outra coisa, é preciso lamentar as vidas perdidas. Naquele longínquo 25 de fevereiro de 2020, o mundo inteiro registrava pouco mais de 80 mil casos de Covid-19 e cerca de 2.800 mortes – a maioria delas ainda concentrada na China. Um ano depois, contabilizamos globalmente 2,4 milhões de mortes. O Brasil é um dos países mais afetados. Ao longo do nosso primeiro ano de pandemia, perdemos mais de 240 mil compatriotas.

    Diante de tamanha tragédia humanitária, pode soar estranho falar em otimismo, mas acredito que há, sim, motivos para isso.

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    Presenciamos, por exemplo, o esforço dos profissionais de saúde no combate ao coronavírus em todas as frentes. Graças à dedicação de médicos e enfermeiros, aprendemos muito sobre o comportamento da doença ao longo desse ano e, consequentemente, conseguimos reduzir significativamente sua letalidade. O paciente que chega hoje ao hospital com um quadro sério de Covid-19 tem muito mais chances de sobreviver do que há um ano atrás.

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    No front da pesquisa, vimos resultados talvez ainda mais impressionantes. Cientistas do mundo inteiro se uniram e conseguiram desenvolver, em tempo recorde, múltiplas vacinas para o coronavírus. É um feito sem precedentes. Nunca antes a humanidade conseguiu identificar uma nova doença e, em menos de doze meses, criar uma vacina para ela. Daí o meu otimismo: agora, com o início mundial das campanhas de vacinação, podemos de fato vislumbrar uma luz no fim do túnel da pandemia.

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    Ainda assim, não se pode encarar a questão com ingenuidade. Tudo indica que precisaremos conviver com o coronavírus por um bom tempo e, especialmente após o surgimento de novas mutações do vírus, é possível que a Covid-19 se torne uma doença endêmica no Brasil. Isso significa que, mesmo após o fim da pandemia, ela não desaparecerá, tornando-se mais uma das enfermidades com as quais precisamos lidar – como é o caso da gripe, por exemplo. Nesse primeiro aniversário da pandemia, já podemos, sim, esperar que os casos de Covid estarão sob controle num futuro próximo, mas ainda é cedo para sonhar com a erradicação do coronavírus.

    Isso reforça como a telemedicina pode ser importante para que enfrentemos o desafio de conviver com o coronavírus por um período longo. Em um país continental como o Brasil, o acesso remoto a atendimento médico pode ser um dos instrumentos do poder público para identificar, conter e tratar focos de transmissão da Covid-19. A ideia não é nova – nos Estados Unidos, por exemplo, a telemedicina é regulamentada desde 1996 – mas o Brasil ainda tem um longo caminho pela frente. Precisamos construir uma infraestrutura de comunicação adequada e também estabelecer critérios de qualidade, segurança e confidencialidade para o serviço de telemedicina. Só então ele poderá ser amplamente difundido em território nacional. A boa notícia é que a pandemia acelerou muito esse processo, fazendo com que a prática, até pouco tempo desconhecida e encarada com suspeita, venha sendo utilizada por parcelas cada vez maiores da população.

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    De toda forma, uma coisa é indiscutível: o caminho que nos levará para fora da crise sanitária passa, necessariamente, pela imunização em massa. Nosso país ainda vacina pouco sua população, mas é possível melhorar esse quadro. Em primeiro lugar, é preciso diversificar a oferta de vacinas, dando celeridade ao processo de aprovação de imunizantes que já se mostraram seguros e eficazes segundo agências de controle de renome global. Em segundo lugar, é provável que os países ricos passem a exportar parte de seus estoques de vacinas à medida em que terminam de imunizar suas próprias populações. O Brasil, foco de atenção do mundo inteiro, deve ser um dos destinos desses lotes excedentes.

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    Por fim, é preciso incluir a iniciativa privada no esforço de vacinação, permitindo que, a partir de um cronograma federal e de critérios claros de prioridade, hospitais particulares possam adquirir doses de vacinas e acelerar a imunização da população.

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    Neste 25 de fevereiro de 2021, que possamos olhar para o último ano com tristeza e respeito, mas também com orgulho do impressionante esforço humano que foi empreendido no combate ao coronavírus. Um esforço que agora nos permite, após um ano de pandemia no Brasil, olhar para o futuro com algum otimismo.

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