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A Origem dos Bytes Por Filipe Vilicic Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Por que a foto de um ovo virou a mais curtida da internet?

O viral do Instagram exibe como a rede virou um ambiente caótico de superficialidades – mas ainda assim capaz de eleger ovos e presidentes

Por Filipe Vilicic 14 jan 2019, 15h26
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  • O povo da internet pode fazer qualquer coisa. Por exemplo (e não espere que isso faça total sentido), fazer com que uma foto de um ovo – um ovo qualquer, nem é um Fabergé – se torne a mais curtida da história do Instagram. E nem tem uma celebridade segurando o ovo. Nem um bebê quebrando o ovo. Nem um gato derrubando o ovo de uma prateleira. Nada disso. É apenas um ovo acompanhado de uma meta ambiciosa: “Vamos superar um recorde mundial juntos e virar o post mais curtido no Instagram”.

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    No momento em que escrevo este post, o ovo já atraiu o clique de 30 milhões de pessoas. Não tão menor que a população da Argentina. Se todos fossem colocados numa cidade, já seria a segunda mais populosa do planeta. No quesito virtual, superou uma foto da celebridade Kylie Jenner com sua filha recém-nascida.

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    Não se sabe ao certo quem publicou a foto do ovo. Pode ter sido um golpe de marketing. Ou é fruto de um estudo acadêmico? Será que é sacada de algum desses influenciadores digitais? Neste momento, qualquer coisa é especulativa. O que importa é o significado da foto do ovo.

    A internet surgiu, nos idos das décadas de 1980 e 1990, pelo desejo de democratizar a informação e unir as pessoas de diferentes culturas. A ideia era disseminar o conhecimento e, por isso, não por acaso o conceito de “www” foi criado pelo físico inglês Tim Berners-Lee, antes de tudo, na tentativa de facilitar a comunicação entre cientistas.

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    Só que aí veio o século XXI. O cenário virtual se tornou um caos. O mais inusitado é que, no início da internet, ela era representada por uma multiplicidade de blogs, sites etc., sendo que a navegação por ela era igualmente diversa. Nos anos de 2000 em diante, a anarquia imperou, só que toda ela organizada em poucos sites de buscas (e o Google impera) e só algumas redes sociais (reino de Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, WhatsApp). Sendo assim, a web se tornou um pandemônio concentrado em uns pouquíssimos endereços – que, para boa parte da população online, representam tudo o que se sabe da internet no dia a dia.

    Nesse contexto pipocaram os virais. De dancinhas, celebridades, bebês mordendo os dedinhos da mão ou gatos tocando piano. Inaugurou-se a era na qual não mais importa, à grandíssima maioria, aquele objetivo primário de democratizar a informação e o conhecimento. O que vale é ter mais seguidores e curtidas, a qualquer custo. Às favas com o valor da informação (daí que se dissemina o fenômeno das fake news, por exemplo), do conhecimento (se dizer que a Terra é plana dá mais likes, é o que muitos youtubers fazem) e da democracia.

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    É nesse cenário que a foto do ovo viraliza. Não se engane, não é qualquer coisa que pode viralizar. E não é fácil viralizar online. Tem de ser tão besta quanto a foto de um ovo querendo tirar o posto de uma celebridade no ranking dos retratos mais curtidos numa rede social do momento. A armadilha perfeita para atrair o típico ser humano do século XXI. O, repito, interessado tão-somente em likes e followers (mesmo se ambos forem ilusórios, feitos de e por bots, ou frutos daquelas táticas narcisistas de “troco likes / troco seguidores”).

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    A foto do ovo não é pouca coisa. Trata-se de uma tradução da internet como é hoje. Ou seja, resume o mundo no qual vivemos a maior parte de nossos dias (e isso vale para a maioria das pessoas). Também retrata a força babélica da internet, capaz de eleger e findar com virais, heróis e vilões de um minuto para o outro. É a era do caos frívolo – mas um “frívolo” capaz até de eleger presidentes e alimentar fortunas de youtubers – e virtual.

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