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Antigo golfinho gigante é descoberto na Amazônia

Com 16 milhões de anos, o fóssil ajuda a remontar o processo de evolução das espécies aquáticas na Bacia Amazônica

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 mar 2024, 21h53 - Publicado em 20 mar 2024, 15h27

Em uma descoberta que redefine parte da história dos mamíferos aquáticos, uma equipe de paleontólogos da Universidade de Zurique revelou uma nova espécie de golfinho de água doce na densa selva amazônica peruana. Com dimensões notáveis, podendo ultrapassar os 3 metros, e uma idade estimada em 16 milhões de anos, o Pebanista yacuruna, batizado em homenagem a um mítico povo aquático da bacia amazônica, aparece como uma figura curiosa dos antigos rios da floresta.

Os golfinhos fluviais são espécies raras e ameaçadas, tornando esta descoberta ainda mais extraordinária. Mais notável ainda é o fato de que, embora extinto há milhares de anos, o animal ainda mantém relações de parentesco com espécies distantes, e não apenas temporalmente. Seus parentes mais próximos podem ser encontrados hoje apenas nas águas tropicais do sul da Ásia.

Um Passado de Transformações Ambientais

A nova espécie de golfinho pertence aos Platanistoidea, um grupo que prosperou nos oceanos entre 24 e 16 milhões de anos atrás. Os pesquisadores acreditam que seus ancestrais marinhos invadiram ecossistemas de água doce ricos em presas na proto-Amazônia e se adaptaram a esse novo ambiente.

“Há dezesseis milhões de anos, a Amazônia peruana era muito diferente do que é hoje”, diz em nota Aldo Benites-Palomino, do Departamento de Paleontologia da Universidade de Zurique e principal autor do estudo. “Grande parte da planície amazônica era coberta por um grande sistema de lagos e pântanos chamado Pebas.” Esta paisagem incluía ecossistemas aquáticos, semi-aquáticos e terrestres (pântanos, várzeas, etc.) e estendia-se pelo que hoje é a Colômbia, Equador, Bolívia, Peru e Brasil.

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Quando o sistema Pebas começou a dar lugar à Amazônia moderna, há cerca de 10 milhões de anos, novos habitats fizeram com que as presas de Pebanista desaparecessem, levando o golfinho gigante à extinção. Isso abriu um nicho ecológico que foi explorado pelos parentes dos atuais botos do rio Amazonas, que também enfrentavam a extinção nos oceanos devido ao surgimento de novos cetáceos, como os modernos botos oceânicos.

Uma Surpreendente Relação de Parentesco

A descoberta do Pebanista não é apenas uma revelação sobre um mamífero pré-histórico, mas também oferece informações valiosas sobre a evolução e adaptação dos golfinhos de água doce. Surpreendentemente, seus parentes mais próximos não são os botos da Amazônia, como se poderia esperar, mas sim os golfinhos do sul da Ásia (do gênero Platanista).

Pebanista e Platanista compartilham cristas faciais altamente desenvolvidas, que são estruturas ósseas especializadas, associadas à ecolocalização – capacidade de “ver” emitindo sons de alta frequência e ouvindo seus ecos, dos quais dependem fortemente para caçar. Nos golfinhos de rio essas características são ainda mais essenciais, já que essas espécies navegam sob águas lamacentas que muitas vezes impedem a visão.

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Desafios da Paleontologia na Selva Amazônica

Segundo os pesquisadores, que investigam espécies amazônicas há mais de 20 anos, o golfinho gigante é o primeiro do gênero que encontraram. A raridade, entre outras coisas, se deve aos desafios da pesquisa paleontológica na selva tropical, tarefa que exige precisão e paciência. Na busca por fósseis, os paleontólogos enfrentam não apenas a densa vegetação, mas também as variações extremas no nível dos rios, que escondem tesouros pré-históricos de maneira imprevisível.

Foi durante uma dessas expedições desafiadoras que o holótipo (único exemplar físico no qual se baseia a descrição e o nome de uma nova espécie) do Pebanista foi descoberto, um crânio gigante que revelou uma parte importante do quebra-cabeça evolutivo desses animais.

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