Santos: tragédia de Campos marcou a cidade
Cenário do desastre aéreo que matou Eduardo Campos e outras seis pessoas na quarta, município do litoral paulista vive clima de perplexidade e comoção
No dia seguinte à morte de Eduardo Campos, o clima em Santos é de perplexidade e consternação pela tragédia que silenciou o país – e, particularmente, a cidade do litoral paulista. A queda do jato em uma área residencial e tranquila do município seria por si só motivo suficiente para chocar os moradores. A morte de Campos no acidente, no entanto, colocou o desastre na lista dos mais tristes episódios da história política nacional. E deixou a sensação de que a cidade ficará marcada por muito tempo por essa tragédia.
“Todo mundo está abalado”, afirmou a moradora da cidade Rudinei Henriques, de 50 anos, que acompanhava a movimentação no local do acidente. “Santos é uma cidade tranquila. Essa fatalidade é algo que vai ficar marcado”, lamentou.
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O desastre aconteceu em uma área residencial do bairro do Boqueirão, perto do cruzamento entre as ruas Alexandre Herculano e Vahia de Abreu. Apesar de estar próxima a uma importante avenida de Santos, a Washington Luiz, a região tem pouco movimento, com pequenos comércios e poucos prédios altos – algo que contribuiu ainda mais para a incredulidade de quem acompanhou de perto o acidente. “A queda de um avião no seu quintal, com uma pessoa importante a bordo… Não tem como cair a ficha”, disse o empresário Fabrício Rodrigues Simões, de 39 anos, filho da moradora de um dos sobrados atingidos pela aeronave.
Além da tristeza pelas mortes das sete pessoas a bordo, os moradores de Santos também lamentam as trágicas circunstâncias que colocaram o município – local de nascimento do patriarca da Independência, José Bonifácio – como cenário do acidente aéreo que abreviou a carreira de um político jovem e promissor, em plena campanha presidencial. “Santos é muito bairrista. É uma cidade que todo mundo gosta de morar e de defender. A gente não queria ver Santos na televisão dessa maneira”, disse Fabrício, que declarou que tinha a intenção de votar em Eduardo Campos.
Apesar da consternação na cidade, o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), destacou o clima de solidariedade. “O povo santista é muito generoso. As pessoas estão se ajudando, o nosso povo tem essa marca, essa característica”, afirmou, na tarde desta quinta-feira, enquanto acompanhava os trabalhos de busca no local. Barbosa também ressaltou que, pelas proporções do desastre, a tragédia poderia ter sido pior. “Poderíamos qualificar como um milagre o que aconteceu. Uma área residencial como esta, um avião com essa dimensão cair aqui e não deixar nenhuma vítima em solo.”
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Em uma das bancas mais tradicionais do bairro, a “banca do Messias”, os jornais informavam nesta quinta sobre a fatalidade ocorrida no quarteirão ao lado. “Estão todos perplexos”, contou o dono do local, Messias, de 59 anos, que testemunhou desde cedo a reação dos moradores. “Acidentes sempre acontecem, mas nessas proporções, com uma aeronave, ninguém imaginava que ia acontecer por aqui”, comentou. Nos mostruários com os jornais, uma manchete chamava a atenção. O diário local A Tribuna era o único a não citar nominalmente Eduardo Campos em seu destaque principal. Compreensivelmente, o periódico optou pela manchete que sintetiza o sentimento de todos na cidade: “Tragédia em Santos”.