Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Por R$ 20 mil, policiais do Rio não prenderam irmão de chefe de milícia

E agora, dois anos depois, Polícia Civil faz operação para apreender bens e imóveis dele

Por Leandro Resende
Atualizado em 15 fev 2019, 17h45 - Publicado em 15 fev 2019, 17h41
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Alvo de operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrada nesta quinta-feira, 15, o miliciano Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, foi detido pela corporação durante algumas horas há pouco mais de dois anos, em janeiro de 2017. Zinho é irmão de Wellington da Silva Braga, o Ecko, atual líder da Liga da Justiça, milícia que atua na Zona Oeste da capital fluminense. Flagrado cometendo crime ambiental e mesmo com um mandado de prisão em aberto por participação em organização criminosa, pagou R$ 20 mil em propina para os policiais civis que o levaram. E segue foragido.

    Publicidade

    Relatório produzido pelo setor de inteligência da extinta Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, obtido por VEJA, revela os detalhes daquele acerto, e mostra como a policiais civis agiram para não prendê-lo.

    Publicidade

    O documento está nos autos da segunda fase da Operação Quarto Elemento, deflagrada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em agosto do ano passado para desarticular uma quadrilha de policiais que se organizava para identificar criminosos e extorqui-los. Foram presas 43 pessoas.

    No caso de Zinho, o flagra se deu enquanto ele cometia um dos crimes mais lucrativos para milícias fluminenses: a exploração irregular do solo, para posterior venda de lotes ou construção de prédios irregulares. No dia 06 de janeiro de 2017, uma equipe da 36ª DP passou por um terreno na altura do bairro de Paciência e estranharam a presença de um Porsche Cayenne – veículo cujo modelo mais barato custa 420 mil reais – em um terreno em que máquinas estavam revirando o solo.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Lá encontraram Zinho, irmão de Ecko e de Carlinhos Três Pontes, então chefe da Liga da Justiça, morto em agosto de 2017. À época, Zinho já era condenado a mais de 16 anos de prisão por participar da milícia, e tocava a empresa de terraplanagem, a Macla Extração de Comércio de Saibro, usada pela milícia para prática de crimes como extração ilegal de areia e barro, bem como loteamentos irregulares.

    Levado para delegacia, Zinho negociou por cerca de três horas com o policial civil Ricardo da Costa Canavarro, conhecido como Ricardinho. Mesmo alertado pelo miliciano que a quadrilha já pagava propina mensal para 36ªDP, Ricardinho não desistiu e inventou que Zinho era alvo de outra investigação, como forma de conseguir aumentar o valor da “fiança”. No fim das contas, conseguiu 20 mil reais, que foram divididos entre ele e mais quatro policiais – incluindo dois delegados, Thiago Luís e Rodrigo Santoro.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Pouco depois da “prisão” de Zinho, informantes da milícia entraram em contato com Delmo Fernandes, policial civil que tinha participação ativa no esquema de corrupção. Assustado com a repercussão da captura do miliciano dentro da própria Polícia Civil, ele enviou mensagens de áudio para Ricardinho:

    Delmo (12:04hs): Olha só, acho melhor cara, olha só “compade”, antes de você fazer qualquer coisa com relação a algumas, ai cara, tú tem que falar comigo! Entendeu RICARDINHO? Se não essa porra vai dar..

    Publicidade

    Delmo (12:04hs): Entendeu “compade”? Tem que falar, tem que resolver essa porra aqui, que está um disse me disse, toda hora fica nego me ligando ai, essa porra vai acabar dando problema. Entendeu? Acho melhor a gente…

    Continua após a publicidade

    Delmo (12:04hs): Organizar isso aí, que isso ai é capaz de dar problema. Quem, qual foi o problema aí, cara, o que vocês pegaram aí?

    Publicidade

    Delmo (12:05hs): É, mas tem que ver isso “compade”, tem que ver isso aí, isso aí, isso ai vai dar problema, cara, eu acho melhor… Entendeu? Toda hora ligando, essa porra acabar vai acabar dando merda ai, sabe que essas porras dão…

    Delmo (12:07hs): Pô cara, fala para os seus amigos aí, teus informantes aí que eu quero é prisão, cara, agora é, porra, essas “caozadas” aí meu parceiro só trás problema. Entendeu? E daqui a pouco nego está arrumando pica para gente aí.

    Continua após a publicidade

    Delmo (12:07hs): … bem o que aconteceu lá, lá, lá na 34DP. Entendeu?

    Delmo (12:07hs): Você tá arrolando geral aí , daqui a pouco você está arrumando pica aí.

    Delmo (12:09hs): Vou ter que travar, RICARDINHO. Entendeu? Vou ter que travar esse tipo de trabalho. Entendeu? Isso aí, meu irmão, é só dor de cabeça, parceiro, só dor de cabeça. Entendeu? No final é uma merre…

    Continua após a publicidade

    Delmo (12:09hs): Merreca do caralho, e é só dor de cabeça parceiro, se for assim vou ter que travar esse tipo de trabalho.

    O relatório também mostra que, conscientes da importância do preso, os policiais da 36ªDP agiram para tirar o nome de Zinho dos registros: alteraram duas vezes o registro da ocorrência e apagaram do sistema o depoimento em que o miliciano admitia envolvimento com a exploração irregular do terreno em que foi abordado.

    Ricardinho, Delmo e os outro policiais foram presos no âmbito da Operação Quarto Elemento. Mas Zinho e Ecko, líderes da Liga da Justiça, continuam soltos.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.