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‘Me arrependo todos os dias de ter ido morar lá’, diz vítima da Muzema

Paloma Paes Leme perdeu três filhos e o marido. VEJA desta semana mostra que prédios continuam subindo irregularmente na área em que dois caíram em abril

Por Leandro Resende
Atualizado em 31 Maio 2019, 08h25 - Publicado em 31 Maio 2019, 08h00

Paloma Paes Leme, 45 anos, completa nesta sexta-feira (31) 49 dias sem pisar no chão. A perna esquerda foi esmagada quando seus sonhos foram destruídos junto dos dois prédios que vieram abaixo na favela da Muzema, Zona Oeste do Rio de Janeiro, no mês passado, deixando 24 mortos. Dentre eles, três de seus quatro filhos e o marido, Raimundo Nonato do Nascimento, 41 anos. Deitada ao lado do único filho sobrevivente, Rafael, de 4 anos, em uma enfermaria de hospital público na Zona Sul do Rio, e com diversas cicatrizes pelo corpo, ela ainda não acredita no que aconteceu.

“Preciso chorar às vezes. Fiquei alguns dias sem pensar nisso, mas não posso esquecer. A minha vida acabou do nada”, contou Paloma, Ela já passou por duas cirurgias e deve passar por pelo menos mais uma, para reconstruir o membro. Rafael foi operado e está de alta, mas não desgruda da mãe. Ambos estão sozinhos. “A noite anterior ao desabamento foi perfeita. E agora não sei o que fazer. Me arrependo todos os dias de ter ido morar lá”, reflete, sempre aos prantos, a copeira hospitalar desempregada há quatro anos.

27/05/2019 – Rio de Janeiro – RJ – Sobrevivente da queda de prédio na Musema, Zona Oeste do Rio de Janeiro, Paloma Paes Leme Barroso e seu filho, no Hospital Miguel Couto (Marcos Tristão/VEJA)

Reportagem da edição impressa de VEJA nesta semana mostra que edifícios como o que Paloma morava continuam subindo na Muzema, área dominada pela milícia. Ela conta que percebeu instabilidade no edifício, dentro do Condomínio Figueiras do Itanhangá, tão logo chegou. Meses antes da tragédia, o marido de Paloma deu o carro popular que tinha de entrada para a compra do apartamento, localizado no sétimo andar. “Não compramos nada de miliciano, compramos de uma pessoa que vendia os apartamentos, não lembro de quem”, recorda.

A Polícia Civil já conseguiu prender Rafael Gomes da Costa, um dos suspeitos de ter vendido apartamentos nos prédios que caíram. Dois outros homens estão com prisão decretada, mas seguem foragidos: Renato Siqueira Ribeiro e José Bezerra de Lima, o ‘Zé do Rolo’, suspeito de ter sido o responsável pela execução das obras. Os três são investigados por suspeita de envolvimento com milicianos da região e já foram indiciados por homicídio doloso qualificado.

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Na procura por ‘Zé do Rolo’, a polícia do Rio trabalha em parceria com investigadores de Pernambuco e da Paraíba. Familiares dele prestaram depoimento e afirmaram não saber de seu paradeiro. No inquérito, sobreviventes da tragédia relataram uso de material de baixa qualidade na construção, e que os andares superiores eram erguidos à medida que os inferiores eram ocupados. As investigações também já revelaram que os três suspeitos possuem apartamentos em outros locais da Muzema.

Quando ouviu o estrondo, Paloma conseguiu descer com Rafael no colo do sétimo para o sexto. Sob os escombros, ouviu os bombeiros dizendo que ela seria salva. “Não sei quanto tempo fiquei presa ali embaixo. Às vezes acho que ainda estou ali embaixo. Preciso de ajuda. Será que a prefeitura não poderia fazer nada? ”, pede.

De acordo com a prefeitura do Rio, nenhum morador da Muzema procurou os órgãos responsáveis pela concessão do auxílio habitacional temporário, que pode ser dado para famílias de renda de até 1 800 reais.

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