Saber que há mais espectadores do outro lado da tela faz muito bem aos candidatos. Os postulantes ao Palácio da Cidade se prepararam, não erraram no tempo e pareciam muito diferentes dos que, dois dias atrás, se enfrentaram na Rede Record. Com a sorte de ter sido o primeiro sorteado a fazer perguntas no bloco de tema livre do debate da Rede Globo, o candidato Marcelo Freixo, do PSOL, segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto no Rio de Janeiro, repetiu a dobradinha com o democrata Rodrigo Maia para atacar a gestão de Eduardo Paes na cidade. Freixo teve, desta vez, a sorte que faltou a ele nos três primeiros debates, quando não conseguiu dirigir perguntas ao candidato à reeleição. E usou, enfim, a compra de apoio político do PTN pelo PMDB, partido de Paes, para espetar o prefeito – favorito nas pesquisas de intenção de voto, com 57% segundo o Datafolha divulgado na quinta-feira. Freixo tem 20%.
O peemedebista manteve sua linha de defesa: afirmou que a revelação do vídeo em que o presidente estadual do PTN afirma que negociou o apoio por 1 milhão de reais, feita por VEJA, é “denuncismo de última semana de campanha”; e disse que é normal a concessão de material de campanha a candidatos a vereador. Freixo insistiu nas acusações, e recebeu também ataques de Paes, que acusou o deputado estadual do PSOL de não controlar quem se candidata pelo partido, lembrando o caso de Berg Nordestino, citado no relatório da CPI das Milícias, presidida por Freixo.
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Eduardo Paes tratou, então, de arrefecer os ânimos, perguntando para Otávio Leite. O objetivo era, obviamente, usar o tempo de réplica para falar de programas da prefeitura. Otávio, que no debate da Record poupou Eduardo Paes, foi presenteado com um espaço para falar de seus programas. Enrolou-se, usando mal o tempo e fazendo um ataque sem efeito contra a educação infantil. E repetiu seu mantra: colocar dois professores por sala de aula nas escolas da rede municipal.
O formato adotado pela Rede Globo permitiu equilíbrio, com dois blocos de tema livre – quando surgiam os ataques diretos – e um de temas preestabelecidos, quando as ideias de cada um eram expostas de forma mais sóbria. Eduardo Paes só perguntou para Aspásia Camargo (que tem 2% das intenções de voto) e para Otávio Leite, devolvendo ao tucano a “cortesia” do último debate: Otávio, no encontro da Record, chegou a irritar os adversários por não dirigir perguntas incômodas a Paes.
No quarto bloco, Freixo, ao ser informado que não poderia perguntar ao prefeito, que tinha começado a rodada de questões, chegou a brincar. O tema em pauta era transporte, conforme sorteio da emissora. “Que sorte, hein?”, ironizou Freixo, que acabou escolhendo Rodrigo Maia para debater o assunto. Os dois, claro, miraram em Paes, criticando o que chamaram de cartel das empresas de ônibus que atuam no Rio.
Maia voltou a dizer que as empresas de ônibus pagam apenas 0,01% de imposto sobre serviço. Na tréplica, Freixo criticou a Fetranspor (sindicato das empresas do estado) e afirmou que o prefeito tem “uma submissão profunda à federação dos transportes do Rio”. Mais uma vez, aproveitou a deixa para pedir que a população ajude a levar a eleição para o segundo turno. “Precisamos de um prefeito que olhe a população. Por isso o segundo turno é importante”, disse Freixo.
Irritação – Eduardo Paes manteve-se sorridente. Mas subiu o tom sempre que foi provocado por Freixo e Rodrigo Maia, que repetiram várias vezes a compra de apoio do PTN pelo PMDB, revelada por VEJA. “É tanto ataque que tenho que comentar. O trio Maia, Garotinho, Freixo trabalhando…”, disse, aproveitando para ligar Marcelo Freixo a Cesar Maia e a Anthony Garotinho.
A três dias do pleito, os objetivos dos candidatos ficaram mais claros. Paes, que tem ampla vantagem e caminha para decidir o pleito no primeiro turno, fez seu comercial: citou secretários importantes, programas de sua gestão e usou as perguntas a Aspásia e Otávio Leite para falar dele próprio nas réplicas. Marcelo Freixo, o único com chances – remotíssimas, deve-se dizer – de forçar um segundo turno, apelou para os eleitores, frisando a importância de adiar a decisão e empurrar o pleito para a fase em que os tempos de TV são iguais.
Otávio Leite fez, ao se despedir, um discurso que projeta uma próxima eleição para o Legislativo, reforçando sua atuação em defesa das pessoas com deficiência e dos idosos. Rodrigo Maia cumpriu, como pode, o papel de atacar Paes – o democrata conseguiu a façanha de iniciar a campanha com 7% e regredir para 3% -, como desejavam o pai, Cesar Maia, e Anthony Garotinho, pai de Clarissa, sua vice. Aspásia Camargo, praticamente admitindo o resultado que as pesquisas antecipam para o domingo, disse que seu papel “na campanha” era reforçar a necessidade de ações sustentáveis e o papel da mulher na política.
Leia a série de entrevistas do site de VEJA com os principais candidatos a prefeito:
Eduardo Paes: “A saúde é o desafio do Rio de Janeiro”
Marcelo Freixo: “Quem diz que governa para todo mundo mente para alguém”
Rodrigo Maia: “Até meu eleitor me conhece pouco”
Otávio Leite: “Sou um tucano em busca dos ninhos cariocas”
Aspásia Camargo: “O saneamento seria um ótimo legado da Olimpíada”