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“Até meu eleitor me conhece pouco”

Candidato do DEM à prefeitura do Rio rejeita comparações com o pai, o ex-prefeito Cesar Maia, e afirma que alinhamento político defendido por Eduardo Paes não beneficia o Rio

Por Cecília Ritto e João Marcello Erthal
27 ago 2012, 07h34

Horas depois de sua estreia no horário eleitoral gratuito como candidato a prefeito do Rio, Rodrigo Maia parece agitado. A maratona de campanha de um cargo majoritário é bem mais intensa e trabalhosa que as disputas para o legislativo, onde conhece de cor os percalços do caminho. Numa sala à espera de mais uma sessão de gravações para a TV, Rodrigo, que nesta eleição caminha de braço dado com a filha de um antigo desafeto político dos Maias no Rio – Clarissa, a candidata a vice, é filha do ex-governador Anthony Garotinho, do PR – fala com gosto da aliança, algo inimaginável para os eleitores até bem pouco tempo. “Ela tem 30 anos. Com 40, ninguém segura a Clarissa”, diz o democrata de 42 anos. Ter rejeição de 31% (segundo o Datafolha) e estar atrás nas pesquisas não intimida o representante do Democratas. “Sabemos que 80% dos eleitores não conhecem os candidatos, rejeição por enquanto não diz nada”, explica.

As comparações com o pai, o ex-prefeito Cesar Maia, que terminou seu último mandato em 2008 com desgaste acumulado, irritam Rodrigo. “O candidato sou eu”, lembra, em vários momentos. O ritmo das respostas acompanha a rotação de duas finas cordas que servem de puxadores da persiana da sala – um helicóptero imaginário que o candidato fez girar ao longo de quase uma hora na seguinte entrevista ao site de VEJA:

A aliança entre DEM e PR no Rio de Janeiro causou espanto e revoltou am ilitância dos dois partidos. Essa resistência está superada?

Em relação aos partidos, está tudo muito bem equacionado há muitos meses. Quanto ao cidadão, o programa eleitoral fará com que as pessoas compreendam a aliança e os nomes escolhidos. A televisão ajusta as diferenças. As pessoas rejeitam (a coligação) pela história de brigas e conflitos. Mas não conhecem os candidatos a fundo. Até meu eleitor me conhece pouco.

O senhor não citou o nome do seu pai, Cesar Maia, no último debate. Existe a intenção de se descolar dele durante a campanha?

Vou mostrar a minha biografia, e isso não significa que vou me afastar do meu pai. Pensar isso é ridículo. Ninguém vai terceirizar o voto. Nesse momento, estou apresentando minha própria biografia. Não significa que estou me afastando de alguém.

A sua trajetória política foi construída em nível nacional, como deputado federal. E hoje o senhor tem índice alto de rejeição na cidade. A que se deve isso?

Sem dúvida nenhuma a minha trajetória como político é 90% nacional. Estou desde 1997 em cargo público. Fiquei um ano e três meses como secretário do ex-prefeito Conde e 14 anos como deputado federal. Em relação à rejeição, as pessoas conhecerão como pensamos durante o processo eleitoral. Pesquisa serve para analisar, potencializar o que você é forte e tentar diminuir os problemas.

O que as pesquisas internas dizem sobre o senhor?

Ao cruzar as pesquisas, tenho maior receptividade pelo eleitor da zona oeste, parte da zona norte e pelos que usam o serviço público. Sou o segundo candidato preferido no segmento dos que usam a escola pública. Entre os que têm na famílias usuários da rede privada de ensino, o Marcelo Freixo (PSOL) é o segundo melhor colocado.

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O que um eventual governo Rodrigo Maia teria de semelhanças e diferenças com o de Cesar Maia, que governou o Rio três vezes?

O tratamento dado ao servidor público e a forma de controlar os gastos públicos são temas nos quais Cesar Maia é referência. Mas as pessoas são diferentes. Não sou igual a Cesar Maia e nem pretendo ser. Aliás, minha grande vantagem quando entrei na política foi ter compreendido que as pessoas não são iguais e não ter trabalhado para ser igual a ele ou copiá-lo.

A Cidade da Música foi o calcanhar de Aquiles do fim do governo Cesar. O senhor a teria construído? Qual atitude deve ser tomada pelo próximo prefeito?

Ela está construída. Não precisamos discutir esse assunto. A gente tem que abrir a Cidade da Música. É o melhor equipamento de cultura da América, que está fechado há quatro anos. A polêmica foi criada lá atrás, no final do governo dele (Cesar Maia) e no início do governo do Eduardo. Ninguém cobrou do Eduardo de forma correta o porquê de ele ter deixado um equipamento dessa qualidade parado. Ele não inaugura só para gerar desgaste para os outros. É uma política velha e atrasada para o Rio.

O governo de Cesar Maia ergueu um velódromo para o Pan-Americano de 2007 fora dos padrões olímpicos. Para 2016, a dúvida agora é sobre construir um novo equipamento ou reformar a estrutura. Como o senhor resolveria esse impasse?

Tudo o que havia sido dito à prefeitura do Rio, na ocasião, é que a forma como a estrutura estava sendo implantada respeitava as especificações das Olimpíadas de Atenas. O velódromo foi feito com baseado nas particularidades pedidas pelo Comitê Olímpico Brasileiro e pela Confederação de Ciclismo. Mas, se as especificações mudaram, a pista pode ser utilizada como equipamento para a cidade do Rio, independentemente dos Jogos Olímpicos. Não pode retirar o velódromo dali e transferi-lo para outra cidade. Se o custo de recuperá-lo como equipamento olímpico é tão alto, melhor usar para a equipe brasileira treinar. Levar para outra cidade porque o Eduardo tinha vendido aquele terreno para um especulador imobiliário qualquer é um desperdício. Há seis meses, quando mostraram, através da computação gráfica, como ia ficar o Parque Olímpico, ele já tinha vendido o terreno do velódromo. Mas a pressão foi tão grande que o Eduardo teve de recuar.

Os valor dos imóveis no Rio subiu de forma muito recentemente. O senhor vê a cidade acuada pela especulação imobiliária?

Há um projeto especulativo concentrado na Barra da Tijuca e no Porto. Aliás, o projeto do Porto é nitidamente comandado pela especulação imobiliária. A derrubada da perimetral não tem relação direta com a necessidade de abrir a área. Mas está diretamente relacionada à valorização dos terrenos para construção de salas comerciais. O caminho de todos os terrenos liberados hoje é sempre a especulação imobiliária. Isso acontece em áreas concentradas da cidade. Não há política de desenvolvimento do Rio de forma planejada, de adensamento da zona norte, expansão da zona oeste. Há uma linha de especulação integrada entre Sérgio Cabral e o secretario municipal de urbanismo (Sérgio Dias), que é um projetista e não um urbanista. É uma cabeça muito pró-mercado imobiliário.

Uma das principais bandeiras de campanha de Paes é o alinhamento entre as três esferas de poder.

Do ponto de vista administrativo a aliança é falsa. Fizeram aliança dizendo que resolveriam saúde, trânsito e segurança pública. Para quem essa aliança está sendo benéfica? As políticas públicas de Eduardo são mal avaliadas. A única coisa que as pessoas respeitam na pesquisa, apesar de começarem a questionar, é a aliança. A venda da aliança como ativo foi muito bem feita, desde 2008. O eleitor não vota nele porque a saúde melhorou, porque a educação melhorou ou porque o trânsito melhorou.

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Como o senhor avalia o projeto Rio 2016?

Não faria a Transoeste. Minha solução seria criar um veículo leve sobre trilho. O BRT inaugurou e já está lotado. É um caos às 6h. Além disso, é uma incoerência com a política nacional, que diz: ‘Coloque carro na rua, compre’. O governo do estado e a prefeitura estão na política de tirar o espaço do carro na rua. Um vende e o outro manda tirar o carro. As pessoas não usam trem porque não é confortável, não é seguro. A Transbrasil é prova disto: criará um sistema de ônibus articulado para dar aos empresários do setor em vez de investir em metrô e trem.

No primeiro debate na TV, ficou a sensação de que a oposição estava unida para ir ao segundo turno, independentemente do candidato que levasse a disputa para além do dia 7 de outubro. O senhor teve duas oportunidades de fazer perguntas ao Paes, mas rolou a bola para Marcelo Freixo, sobre temas confortáveis para o candidato. Por quê?

Não há nenhuma produtividade em eu bater no Freixo porque nossos eleitores são diferentes. Eu sou forte no segmento de até cinco salários mínimos e entre os quem usam rede pública de saúde e educação. O Freixo é forte na área privada, na zona sul, na classe média, na juventude. Mas também posso ter bom voto na zona sul porque as pessoas com até cinco salários mínimos representam cerca de 60% do eleitorado da região – a média do Rio é de quase 80% nessa faixa. O meu problema não é a cidade partida, mas a cidade desigual. Quem é a principal referência de gestor para o eleitor que avalia a cidade como sendo desigual? Somos nós, aí entra o Cesar Maia.

Clarissa Garotinho é a única referência evangélica na eleição de agora, para a prefeitura. Como estão os apoios desse segmento?

Não estamos querendo tratar isso como agenda de eleição. O posicionamento dos conservadores é muito crítico ao Eduardo (pela ampliação dos direitos dos homossexuais). Para os conservadores e para os católicos, ele avançou demais em alguns temas. Parte da cúpula da igreja evangélica não está confortável com o fato de ele ter colocado dinheiro só no último ano na Marcha para Jesus. Ficou muito claro o oportunismo. Há um caminho para crescermos no voto evangélico. Eles (a família Garotinho) são referências.

O crack tornou-se uma epidemia no Rio. Como o senhor analisa a política de internação compulsória para usuários?

O problema dessa política é o o local onde os viciados são alocados. O atual governo fechou o abrigo do centro e colocou as pessoas em Paciência, num local onde 70% são tuberculosas e 60% são dependentes químicos. E não há tratamento para o dependente químico. Isso não é recolhimento compulsório. É inventar um depósito de gente. Não sou contra o recolhimento, desde que sejam criados pequenos abrigos para morador de rua com estrutura para a pessoa ficar e ter sua inclusão social, se recuperar e se requalificar. Atualmente, o tratamento é feito de forma nazista.

Apesar de não ser um tema da alçada municipal, o senhor é favorável à descriminalização da maconha?

Sou radicalmente contra a descriminalização. Falar que maconha não faz mal é um debate ridículo e absurdo porque a porta de entrada para 60% das pessoas que usam outras drogas foi a maconha. Temos de enfrentar o tema como fizemos com o cigarro, quando reduzimos o consumo pela metade- saiu de 35% para 18%. Em vez de gastar 100 milhões de reais por ano em publicidade, a quantia podia ser investida em comunicação para prevenção a drogas, orientação e planejamento familiar.

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O que o senhor pensa sobre casamento gay?

Sou contra o casamento gay. Sou favorável ao contrato civil. O casamento é uma liturgia da Igreja católica e evangélica. Acho que é um confronto completamente desnecessário. Garantir os direitos de uma pessoa que construiu uma vida com a outra é legítimo. Mas o casamento eu sou radicalmente contra. Não consigo compreender uma adoção por duas pessoas do mesmo sexo. Adoção é um valor da família, do homem e da mulher.

O aborto volta e meia volta a ser discutido em campanhas. Qual sua posição?

Sou contra, com exceção dos casos previstos em lei.

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