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Maduro prepara sua reeleição sem rivais de peso

O ex-chavista Henri Falcón e o bispo evangélico Javier Bertucci concorrem em eleição com cartas marcadas; para opositores, ambos legitimarão o resultado

Por Da Redação
Atualizado em 19 Maio 2018, 08h00 - Publicado em 19 Maio 2018, 08h00

Em uma Venezuela em colapso econômico, o presidente Nicolás Maduro prepara sua reeleição, no domingo, em uma disputa sem rivais de peso, boicotada pela oposição e cujo resultado não será reconhecido por vários países das Américas e Europa. As cartas da eleição estão marcadas.

Poucos cartazes são vistos nas ruas de Caracas. Sem grande entusiasmo, 20,5 milhões dos 30,6 milhões de venezuelanos estão registrados para votar na eleição de apenas um turno, originariamente prevista para o final deste ano. A expectativa é de registro de maior taxa de abstenção da história do país, dada a desconfiança do eleitorado na lisura do processo.

Maduro é o favorito, apesar da reprovação de 75% dos eleitores. Os venezuelanos se mostram cansados da falta de alimentos, remédios, água, luz, transporte e segurança, do custo de vida elevado, do desemprego e da ausência de oportunidades. No país, o salário mínimo compra apenas meio quilo de carne.

Centenas de milhares de pessoas abandonaram a Venezuela com o agravamento da situação nos últimos anos. Há anos, a classe alta e segmentos da classe média vem escapando para o exterior. Em condições precárias, parte da população busca refúgio nos países vizinhos, entre os quais o Brasil.

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Mas Maduro controla o sistema eleitoral, impôs as regras que lhe seriam favoráveis para estas eleições e tem total apoio dos militares. Os partidos de oposição concentrados na Mesa de Unidade Democrática (MUD) decidiram não apresentar candidaturas, sob a premissa de que qualquer concorrente somente se prestará a legitimar a reeleição de Maduro para um novo mandato de seis anos.

Os rivais do presidente venezuelano são o dissidente do chavismo Henri Falcón (56 anos), ex-governador de Lara que ignorou o boicote à eleição determinado pela Mesa da Unidade Democrática (MUD), e o pastor evangélico Javier Bertucci (48), da igreja Maranatha.

Ambos disputam o chamado voto de punição ao governo, o que torna ainda mais provável o triunfo de Maduro, ex-motorista de ônibus de 55 anos que fez carreira política à sombra de Hugo Chávez e que foi escolhido pelo líder, em 2013, como seu sucessor.

Pesquisa do instituto Datanálisis aponta um empate técnico entre Maduro e Falcón – o primeiro, com 30% das intenções de voto, o segundo, com 26%.  A consultoria  Delphos mostra 43% para o presidente e 24% para o ex-chavista, enquanto a Hinterlaces aponta 52% a Maduro, contra 22% do ex-governador. Bertucci aparece com 20%.

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“As pessoas perderam a fé no protesto e no voto, por isto a apatia. O venezuelano está desconcertado e desesperançado. Estamos no pior momento da crise e do país”, disse o analista político Juan Manuel Raffalli.

Em apoio à MUD, os Estados Unidos, a União Europeia e os 14 países do Grupo de Lima, entre os quais o Brasil, afirmam que as eleições não serão livres nem transparentes. Também acusam Maduro de ser autoritário. Quatro meses de protestos da oposição em 2017, que deixaram 125 mortos, foram fulminados com a questionada eleição de uma Assembleia Constituinte, que governa o país com todos os poderes.

“Me irrita que digam ‘ditador’ (…). Não cederemos à chantagem. Não nos importa que não nos reconheçam: o presidente da Venezuela é eleito pelo povo, não Donald Trump”, reage Maduro.

A MUD, que venceu as legislativas de 2015, e seus líderes mais populares estão sem direitos políticos: Henrique Capriles, que Maduro derrotou com vantagem de apenas 1,5% na eleição presidencial de 2013, e Leopoldo López, estão sob prisão domiciliar.

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Para o cientista político Luis Salamanca, o presidente não aceitará uma derrota. “É uma eleição feita sob medida, mas é preciso ver se o traje ficará bem”, comentou.

A MUD acusa Maduro de “clientelismo”, pela promessa de premiar seus eleitores com o acesso a bônus e alimentos subsidiados. A cédula eleitoral foi desenhada para confundir o eleitor: traz dez retratos de Maduro, com cada partido que o apoio, quatro de Falcón e dois do bispo Bertucci.

Nos 14,5 mil centros de votação, eleitores tenderão a ser triados – em especial, para facilitar o acesso às urnas daqueles que têm o “carnét de la Pátria”, o cartão que dá acesso à população carente a cestas básicas a preços subsidiados.

“A aposta do regime é sair fortalecido da eleição para fazer mudanças com a Constituinte e instaurar um esquema mais controlável, como em Cuba”, disse o analista Benigno Alarcón.

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Ao lado da esposa Cilia Flores, Maduro prometeu uma “revolução econômica” para, desta vez, alcançar a prosperidade. Encerrou sua campanha em um comício no qual o ex-craque argentino Diego Maradona dançou no palco em seu apoio.

O país com as maiores reservas de petróleo do mundo está em ruínas: o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que a economia venezuelana registrou contração de 45% desde 2013 e calcula que em 2018 haverá um novo recuo, de 15%. A taxa de inflação alcança 13.800% ao ano.

A Venezuela e a petroleira PDVSA foram declaradas em default parcial em 2017. Para piorar, os Estados Unidos, que compram um terço da deprimida produção de petróleo do país, ameaçam com um embargo após as sanções que prejudicam a renegociação da dívida.

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“As perspectivas econômicas pioram com sanções internacionais adicionais”, adverte o Eurasia Group.

Resta ver se o isolamento transcenderá a “retórica”, aponta Michael Shifter, do think-tank Diálogo Interamericano, de Washington. Também há dúvidas se outros governos reconheceriam um eventual triunfo de Falcón, que propõe dolarizar a economia da Venezuela e aceitar “ajuda humanitária”.

“Os fatores chave serão a economia e o exército. O país é um barril de pólvora e algo poderia provocar uma agitação difícil de conter”, afirma Shifter.

(Com AFP)

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