Lewandowski autoriza inquérito sobre Pazuello por crise em Manaus
Investigação será conduzida pela Polícia Federal e deve ser concluída em até 60 dias, conforme ministro do STF. Ministro será ouvido em até cinco dias
O ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizou nesta segunda-feira, 25, a instauração de um inquérito para apurar a conduta do ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, na condução da pandemia em Manaus, que teve desabastecimento de oxigênio e mais de cinquenta mortos por asfixia nas últimas semanas.
“Assim, atendidos os pressupostos constitucionais, legais e regimentais, determino o encaminhamento destes autos à Polícia Federal para a instauração de inquérito, a ser concluído em 60 (sessenta) dias, conforme requerido pelo Procurador-Geral da República, ouvindo-se o Ministro de Estado da Saúde”, determinou Lewandowski.
A partir do momento em que for intimado, Pazuello deverá prestar depoimento em até cinco dias, em local, dia e hora a serem combinados entre ele e os investigadores. O ministro está em Manaus, sem data para voltar a Brasília.
No pedido ao STF, o procurador-geral da República, Augusto Aras, assinalou que embora tivesse havido um aumento no número de casos de Covid-19 na capital amazonense na semana do Natal, o ministro da Saúde só enviou representantes da pasta à cidade no dia 3 de janeiro.
Aras também afirma que havia uma recomendação anterior para que pacientes infectados fossem transferidos de Manaus a hospitais universitários em outras capitais, com 345 leitos à disposição, mas as primeiras remoções só foram efetivadas em 15 de janeiro, dia seguinte ao início do desabastecimento de oxigênio nas unidades de tratamento da cidade. A representação do procurador-geral ainda observa que o Ministério da Saúde distribuiu a Manaus 120.000 unidades de hidroxicloroquina, medicamento cuja eficácia no tratamento contra a Covid não é comprovada.
Na avaliação do chefe da PGR, diante do dever do ministro de agir com “celeridade e eficiência” para conter os danos da calamidade, uma inação sua pode configurar omissão e levar à responsabilização cível, administrativa e criminal.
Leia aqui a íntegra da decisão de Ricardo Lewandowski.
Tragédia anunciada
Reportagem de VEJA desta semana mostra que na crise de oxigênio, não foi por falta de aviso que a situação chegou a um ponto crítico. O secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêllo, descreveu da seguinte forma a gênese da tragédia: “Foi como se tivéssemos levado um xeque-mate da pandemia”.
No dia 7 de janeiro, ao ser avisado da situação pela White Martins, a principal fornecedora de oxigênio, ele ligou para Pazuello, que lhe pediu para acionar o Comando Militar da Amazônia. Obtido por VEJA, um ofício enviado no mesmo dia ao general Teóphilo de Oliveira fala em “iminência de esgotamento” e “urgência de pedido” para entrega de oxigênio em “até 24 horas”. A mobilização foi insuficiente, pois a demanda continuou crescendo em ritmo altíssimo. Na madrugada do dia 13 veio o aviso de colapso iminente da White Martins às autoridades. “Ficamos sabendo que, dentro de algumas horas, não teríamos oxigênio”, relata Campêllo.
Se na capital a situação está péssima, no interior o cenário também é drástico. Com a produção local sendo sugada para suprir a demanda de Manaus, municípios menores começaram a ter problemas no fornecimento de oxigênio. Em Coari, sete pessoas morreram por falta do produto na terça 19. O desabastecimento começou a atingir estados vizinhos. Em Faro, no Pará, o oxigênio acabou no mesmo dia e uma pessoa morreu em decorrência disso. Seis pacientes foram transferidos para cidades próximas.