Governo do Rio nomeia interventor para os bondes de Santa Teresa
Decisão inclui retirada do sistema da hierarquia da Secretaria de Transportes. Movimento deixa clara a má gestão que propiciou a tragédia com cinco mortos
À primeira vista, pode parecer solução. Mas não deixa de ser também confissão: o governo do estado do Rio indicou, na tarde desta terça-feira, um interventor para atuar na empresa que administra o sistema de bondes de Santa Teresa, onde morreram cinco pessoas e outras 57 ficaram feridas no último sábado. O sistema, gerido pela Central do Brasil, deixará a estrutura da secretaria de Transportes e ficará a cargo da Casa Civil. O presidente do Departamento de Transportes Rodoviários (Detro), Rogério Onofre, homem de confiança do governador Sérgio Cabral, comandará a intervenção nos bondes.
Governo do Rio já tem os culpados do bonde: os mortos e feridos
A medida radical confirma o que a até agora mal administrada crise dos bondes já evidenciava: a Secretaria de Transportes, sob o comando de Júlio Lopes, não vinha dando conta do problema. Lopes, que chegou a levantar suspeitas sobre o motorneiro morto no acidente e culpou a superlotação pela tragédia, sai enfraquecido do episódio.
Politicamente, é um péssimo desfecho para o chefe da pasta dos Transportes. Onofre e Lopes já disputaram poder nesse setor, e, apesar de estar hierarquicamente abaixo da Secretaria, o Detro, na gestão atual, sempre teve independência e diálogo direto com o governador.
Onofre tem, no currículo, um crédito importante com Cabral. Foi dele a gestão de choque responsável por amainar uma crise que era quase permanente no estado, a das vans ilegais, com todo tipo de irregularidade. Em entrevista à TV Globo, no inídio da noite, ele fez o que, até o momento, Lopes não tinha conseguido: falar em nome de Cabral. “A preocupação do governador é com segurança”, disse. “Tenho carta branca para agir e me reporto diretamente ao governador”, frisou.
Cabral parece, com a decisão, querer estabelecer o momento em que ele pôs a mão diretamente no problema. Mas a morte de cinco pessoas no acidente de sábado ainda deve render desgastes para o governador. O sistema de bondes é criticado há pelo menos uma década, e o histórico recente de problemas não deixa dúvida das deficiências de gestão. Em 2009, uma professora morreu depois que um táxi colidiu com uma das composições, causando com isso a perda do freio e um outro choque, dessa vez com um ônibus.
Em junho deste ano, um turista francês que tentava fotografar a cidade dependurado no estribo do bonde caiu dos Arcos da Lapa. O acidente foi agravado por uma falha na tela de proteção. Reportagem do site de VEJA flagrou, ao longo da linha do bonde, uma série de irregularidades e pontos de perigo de descarrilamento.
Ministério Público– O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro instaurou inquérito civil para apurar as circunstâncias do acidente envolvendo o bondinho de Santa Teresa. O objetivo da abertura do inquérito é levantar as condições de operação, manutenção, conservação e uso do bonde acidentado. A portaria foi assinada pelos Promotores de Justiça Carlos Andresano Moreira e Pedro Rubim Borges Fortes.
“A instauração do inquérito tem por base a garantia de direitos básicos do consumidor como a prestação adequada e eficaz dos serviços públicos”, diz a nota do MP. O órgão oficiou a empresa pública Central, a Secretaria Estadual de Transportes, a Agetransp, o Crea e outros órgãos envolvidos na apuração dos fatos.
LEIA TAMBÉM:
Bonde acidentado acumula oito idas à oficina por problemas nos freios