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Entidades religiosas exigem esclarecimentos de assassinatos na Amazônia

Católicos, evangélicos, judeus e islâmicos consideram que é preciso identificar e punir "rede criminosa" que matou jornalista e indigenista

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 19 jun 2022, 14h08 - Publicado em 18 jun 2022, 18h47

Em carta direcionada às autoridades brasileiras, representantes de diversas religiões pedem que elas atuem com rigor para que os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips sejam totalmente desvendados.

“Queremos, nesta ocasião, pedir, respeitosamente, que envidem todos os esforços necessários para que a rede criminosa que planejou, financiou e executou esses assassinatos seja prontamente identificada e punida, na forma da lei, de modo exemplar, para que se interrompa essa escalada de violência na Amazônia”, diz o documento.

Embora não cite textualmente a Polícia Federal, a carta deixa a entender que as lideranças religiosas não estão plenamente satisfeitas com o trabalho de investigação que já concluiu que não houve outros mandantes do crime, além dos três suspeitos já presos.

Amarildo Oliveira, conhecido como Pelado, e o irmão dele, Oseney Oliveira, o Dos Santos confessaram serem os autores dos homicídios. Jefferson da Silva Lima, que tinha o apelido de Pelado da Dinha, também é suspeito de participação, mas ainda não está claro qual papel ele teria no caso.

Os representantes das entidades religiosas consideram ainda que é preciso maior empenho das autoridades  para desmantelar as redes criminosas que atuam no Vale do Javari, como grileiros, garimpeiros, pescadores ilegais, narcotraficantes, entre outros. Eles também cobram que os órgãos do Estado sejam melhores aparelhados. “Entendemos que, para isso, é necessário reestruturar os órgãos públicos como a FUNAI, o IBAMA e o ICMBio e fortalecer os órgãos de segurança pública”, cobra o documento.

Assinam a carta o Reverendo Agnaldo Gomes, Diretor de Religiões Pela Paz Brasil; Padre Marcus Barbosa, Subsecretário Adjunto de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Pastora Romi Márcia Bencke, Secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC); Pastor Maruilson Souza, Membro do Conselho Coordenador da Aliança Cristã Evangélica Brasileira (ACEB); Sérgio Napchan, Diretor Geral da Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e o Sheikh Mohamad Al Bukai, Diretor de assuntos islâmicos na União Nacional das Entidades Islâmicas no Brasil (UNI).

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Leia o documento na íntegra:

Excelentíssimos Senhores

Luiz Fux, Presidente do Supremo Tribunal Federal
Rodrigo Pacheco, Presidente do Senado Federal
Arthur Lira, Presidente da Câmara dos Deputados
Humberto Eustáquio Martins, Presidente do Superior Tribunal de Justiça
Anderson Torres, Ministro da Justiça
Joaquim Leite, Ministro do Meio Ambiente
Márcio Nunes de Oliveira, Diretor Geral da PF

Na condição de lideranças religiosas brasileiras, oriundas das mais variadas tradições espirituais, integrantes do Conselho Consultivo da Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais do Brasil (IRI-Brasil), expressamos nossa profunda indignação e tristeza com o cruel assassinato do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, pegos por criminosos no dia 5 de junho, na região do Vale do Javari, estado do Amazonas.

Queremos, nesta ocasião, pedir, respeitosamente, a todos os senhores, como autoridades das mais altas esferas públicas do estado brasileiro, submissos ao intransigível dever de defender nossa Constituição, o estado de direito e a vida, que envidem todos os esforços necessários para que a rede criminosa que planejou, financiou e executou esses assassinatos seja prontamente identificada e punida, na forma da lei, de modo exemplar, para que se interrompa essa escalada de violência na Amazônia.

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Pedimos também que os senhores atuem conjuntamente para a adoção de medidas estruturais com a finalidade de proteger os povos indígenas, as comunidades locais e os defensores da floresta amazônica, como os jornalistas, cientistas, servidores públicos e lideranças sociais que atuam na região.

Nesse sentido, consideramos fundamental fortalecer o policiamento na região para desmantelar as redes criminosas que ali operam, tanto as envolvidas com o narcotráfico, o garimpo ilegal, e a exploração predatória da biodiversidade. Entendemos que, para isso, é necessário reestruturar os órgãos públicos como a FUNAI, o IBAMA e o ICMBio e fortalecer os órgãos de segurança pública.

Sabemos que essas medidas são viáveis de serem implementadas. Para tanto, é preciso tão somente comprometimento político e institucional para assegurar a plena garantia da proteção da floresta e dos povos originários, pois os senhores estão amparados pela Constituição Federal e pela sociedade brasileira para empreender essa urgentíssima tarefa. Os senhores têm não só a investidura pública, mas sobretudo a oportunidade histórica de mudar o rumo e as perspectivas da Amazônia e seus povos.

Queremos, por fim, manifestar nossa solidariedade aos familiares e amigos de Bruno e Dom e esperamos que a qualidade da resposta dos senhores ao clamor que a sociedade brasileira vem fazendo por justiça possa representar um consolo para as famílias enlutadas e uma esperança concreta de proteção para as milhares de pessoas que estão hoje, na Amazônia, na mira desses poderosos criminosos.

Atenciosamente,
Reverendo Agnaldo Gomes, Diretor de Religiões Pela Paz Brasil
Padre Marcus Barbosa, Subsecretário Adjunto de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB)
Pastora Romi Márcia Bencke, Secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
(CONIC)
Pastor Maruilson Souza, Membro do Conselho Coordenador da Aliança Cristã Evangélica
Brasileira (ACEB)
Sérgio Napchan, Diretor Geral da Confederação Israelita do Brasil (CONIB)
Sheikh Mohamad Al Bukai, Diretor de assuntos islâmicos na União Nacional das Entidades Islâmicas no Brasil (UNI)

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