As últimas operações da Polícia Federal contra a exploração ilegal de madeira na Amazônia terminam por escancarar ao país as fragilidades de fiscalização e na preservação do meio ambiente. Mas, a cada vez que uma ação dessa ocorre, a fama do setor madeireiro piora. Foi assim com a Operação Handroanthus GLO, deflagrada em dezembro do ano passado e apontada pela PF como a maior apreensão de madeira ilegal do país (220 mil metros cúbicos de toras).
Quem mais sofre — além do próprio bioma amazônico, é claro — é quem, ao contrário da maioria, segue à risca todas as normas. VEJA pediu ajuda a especialistas para encontrar empresas que explorassem a madeira de forma correta, apesar da monumental burocracia em questões relativas ao licenciamento ambiental, à política tributária e dos custos de logística do país. Sem que uns soubessem das respostas dos outros, quatro ambientalistas, de ONGs diferentes, indicaram a mesma companhia: a Mil Madeiras. Ela pertence à Precious Woods Holding, uma empresa suíça de capital aberto, fundada em meados da década de 1990.
“Há muitas dificuldades, mas certamente as principais seriam relacionadas à concorrência desleal do mercado ilegal de madeira, que inunda o mercado com madeira a preços aviltantes e que são impraticáveis para quem opera corretamente, principalmente para quem é sustentavelmente certificado”, explica Jeanicolau Simone de Lacerda, engenheiro florestal e assessor da Precious Woods Holding no Brasil.
As atividades da empresa são duplamente certificadas pelo FSC (sigla em inglês para Conselho de Manejo Florestal) desde 1997, sendo a primeira certificação na Amazônia, e também pelo PEFC (sigla em inglês para Programa de Endosso da Certificação Florestal), desde 2018.
O próprio consumidor pode tentar fazer sua parte em busca de fornecedores que se preocupam em realizar a extração correta da madeira, seguindo um plano de manejo adequado. “Para piorar, a grande maioria dos consumidores não valoriza a madeira certificada, que tem garantia de origem da madeira e de toda sua cadeia de custódia, transformando o produto certificado num mercado de nicho”, diz Lacerda.
A Operação Handroanthus GLO teve grande repercussão principalmente depois que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, resolveu se colocar do lado dos madeireiros alvos da ação. Ele colocou em xeque a apuração comandada pelo delegado Alexandre Saraiva, que, diante da atitude de Salles, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime contra o ministro. No dia seguinte, a PF anunciou que Saraiva deixaria de ser o superintendente da corporação no Amazonas. VEJA mostra na edição desta semana as irregularidades apontadas na apuração e como a ação chegou aos bastidores do poder em Brasília.