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Dom Paulo Evaristo Arns morre aos 95 anos em São Paulo

Arcebispo emérito de SP, símbolo de resistência à ditadura, estava internado desde o dia 28 de novembro com complicações pulmonares

Por Vagner Magalhães
Atualizado em 14 dez 2016, 14h50 - Publicado em 14 dez 2016, 12h33

O arcebispo emérito de São Paulo, cardeal dom Paulo Evaristo Arns, morreu aos 95 anos, nesta quarta-feira, na capital paulista. Ele estava internado desde o último dia 28 de novembro no Hospital Santa Catarina, tratando de complicações pulmonares decorrentes da idade, de acordo com um comunicado da Arquidiocese de São Paulo.

Filho de imigrantes alemães, dom Paulo nasceu em 1921 em Forquilhinha, na região de Criciúma, antiga colônia de imigrantes alemães em Santa Catarina. Após ser ordenado sacerdote em 1945, pertencia à ordem franciscana,  foi estudar na Universidade de Sorbonne, em Paris. Lá, estudou patrística (filosofia cristã) e línguas clássicas.

Dom Paulo ocupou o posto de arcebispo Metropolitano de São Paulo entre 1970 e 1998. Nesse período, notabilizou-se na luta pelos direitos humanos. Nos anos 70, quando a ditadura brasileira passou pelo período mais obscuro, não foram poucas as vezes em que ele se colocou contra o regime. Ganhou projeção na cena política em 1971, quando, já arcebispo, denunciou a tortura e morte de dois agentes da pastoral, o padre Giulio Vicini e a assistente social Yara Spadini. Respeitado por muitos e temido por alguns, dom Paulo tornou-se um símbolo de resistência. Denunciou as torturas nos quartéis, visitou presos em suas celas, liderou atos de protestos.

Símbolo da resistência

Em março de 1973, ele presidiu a “Celebração da Esperança”, em memória de Alexandre Vannucchi Leme, estudante universitário morto pela ditadura. Um ano depois, acompanhado por familiares de presos políticos, teve um encontro com Golbery do Couto e Silva, em que apresentou um dossiê sobre os casos de 22 desaparecidos. Nesse mesmo mês, ele havia sido nomeado cardeal pelo papa Paulo VI.

Um dos mais notórios atos de “desobediência ao regime” ocorreu em 1975, dias depois de o jornalista Vladimir Herzog aparecer morto em uma cela do DOI-CODI, em São Paulo. Oficialmente, o regime militar informou que Herzog teria se suicidado. Anos depois o governo reconheceu que Herzog foi vítima de tortura, causa real de sua morte. Após a morte do jornalista, dom Paulo comandou um ato ecumênico na praça da Sé, que reuniu cerca de 8.000 pessoas em memória de Herzog e causou grande apreensão ao regime.

Ao lado de dom Paulo estavam o rabino da Confederação Israelita Paulista, Henry Isaac Sobel, e o reverendo Jaime Nelson Wright, pastor presbiteriano. O ato foi considerado a maior manifestação pública de repúdio ao regime desde o início da ditadura.

Dois anos depois, quando cerca de 900 estudantes da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) foram retirados do campus da universidade pela Polícia Militar de São Paulo, dom Paulo retornou às pressas de Roma para se posicionar contrário ao que ele considerou uma arbitrariedade.

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Atuação política e social

O religioso também teve participação efetiva no projeto Brasil Nunca Mais, que foi realizado clandestinamente de 1979 a 1985. O resultado foi um relatório sobre 707 processos do Superior Tribunal Militar, que expôs a repressão política no Brasil.

O trabalho ganhou popularidade com a publicação do livro Brasil Nunca Mais, em 1985. Ele também foi uma das vozes das Diretas Já, um ano antes, quando a Emenda Dante de Oliveira, que previa eleição direta para presidente da República, foi derrotada no Congresso Nacional.

Dentro da Igreja Católica, dom Paulo atuou na criação da Comissão Justiça e Paz de São Paulo e incentivou as pastorais Operária e da Moradia. Com o apoio da irmã, Zilda Arns, que morreu no Haiti, durante o terremoto de 2010, criou também a Pastoral da Infância. O velório terá início no final da tarde na Catedral da Sé.

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