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Acusação: “Defesa mostra descontrole e nervosismo”

Advogada Ana Lúcia Assad, que defende Lindemberg Alves, acusa imprensa de incitar população contra ela; julgamento do caso Eloá chega ao terceiro dia com o depoimento do acusado, o mais esperado. Mãe de Eloá não irá ao Fórum

Por Cida Alves, de Santo André
15 fev 2012, 09h26

O advogado Ademar Gomes, assistente de acusação no julgamento sobre a morte de Eloá Pimentel, em outubro de 2008, disse nesta quarta-feira que a advogada do réu Lindemberg Alves, Ana Lúcia Assad, demonstra “certo descontrole e nervosismo”. A defensora acusa a imprensa de incitar a população contra ela. “A defesa mostra certo descontrole e nervosismo”, disse Gomes. “Mas a advogada é uma boa profissional, respeitada por nós”, ponderou. “Quem está sendo julgado não é a polícia nem a imprensa – é o Lindemberg”, completou José Beraldo, também assistente de acusação.

Ana Lúcia foi a protagonista do segundo dia de julgamento. Depois de inesperadamente recuar na intenção de arrolar a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, como testemunha depois de ameaçar abandonar o júri na segunda-feira, ela foi ameaçada de processo por desacato pela promotora Daniela Hashimoto ao dizer que a juíza deveria voltar a estudar. No momento mais tenso do dia, sob intensas vaias do público, teve de deixar o Fórum de Santo André, no ABC Paulista, pelos fundos na hora do almoço.

No fim da noite de terça, visivelmente nervosa, Ana Lúcia disse ter ficado incomodada com as notícias de que teria discutido com a mãe de Eloá – o que teria sido o estopim para ser hostilizada nas ruas. Agora, a advogada afirma ter medo de sair às ruas – culpa da imprensa: “Eu nunca discuti. Eu conversei com a juíza porque desisti de ouvir Ana Cristina, não me dirigi à mãe de Eloá. Estou sendo hostilizada por coisas que eu não falei”.

Em um comportamento no mínimo inusitado, a defensora voltou a ameaçar abandonar o júri e exibiu um colete à prova de balas no plenário para espanto dos presentes. Nesta quarta, ela voltou à carga: “Muitos jornalistas me atribuíram palavras que eu nunca falei e isso está colocando em risco a minha integridade física e a da minha equipe”, reafirmou, ao chegar ao Fórum. “Peço aos populares que não me hostilizem porque nao sou acusada nem ré: estou apenas garantindo o direito de Lindemberg a ter uma defesa técnica”.

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Apesar das ameaças de pedir a anulação do júri, a advogada garantiu que vai até o fim: “Só saio da plenária com a sentença”.

Entenda o julgamento

  1. • Lindemberg Fernandes é acusado de doze crimes, entre eles o assassinato da ex-namorada Eloá Pimentel, de apenas 15 anos. O julgamento deve durar três dias.
  2. • Etapas:

    – Os sete integrantes do júri popular são sorteados entre 25 moradores de Santo André – são seis homens e uma mulher

  3. – Em seguida, são ouvidas as testemunhas de acusação. Depois, as arroladas pela defesa. Todas podem ser questionadas tanto pela defesa quanto pela acusação.
  4. – Interrogatório do réu. É a última etapa antes da abertura dos debates, com duas horas de exposição para cada lado. Há ainda a possibilidade de réplica e tréplica.
  5. – Os jurados se reúnem na sala secreta para discutir o caso e votar a sentença.
  6. – A juíza Milena Dias, que preside o caso, lê a sentença. Se condenado por todos os crimes, Lindemberg pode pegar de cinquenta a 100 anos de prisão. Pelas leis brasileiras, no entanto, o tempo máximo que alguém pode ficar preso é até trinta anos.

Silêncio – A expectativa é que Lindemberg Alves rompa o silêncio de três anos e se pronuncie sobre o crime. O julgamento, que entra no terceiro dia, foi retomado às 11 horas. Antes do interrogatório do réu, fala ao júri o tenente do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), grupo de elite da Polícia Militar, Paulo Sérgio Squiavo – última testemunha arrolada pela defesa.

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Na sequência, ocorrerão os debates entre Promotoria e defesa, a reunião dos sete jurados na sala secreta para tomar uma decisão e a leitura da sentença pela juíza. A mãe de Eloá, fragilizada, não deve comparecer ao julgamento – que pode entrar pela madrugada e nem mesmo ser concluído nesta quarta.

Capetinha – Dois depoimentos destacaram-se na terça: o do delegado Sérgio Luditza e o do comandante do Gate, Adriano Giovanini.

O delegado afirmou que uma frase dita pelo acusado funcionou como uma espécie de senha para que o apartamento da família fosse invadido. Segundo ele, o ex-namorado de Eloá disse que havia um “anjinho e um capetinha” dizendo o que ele deveria fazer e que “o capetinha estava vencendo”. “Tudo caminhava para a soltura dos reféns”, afirmou o delegado. “A frase foi o grito final de que ele passaria para ação”.

Já o capitão Giovanini contou que dois fatores foram essenciais para a invasão: um telefonema de Lindemberg, em tom de despedida, e um disparo efetuado no interior do imóvel. Giovanini comandou as negociações.

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O policial ressaltou que, por estar em uma viatura de resgate no térreo do prédio, não ouviu o tiro disparado dentro do apartamento – que, na versão da polícia, ocorreu antes da explosão, no desfecho do sequestro de Eloá e de seus amigos. Ele acrescentou que foi comunicado imediatamente do disparo.

“No final, o Lindemberg começou a fazer uma despedida. Ele disse que eu tinha sido bom com ele, que o tratei como homem e que, por isso, ele não queria que eu assumisse o que aconteceria daí em diante. Com todo esse prenúncio e um disparo, decidimos invadir”, disse.

O caso – Lindemberg Alves Fernandes, de 25 anos, é acusado de matar a tiros a ex-namorada Eloá Pimentel, de 15 anos, em outubro de 2008. O assassinato aconteceu depois de Eloá e a amiga dela, Nayara Rodrigues, terem ficado quase cinco dias em cárcere privado no apartamento em que a vítima morava.

Crimes – Lindemberg é acusado pelo Ministério Público por doze crimes. Além do homicídio qualificado de Eloá, ele responde pela tentativa de homicídio de Nayara e do sargento Atos Valeriano; pelo sequestro e cárcere privado de Eloá, Nayara e de dois outros menores de 18 anos, que foram liberados nas primeiras horas da ação; e disparo de arma de fogo.

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Segundo a promotoria, se condenado por todos os crimes, a pena pode variar de cinquenta a 100 anos de reclusão. Pelas leis brasileiras, no entanto, o tempo máximo que alguém pode ficar preso é até trinta anos.

Cárcere privado – O caso Eloá foi o mais longo cárcere privado da história policial de São Paulo. Inconformado com o fim do namoro de três anos, no dia 13 de outubro de 2008, Lindemberg tomou como reféns a ex-namorada Eloá Pimentel e uma amiga dela, Nayara Rodrigues, ambas, na época, com 15 anos de idade. Outros dois colegas de Eloá também foram feitos refém, mas liberados nas primeiras horas da ação.

Por mais de cem horas, Lindemberg usou o apartamento da família da ex-namorada em Santo André como cativeiro. Nesse período, chegou a libertar Nayara, mas a menina, a pedido do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), da Polícia Militar, voltou ao local e foi feita refém novamente.

A invasão do cativeiro pela polícia não foi bem sucedida. Os policiais disseram que entraram no apartamento após um tiro desferido por Lindemberg, que Nayara nega ter existido. A demora do Gate em romper a barricada armada pelo criminoso na entrada do imóvel permitiu que ele tivesse tempo de atirar contra as adolescentes, antes de ser dominado.

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Nayara foi atingida com um tiro no rosto, mas sobreviveu. Eloá morreu com um tiro na cabeça e outro na virilha. Ao longo do cárcere, ela foi chutada, esbofeteada, ameaçada e humilhada a ponto de, ao final, exausta, pedir ao seu algoz para ser morta. “Ela sabia que não sairia viva de lá”, contou na época Nayara.

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