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Nayara: “Eloá sabia que ia morrer”

Amiga da jovem assassinada em outubro de 2008 foi a primeira testemunha de acusação a prestar depoimento no julgamento, que começou nesta segunda-feira; ela foi baleada após voltar para o cativeiro no dia do crime

Por Branca Nunes e Carolina Freitas, de Santo André
13 fev 2012, 17h39

“Lindemberg falava que não era para estarmos ali. Que ia chegar, matar a Eloá e sair andando”

“Eloá pedia para ele acabar logo com aquilo, falava que se ia matá-la, para matá-la logo”

Nayara Rodrigues da Silva, amiga de Eloá Pimentel

De camiseta colorida, calça preta e tenis branco, Nayara Rodrigues da Silva, a primeira testemunha de acusação a depor no julgamento de Lindemberg Fernandes Alves, entrou na sala do Tribunal do Júri de Santo André por volta das 15 horas, cinco minutos depois do réu deixar o local algemado. Segundo a juíza Milena Dias, a ausência do réu foi um pedido das testemunhas.

Antes da promotora Daniela Hashimoto começar a interrogar Nayara, Milena Dias repassou todos os episódios do caso com a testemunha – o que fez com que a advogada de defesa, Ana Lúcia Assad, reclamasse da atitude dizendo que aquilo nada mais era do que confirmar o que já havia sido dito. Ela foi repreendida pela juíza.

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Nayara contou que conheceu o réu e Eloá em 2008 e que, antes do término do namoro, a amiga nunca havia falado a respeito de agressões e ciúme do namorado. “Ele terminava o namoro sem explicações e, logo depois, pedia para voltar como se nada tivesse acontecido”, contou Nayara. “Daquela última vez, ela disse que não queria mais, que estava cansada daqueles altos e baixos”. A única agressão da qual Nayara soube aconteceu pouco mais de um mês antes do cárcere, quando Lindemberg bateu em Eloá num ponto de ônibus.

Com o fim do namoro, Lindemberg começou a perseguir a ex-namorada, passando de moto todos os dias na saída do colégio. “Ele nunca estacionava, mas sempre passava, como que mostrando que estava por perto”, disse a adolescente. “Ela se sentia bastante ameaçada e um dia desviamos o caminho para contar para a mãe dela, que estava trabalhando, o que vinha acontecendo”.

No dia do 13 de outubro de 2008, Nayara, Eloá, Iago Vilela de Oliveira, namorado de Nayara e colega de escola, e Victor Lopes de Campos, que também estudava no mesmo colégio, decidiram fazer o trabalho na casa de Eloá pouco antes do término das aulas. Os quatro estavam no apartamento quando Lindemberg entrou de arma em punho. “Ele ficou bastante surpreso quando nos viu lá”, contou Nayara. “Falava que não era para estarmos ali. Que ia chegar, matar a Eloá e sair andando”. Além do revólver calibre 32, Lindemberg mostrava um saco de balas e dizia que tinha bastante munição. Desde o começo, ele agrediu Eloá com tapas.

A polícia chegou no fim da tarde, depois que o pai de Nayara tentou entrar no apartamento e ficou sabendo do sequestro. “O Lindemberg dizia para o pai da Eloá que tinha bastante consideração por ele e por toda a família, mas que ela não ia sair viva de lá”, lembrou Nayara. Segundo a adolescente, Eloá chegou a propor a retomada do namoro, mas Lindemberg não quis: “Ele dizia que tinha tentado conversar com ela várias vezes e que a Eloá não quis. Portanto, agora quem não queria mais era ele”.

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Entenda o julgamento

  1. • Lindemberg Fernandes é acusado de doze crimes, entre eles o assassinato da ex-namorada Eloá Pimentel, de apenas 15 anos. O julgamento deve durar três dias.
  2. • Etapas:

    – Os sete integrantes do júri popular são sorteados entre 25 moradores de Santo André: são seis homens e uma mulher.

  3. – Em seguida, são ouvidas as cinco testemunhas de acusação. Depois, as quatorze de defesa. Todas podem ser questionadas tanto pela defesa quanto pela acusação.
  4. – Interrogatório do réu. É a última etapa antes da abertura dos debates, com duas horas de exposição para cada lado. Há ainda a possibilidade de réplica e tréplica.
  5. – Os jurados se reúnem na sala secreta para discutir o caso e votar a sentença.
  6. – A juíza Milena Dias, que preside o caso, lê a sentença. Se condenado por todos os crimes, Lindemberg pode pegar de cinquenta a 100 anos de prisão. Pelas leis brasileiras, no entanto, o tempo máximo que alguém pode ficar preso é até trinta anos.

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Mudança de humor – Durante todo o cárcere, Lindemberg alterava momentos de nervosismo com períodos de calma. De acordo com Nayara, nada justificava essa mudança de humor. Victor e Iago foram liberados a pedido de Nayara, depois de pequenas crises de pânico.

“Ele também tentou me convencer a sair desde o primeiro momento”, revelou Nayara. “Dizia que queria ficar sozinho com Eloá. Mas eu tinha medo do que ele pudesse fazer com ela”. A televisão ficava ligada o tempo todo. “Só passava isso em todos os canais”, lembra. “Ele começou a se vangloriar, a se achar importante. Dava risada”.

Nayara ficou com a amiga até a manhã de quarta-feira, quando foi liberada por Lindemberg. A liberdade durou apenas 24 horas. Na quinta, foi convidada a participar das negociações. A mãe da adolescente foi barrada na entrada do local onde o Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE), comandava a libertação de Eloá.

“Subi até o apartamento como os policiais instruíram”, contou Nayara. “O Lindemberg pediu para eu me aproximar da porta. Por uma fresta, vi ele apontando a arma para a cabeça da Eloá. Fiquei com medo que ele atirasse nela ou em mim, caso eu saísse correndo. Ele falou para eu dar a mão para a Eloá e me puxou para dentro”.

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Eloá estava com os braços machucados e falou para a amiga que havia apanhado a noite inteira. Nesse momento, ela disse para Nayara que sabia que ia morrer. “Quando voltei, a Eloá tinha períodos de histeria”, contou Nayara. “Ela pedia para ele acabar logo com aquilo, falava que se ia matá-la, para matá-la logo”. Nayara chorou ao recordar o episódio. “Ela sabia que ia morrer.”

Na sexta-feira, pouco antes da invasão da polícia, Lindemberg falou pela primeira vez para as duas amigas que iria libertá-las. “Vocês vão sair, eu não”, teria dito Lindemberg. Logo depois, bloqueou a porta de entrada com uma mesa e trancou as portas dos quartos. A explosão veio em seguida. Fumaça, barulho e gritaria. Nayara contou que cobriu o rosto com uma coberta e sentiu um gosto estranho na boca. Tirou a coberta, viu a amiga desacorda e correu para fora do apartamento. Ela afirma que escutou os disparos depois da bomba, mas antes da entrada da polícia.

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Defesa e acusação – A promotora Daniela Hashimoto usou a testemunha para fazer a mesma retrospectiva, enfatizando principalmente as mudanças de temperamento repentinas de Lindemberg e o fato dele ter ameaçado Eloá de morte desde o momento em que invadiu o apartamento. Já a defesa usou o seu tempo para ironizar o depoimento de Nayara.

No momento mais tenso, Ana Lúcia Assad perguntou se o advogado de Nayara a havia instruído a chorar. A pergunta foi indeferida pela juíza e enfrentou protestos de José Beraldo, assistente de acusação, que chegou a dar um lenço de papel para a advogada, caso ela precisasse chorar.

“Quem estava chorando era a Nayara”, respondeu Ana Lúcia com rispidez, antes de perguntar para a adolescente se ela queria o lenço. “Não preciso porque não estou chorando”, enfrentou Nayara.

Em outro momento, Ana Lúcia perguntou por que Nayara respondia as perguntas olhando para seu advogado. Depois que Milena Dias interrompeu dizendo que Nayara era vítima e não estava sendo acusada de nada, Ana Lúcia começou a andar pelo tribunal bradando: “Realmente, ela é vítima, não tem que falar a verdade”, e fez com que seu protesto fosse registrado em ata.

Pelo tom usado pela defesa, Ana Lúcia tenta levantar a possibilidade de que Eloá e Nayara tiveram a oportunidade de fugir, mas não fizeram. Irônica, ela perguntava detalhes de como Lindemberg as amarrava no cativeiro. Nayara foi enfática: “Apontando uma arma”. O depoimento de Nayara acabou às 17h05.

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