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A idade sem nome

O velho conceito de velhice já não se aplica nos dias de hoje

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jul 2020, 12h54 - Publicado em 31 jul 2020, 06h00

Quando eu era criança, alguém de 60 anos era considerado “velho”. Minha avó só vestia roupas escuras, meu avô sentava-se numa cadeira o tempo todo, simplesmente esperando a vida passar. Aposentadoria era a regra: os chamados velhos dedicavam-se aos netos, filhos. A velhice era vista como um tempo amorfo, entre o fim da vida profissional, a doença e a morte. Tudo mudou. Outro dia, vi uma referência a uma clínica para idosos. Espantei-me. Eu já seria candidato a uma vaga! Essa possibilidade nunca havia passado pela minha cabeça — e continua não passando. Assim como para a maioria dos meus amigos. Caso de Analívia, que desde os 15 anos faz um trabalho de dança inovador e dedica-se a dar palestras nas principais cidades do mundo. Outro amigo dos tempos da escola, Raul, dá aulas de pilates! Minha vizinha, aos 70, oferece aulas de meditação, caminha todos os dias, e tem um namorado boa-pinta. Outro vizinho fala seis línguas e se dedica ao comércio exterior. Todos acima dos 60. Nenhum, eu inclusive, quer deixar de trabalhar.

Por sinal, é uma pergunta que parentes mais jovens fazem frequentemente: “Você não quer descansar?” Acho até divertida. Parar, eu? Se fosse descansar, escreveria, o que já faço como atividade principal.

“Essa nova etapa da vida após os 60 vai receber um nome, como a adolescência recebeu um dia”

São pessoas que se recusam a “envelhecer”. Estão em uma nova fase da vida, que vai dos 60 aos 80 e mais. Graças também aos avanços médicos. As etapas da existência só foram diferenciadas pela humanidade ao longo do tempo. O entendimento da adolescência só seria consolidado no século XX. Ainda vai surgir um nome para essa nova fase que vivemos hoje, que não é nem velhice nem terceira idade. Os sessentões e oitentões da atualidade eram adolescentes e jovens na década de 60, tiveram contato com a contracultura e também com os movimentos de esquerda não tradicionais. Não enxergam a idade como seus pais e avós enxergavam. Cuidam do corpo, entram em cursos. Namoram. Boa parte possui uma vida profissional de que gosta — portanto, nem pensar em aposentadoria. Quem se aposentou trata de desfrutar a vida. Quando passeiam ou viajam com os filhos, estão na condição de amigos, companheiros. Muitos querem iniciar algo novo. O precursor dessa tendência talvez tenha sido o próprio Roberto Marinho, que botou a Rede Globo no ar quando tinha 60 anos — idade em que muitos empresários de seu tempo já estavam pendurando as chuteiras.

Falo de pessoas que nasceram antes do advento do computador pessoal, do celular… Mas que hoje sabem o suficiente para trocar e-mails, Whats­Apps, assistir a filmes no streaming… Ou seja, estão incorporadas ao universo tecnológico. Talvez as pessoas só se considerem idosas quando os outros as veem como idosas. Não vou falar de plásticas e outros procedimentos — elas fazem também, é claro. E daí?

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Em algum momento, essa nova etapa da vida após os 60 e sei lá, além dos 80, vai receber um nome, como a adolescência recebeu um dia. Por enquanto, apenas sabemos que a palavra “velho” não serve mais para definir essas pessoas. Eu digo por mim: os 60 são o novos 40.

Publicado em VEJA de 5 de agosto de 2020, edição nº 2698

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