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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Sem Centrão não há paraíso

Bolsonaro troca Lava Jato pelo bloco mais sujo do Congresso. O nome disso é política

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 ago 2020, 16h23 - Publicado em 30 jul 2020, 16h33

Centrão virou um palavrão. É como se chama o grupo de deputados federais com a consistência ideológica de um mocotó e que negocia seus votos em troca de favores, que vão de financiamento para campanha eleitoral a cargos, de liberação de emendas parlamentares a subornos. O Centrão é o toma-lá-dá-cá da política em seu estado bruto, sem filtros, sem cortes e sem arrependimentos. Quando se lançou candidato, Jair Bolsonaro foi o único a prometer governar sem o Centrão. Na convenção que escolheu Bolsonaro candidato, o general Augusto Heleno parafraseou o clássico samba Reunião de Bacana e cantou “se gritar pega Centrão/ não fica um, meu irmão”.

Um ano e meio depois, Bolsonaro trouxe o Centrão para o governo e nesta quinta, 30, foi um ato em São Raimundo Nonato, no Piauí, com o senador Ciro Nogueira sob os gritos “Fim da Lava Jato”. A operação anticorrupção que ajudou a eleger o capitão ao investigar PT, MDB e PSDB, agora era fustigada pelo mesmo presidente ao lado de um dos maiores líderes do Centrão. 

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A primeira coisa a entender sobre o Centrão é que seus parlamentares têm tanta legitimidade quanto aqueles que os criticam. Os cerca de 160 deputados do PP, PL, PSD, Solidariedade, Pros, PTB e Avante foram tão ou mais votados que a turma do Novo ou do PSOL. Não é errado que um parlamentar paute os seus votos na Câmara à conquista de benefícios para a sua zona eleitoral. Isso acontece aqui, nos EUA, no Reino Unido ou na Itália. Há troca de votos que se configuram crimes? É provável, mas para fiscalizar o bom uso do dinheiro público existem a Procuradoria Geral da República e o Tribunal de Contas da União. Negociar faz parte da boa política. O que não faz parte é levar vantagem pessoal.

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Os jornais dessa semana gastaram tinta com a saída do Democratas e do MDB do bloco, mas esta é uma manobra que diz mais sobre a eleição para a presidência da Câmara do que divergências de fundo. Rodrigo Maia quer um deputado fiel como sucessor e não confia em Arthur Lira, o candidato de Bolsonaro. O resto é paralogem.

A questão é este governo ou qualquer outro precisa dos deputados do Centrão para sobreviver. Em 513 deputados, 150 deputados são a diferença entre ter uma maioria estável para aprovar seus projetos ou ser degolado. Com o Centrão, não há impeachment. Sem o Centrão, a vida de um presidente é um inferno.

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Em 1989, Fernando Collor também foi eleito prometendo “acabar com a roubalheira” e terminou defenestrado quando foi descoberta a fortuna que seu tesoureiro cobrava de propina nas obras públicas. Às vésperas da sua reeleição, em 1998, FHC criou o Ministério da Reforma Institucional apenas para acomodar o PFL do Piauí. Temendo o PMDB, Luiz Inácio Lula da Silva distribuiu cargos e emendas para os partidos que hoje integram o Centrão. O resultado foi um escândalo conhecido como Mensalão. Dilma Rousseff perdeu o controle quando Eduardo Cunha organizou o Centrão com mais de 300 deputados para asfixiar o governo. Temer fez um governo semi-parlamentarista, de tanto poder que repartiu com o Congresso, e por consequência, com o Centrão.

Mas como se diz em Brasília, ninguém compra o Centrão. No máximo, aluga. Bolsonaro desfila hoje orgulhoso com os próceres do Centrão, mas esta é uma relação de interesse. Se a economia afundar e levar junto a popularidade do presidente, o Centrão vai subir seu preço. Se receber, apoia. Caso contrário, abandona Bolsonaro como fez antes com Dilma. Não é nada pessoal.

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