Mão grande (por André Gustavo Stumpf)
Os cinco últimos governadores do Rio estão presos ou estiveram na cadeia
As polícias e o ministério público assumiram protagonismo inédito na política nacional. No Rio de Janeiro a cada dia ocorre um espanto. O atual prefeito é acusado pelo Ministério Público. O governador está afastado por seis meses. O vice-governador também está às voltas com acusações pesadas. Um candidato a prefeito está na condição de réu.
Os cinco últimos governadores estão presos ou estiveram na cadeia em tempos recentes. Foram atingidos personagens da política carioca, como Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, que se apresentou voluntariamente aos policiais. Está presa.
Uma confusão absurda. A regra básica na convivência entre os antagônicos no cenário carioca é a propina. Todo mundo mete a mão. O prefeito Marcelo Crivella, que é pastor evangélico de alto coturno, não se conteve dentro da temperança sugerida em seus sermões. Chegou ao cúmulo de telefonar para seu secretário Rafael Alves para saber da situação da operação de busca e apreensão na Riotur. Quem atendeu ao telefonema foi o delegado que estava executando a operação. Ridículo. O Secretário de Educação, Pedro Fernandes, não está atrás das grades porque foi infectado pela covid 19. Ficará em casa até se recuperar.
Enfim, no Rio toda a cúpula da política local está caminhando aceleradamente na direção do xilindró. Verdade que o fenômeno não ocorre somente na antiga cidade maravilhosa, hoje dominada por traficantes de drogas, milicianos e políticos corruptos.
O ex-governador Sérgio Cabral, um grande ladrão, espécie de ícone na especialidade, está condenado a quase 300 anos de reclusão. Ele se mostrou frio, impetuoso, objetivo na tarefa de assaltar os cofres cariocas. Foi investidor obsessivo em joias, obras de arte, ouro, títulos no exterior e manteve dinheiro em vários paraísos fiscais.
Metástase
O cenário no Rio de Janeiro é pavoroso. Mas os cariocas não possuem a exclusividade no quesito corrupção. Há profundas preocupações com o ocorrido, por exemplo, no estado do Pará. O governador Helder Barbalho, comandou pessoalmente a compra dos respiradores para atender os infestados pelo vírus. Os poucos aparelhos que desembarcaram em Belém não estavam dentro das especificações. Não foram utilizados.
Em Santa Catarina a situação também não é das mais cristãs. No Distrito Federal, toda a cúpula da Secretaria de Saúde foi afastada depois de uma operação de busca e apreensão. O ex-secretário está na Papuda.
Um divórcio no estado de Mato Grosso revelou o descontrole orçamentário do estado. O desembargador Dirceu dos Santos, do TJMT, foi obrigado a dividir recursos e bens com sua ex-esposa, Maria Souza da Silva. O processo revelou que ele possui mais de R$ 18 milhões em bens, fazendas, apartamentos, imóveis de todos os tipos inclusive um em Miami, Flórida. Outra curiosidade revelada no processo é a que que o salário médio dos desembargadores naquele estado se situa em torno de R$ 50 mil, acima do teto constitucional. O que ocorre em quase todos os tribunais no país.
Nesse cenário tumultuado e viciado em todo o país surge uma nova figura. O ministro Luiz Fux, filho de judeus que migraram da Romênia, que assumiu aos 67 anos a presidência do Supremo Tribunal Federal. É considerado reservado, rigoroso e sensível à opinião pública, um aliado da Operação Lava Jato, que poderá inaugurar fase mais dura no comando do Tribunal.
O ministro sucede a Dias Toffoli, que impôs derrotas à Lava Jato durante a sua presidência, como a paralisação de investigações com base em relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e da Receita, além da determinação para que a força-tarefa de Curitiba compartilhasse o banco de dados com a cúpula da Procuradoria Geral da República.
Na vice-presidência estará a ministra Rosa Weber. O tribunal será comandado na sequência por Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, relator da Lava Jato. Fux é um juiz de carreira. Começou como promotor no Rio de Janeiro e depois, em 1983, alcançou o Tribunal de Justiça do Estado. Chegou ao Superior Tribunal de Justiça indicado por Fernando Henrique Cardoso e ao Supremo Tribunal Federal por decisão de Dilma Rousseff.
Luís Fux é pai de Rodrigo, advogado, e Marianna Fux, desembargadora do Tribunal de Justiça no Rio de Janeiro. Ele, carioca da gema, intelectual, guitarrista, faixa preta de jiu-jitsu, torcedor do Fluminense, conhece bem a realidade política de seu estado. É uma boa novidade, capaz de colocar a cidade do Rio de Janeiro no caminho para retomar o título de cidade maravilhosa.
André Gustavo Stumpf escreve no Capital Político. Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou Jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos setenta. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 88, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy) com especialização política na América Latina, da School of Advanced International Studies (SAIS). Atualmente escreve no Correio Braziliense. ⠀⠀⠀