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Trump na briga: acirra-se guerra interna entre governo e FBI

Democratas vão aprovar o processo de impeachment, republicanos vão invocar perseguição e presidente vai continuar gritando; e todos estão certos

Por Vilma Gryzinski 10 dez 2019, 06h59

Se tivesse planejado maquiavelicamente cada detalhe de um plano para implodir o sistema americano, Vladimir Putin não poderia ter acertado mais.

Agora, justamente, é a hora da decisão: a democracia mais integral e perfeita já concebida, na medida em que a capacidade humana e o momento histórico permitiram, vai resistir?

O teste de stress não é para fracos.

O principal motivo é que todas as forças em choque no momento nos Estados Unidos têm uma parcela de razão.

E, ao mesmo tempo, todas estão comprometidas com uma partidarização extrema, cega, ensandecida.

Começando pelo Partido Democrata, que tem a força da maioria na Câmara. E, portanto, a garantia de que vai aprovar o impeachment do presidente.

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Motivo, no papel: Donald Trump forçou a mão ao “pedir” ao governo ucraniano que investigasse possíveis irregularidades do filho de seu potencial adversário democrata no ano que vem, Joe Biden.

Usou a ajuda militar americana à Ucrânia, vital para o país resistir às múltiplas ingerências russas, como instrumento de chantagem.

Delitos: abuso de poder e obstrução ao Congresso.

Cheque da realidade: é uma situação fluída, daí a dificuldade em separar fatos objetivos e intenções políticas.

As intenções políticas não poderiam ser mais claras: ferrar Trump de tal maneira que, mesmo absolvido no Senado, onde o Partido Republicano tem maioria, seja obliterado na tentativa de reeleição, em novembro do ano que vem. 

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O argumento dos democratas tem um elemento altamente favorável. 

Trump realmente usou do poder sem paralelos da presidência americana, mesmo que sob a forma do pedido de um “favor” ao presidente ucraniano, na famosa conversa por telefone com Volodymyr Zelensky.

E alguém pode duvidar que o objetivo era prejudicar um adversário político?

VÉU DA HIPOCRISIA

O problema é como provar uma intenção criminosa se o tal adversário, então vice-presidente, potencialmente cometeu um abuso muito maior, ao interferir em assuntos internos ucranianos de maneira que favorecia o chefão da empresa de produção de gás para a qual Hunter Biden dava assessoria com pagamento à altura de seu sobrenome.

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Não estava o certo o presidente de pedir investigações sobre atuações suspeitas de americanos na Ucrânia, tanto por trágico de influência, no caso dos Biden, pai e filho, quanto pelas suspeitas de que integrantes do governo ucraniano anterior haviam passado informações ao comitê de Hillary Clinton, uma forma de interferência eleitoral?

A forma como os deputados democratas estão encaminhando o processo de impeachment é vergonhosamente partidária, sem nem sequer o véu da hipocrisia para fingir que os interesses superiores da nação são o interesse supremo.

Só um exemplo: o deputado Jerry Nadler, que está conduzindo no momento as audiências da Comissão de Inteligência da Câmara com rigor de comissário stalinista, negou todos os pedidos republicanos de convocação de testemunhas.

Considerou-os irrelevantes. Entre outros, os republicanos pediram a convocação  do agente da CIA lotado na Casa Branca que denunciou o possível desvio de função de Trump no caso da Ucrânia e o próprio Hunter Biden.

O processo de impeachment, evidentemente, ganharia mais peso se atores tão importantes dessem seus depoimentos e fossem submetidos ao contraditório.

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Não para o comissário Nadler.

O Partido Democrata, claro, não está sozinho na frente unida pelo impeachment. 

Praticamente toda a imprensa e toda a máquina do governo querem tirar o couro de Trump.

Uma das provas mais acachapantes foi o relatório da comissão interna que investigou a atuação do FBI lá nas origens do inquérito aberto, em segredo, sobre possíveis conexões de integrantes da campanha de Trump e representantes de interesses russos.

O inspetor geral do Departamento de Justiça, Michael Horowitz, identificou 17 “impropriedades e omissões” no inquérito que solicitou a abertura de um processo sigiloso reservado aos suspeitos de interação com agentes inimigos, conhecido como FISA, sobre um dos colaborares de Trump, Carter Page.

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Mas, concluiu Horowitz, não houve um desvio intencional de conduta nem politização do inquérito.

Fala sério, Horowitz.

As posições políticas de integrantes da cúpula do FBI envolvidos no caso ficaram não só claras, como comprovadas, inclusive pela quebra de sigilo de mensagens.

As mais famosas delas entre Andrew McCabe, vice-diretor do FBI hoje na confortável posição de comentarista de televisão, e sua amante, Lisa Page, advogada da polícia federal.

Carter Page, que fique bem claro, é uma das figuras mais folclóricas, obscuras e duvidosas de tantas que circulam no universo Trump.

Teria ele “combinado com os russos”, para favorecer Trump, se pudesse? Muito provavelmente.

Mas foi obviamente enquadrado pelo aparato policial do FBI, inclusive com o uso de informações manipuladas ou omitidas nos pedidos de escuta.

As conclusões de Horowitz provocaram uma reação sem precedentes. William Barr, que tem posição equivalente à de ministro da Justiça, criticou o relatório.

Tecnicamente, ele é o chefe da polícia federal. O choqueé espantoso em qualquer país e mais ainda nos Estados Unidos, onde a imparcialidade dos agentes da lei sempre foi cultuada como um valor absoluto.

“O relatório do inspetor geral agora deixa claro que o FBI abriu uma investigação intrusiva sobre uma campanha presidencial baseado na mais tênue das suspeitas, as quais, na minha opinião, eram insuficientes para justificar as medidas tomadas”, declarou Barr.

Tem razão? Tem. Tem motivação política? E como.

ATÉ O ÚLTIMO FIO

Essa politização de agentes e instituições é o aspecto mais deletério da guerra entre Trump e o resto do mundo. Entendendo-se por isso as diversas camadas componentes do establishment.

Até onde existe uma preocupação desprendida com a república e até onde o ódio a Trump, em muitos sentidos compreensível mas não justificável para sustentar um impeachment,  alimenta uma tentativa de sabotar um presidente eleito, mesmo que com o uso de instrumentos suspeitos da máquina do estado?

Isso ainda está para ser definido.

Para surpresa de ninguém, Trump se joga na briga até o último fio dos cabelos tingidos de loiro.

 No momento, apregoa o relatório altamente contestável de Horowitz, comemorado por todos seus inúmeros adversários, como prova de que houve realmente o que chama de “caça às bruxas”, ou uma perseguição política.

Como um Gulliver atacado todos os lados, reage com tuitadas constantes e furiosas.

Os senadores republicanos continuam unidos em defesa do presidente. A forma agressiva e até descabeçada como os adversários conduzem o processo está aumentando ainda mais a reação negativa.

Negar testemunhas, trazer o depoimento apenas de advogados constitucionalistas – todos condenatórios a Trump – até mandar grampear um colega, como aconteceu com David Nunes, o republicano mais importante da Comissão de Inteligência, não é exatamente uma tática fadada a conquistar corações e mentes de republicanos.

Ao contrário, produz reações igualmente agressivas.

O deputado Louis Gohmert, que foi promotor e juiz, deu uma ideia do estrago causado pela tática democrata: “Já vi muitas audiências armadas nas cortes, já fui maltratado em audiências antes, mas nunca vi nada como isso.”

“Isso não tem nada a ver com processo devido, mas com armação.”

Em seguida, a ameaça: “Se Joe Biden vier a ser o próximo presidente, nós já temos toda a papelada. Basta trocar o nome de Donald Trump pelo de Joe Biden. |Inclusive porque já tem o vídeo. Ele basicamente admitiu o crime atribuído indevidamente ao presidente.”

Gohmert se referia as declarações orgulhosas, mas pre-eleitorais, de Biden, dizendo como forçou o governo ucraniano, usando a ajuda americana, a mudar o procurador geral encarregado de investigar corrupção nas altas esferas.

Estaria o patrão de Hunter Biden nas tais esferas?

A história é complicada e cheia de anti-heróis. Não existe nenhum Sergio Moro na Ucrânia.

O eleitorado continua aguardando esclarecimentos. A ideia de que Trump já perdeu a guerra das narrativas – e, portanto, a viabilidade política – é por enquanto mais uma expressão de desejos.

O relatório capenga do inspetor geral do FBI favoreceu ou prejudicou Trump?

As narrativas estão em pleno choque.

A da Fox, ou pelo menos de alguns de seus comentaristas, é a única a favor de Trump entre os grandes. Por isso, vale a pena ouvir de novo o que disse Lou Dobbs:

“Depois de 621 dias investigando alguns dos mais evidentes abusos de poder cometidos pelo setor de inteligência da era Obama, o inspetor geral Michael Horowitz declarou-se incapaz de encontrar qualquer objetivo político por trás da escuta da campanha de 2016 de Trump.”

“É mais uma evidência do espantoso controle do Estado Profundo sobre a burocracia permanente de nosso governo federal.”

Vladimir Putin não poderia sequer sonhar com um racha tão profundo no coração do poder americano.

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