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Por Vilma Gryzinski
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Príncipe precipitado: guerra do petróleo e guerra na família

A situação na Arábia Saudita não está para amadores e Mohammed Bin Salman tem o tipo de cabeça quente que só bota fogo no deserto

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 mar 2020, 07h36 - Publicado em 9 mar 2020, 06h59

Mohammad Bin Salman não é nenhum Príncipe de Maquiavel.

Embora possivelmente se veja assim. E seja guiado por um dos princípios do gênio florentino: “Os homens devem ser adulados ou destruídos, pois pode vingar-se das ofensas leves e não das graves; de modo que a ofensa que se faça ao homem deve ser de tal ordem que não se tema a vingança”.

O risco é que, em meio a suas brigas palacianas pelo poder, ele acabe arrastando o mundo junto numa disputa muito mais importante, a pelo preço do petróleo num momento em que o efeito coronavírus faz o mundo viver no mais perigoso dos fios da navalha.

A briga agora é com ninguém menos que Vladimir Putin. Na calada do fim de semana, a Arábia Saudita passou a cimitarra no preço do petróleo.

Motivo: vingança contra a Rússia por se recusar a aderir à política da OPEP de fechar a torneira da produção para ver se segurava o preço em derrocada, devido a desaquecimento econômico global provocado por um vírus que se alastra mais perigosamente sobre as finanças do que sobre as potenciais vítimas da epidemia.

A derrocada do preço do petróleo abriu a semana com perspectivas piores ainda para a economia, demonstrando, mais uma vez, que sempre tem mais fundo no poço.

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É esta a hora de comprar briga com a Rússia, com quem a OPEP vinha fazendo jogo combinado há três anos, e ir para uma nova “guerra do petróleo”?

Todo mundo sofre, do Brasil ao Canadá, dos Estados Unidos à Venezuela. Mas é claro que os menos desenvolvidos sofrem mais.

Sem contar, claro, a própria Arábia Saudita. Não é um momento exatamente bom. Ao contrário, é um momento de alta instabilidade.

Ao longo da semana passada, agentes mascarados dos serviços de inteligência prenderam dois dos homens mais importantes do reino, potenciais rivais para tramar a queda do príncipe herdeiro, o que com toda certeza estavam fazendo. Seguiram-se outras prisões.

Um é irmão do rei Salman, príncipe Ahmed Bin Abdulaziz. Não um irmão qualquer, mas o único remanescente, fora Salman, dos “sete Sudairi”, os filhos do falecido rei Abdulaziz com a mesma mulher, justamente da tribo Sudairi.

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Os irmãos formaram a elite da Casa de Saud, transmitindo o poder de um para outro, conforme iam morrendo, pelo método de sucessão agnática.

Os que não chegavam ao trono, ficavam com as posições mais importantes do reino. Ahmed, por exemplo, foi ministro do Interior e responsável pela administração dos lugares santos, a “custódia” de Meca e Medina da qual a monarquia saudita deriva o que considera legitimidade incontestável.

Ahmed deu um tempo fora do país – palácios não faltam – depois que o rei Salman tumultuou o processo de sucessão e nomeou o filho favorito, Mohammed Bin Salman, como príncipe herdeiro.

A oposição dele ao sobrinho era mais do que conhecida e ele poderia, pela posição que ocupa na família,  ser um “sucessor tampão”, um escolhido para substituir MBS enquanto as diferentes facções buscassem uma solução mais definitiva.

Mais importante ainda foi o outro preso da semana, príncipe Mohammad Bin Nayef. Primo mais velho de MBS, também tinha direito a ser chamado pelas iniciais MBN.

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Nayef era o sucessor oficial antes que o rei lhe passasse a perna e colocasse o filho no lugar dele.

Em sinal de respeito, MBS fez uma encenação diante das câmeras depois do que foi, na prática, a deposição de Nayef: beijou-lhe as mãos e curvou um joelho diante dele.

Também colocou o primo e ex-futuro rei em detenção domiciliar – palaciana, no caso.

CIA a estrangeiros com sua colaboração como chefe do antiterrorismo saudita.

Pouco antes de ser dramaticamente empurrado para fora da sucessão, Nayef havia recebido a mais alta condecoração da CIA a estrangeiros por sua colaboração no combate ao terrorismo.

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A medalha foi dada por Mike Pompeo, então diretor da CIA, hoje secretário de Estado.

Nayef não apenas dirigiu os serviços de inteligência contra o terrorismo jihadista, como sentiu diretamente seus efeitos.

Escapou de quatro tentativas de assassinato, sendo a última delas o bizarro caso de um terrorista supostamente convertido que se explodiu diante dele com uma bomba cirurgicamente implantada na cavidade anal.

O método terrorista não prosperou porque o próprio corpo do suicida serviu como barreira. Um caso similar foi ficcionalizado na série israelense Fauda, da Netflix.

Nayef apareceu com dois dedos enfaixados depois do atentado, para efeito propagandístico, mas os efeitos foram piores. 

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Devido a dores excruciantes que tratamentos médicos na Suíça não resolveram, ele passou a tomar grande quantidade de remédios para dor.

Um dos motivos alegados, por baixo do pano, para sua remoção como futuro rei foi o efeito psicológico prejudicial da medicação.

Confinar ou exilar príncipes recalcitrantes não é exatamente uma novidade nos misteriosos corredores do poder da Arábia Saudita.

Sempre tem gente demais querendo um pedaço do poder – e dos contratos milionários do governo.

Mas é claro que o equilíbrio de forças precisa ser muito bem pensado.

Audácia, qualidade elogiada por Maquiavel num Príncipe, é o que não falta a Bin Salman. 

Mas audácia mal sucedida pode dar em fiascos, do qual o mais conhecido foi o tarantinesco assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, estrangulado e esquartejado no consulado saudita em Istambul.

Um abuso inominável, sem contar o vexame do crime grotescamente mal planejado. 

E ainda teve o caso da invasão do telefone de Jeff Bezos. 

Pode um futuro rei invadir o telefone do homem mais rico do mundo para se vingar da plataforma dada a Khashoggi, um operador menor transformado em herói por seus próprios assassinos?

Depois de irromper como sucessor como um príncipe jovem e cheio de ideias para abrandar os controles religiosos extremamente conservadores sobre a população, MBS conquistou simpatias entre o público jovem. 

Também criou um dinheiroduto para promover sua imagem de monarca reformista e visionário.

A realidade está sendo um pouco mais complicada.

A guerra do petróleo que MBS desencadeou faz parte de um grande jogo em que a Rússia tenta derrubar a produção americana, explodindo com a liberação da extração, de óleo e gás, promovida por Donald Trump.

Tem que ter bala na agulha para peitar Vladimir Putin.

E assumir o risco de levar o mundo para o buraco de uma mega crise financeira.

“Todos veem o que você parece ser, mas poucos sabem o que você realmente é”, escreveu Maquiavel sobre o homem em posição de poder.

Muito já apareceu sobre o que realmente é Mohammed Bin Salman. Muito mais vai aparecer.

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