Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Claudio Moura Castro Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Claudio Moura Castro
Continua após publicidade

Tecnologia não é pedagogia

Os avanços tecnológicos são apenas mecanismos de transmissão

Por Claudio Moura Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 ago 2020, 13h23 - Publicado em 7 ago 2020, 06h00

Com grandes dificuldades, Guglielmo Marconi tentava vender aos navios o seu telégrafo sem fio. Mas eis que, em 1912, um iceberg entrou na rota do Titanic. Graças ao telégrafo embarcado, um cargueiro nas proximidades captou o SOS e resgatou 700 passageiros. No fim das contas, o iceberg vendeu mais equipamentos do que conseguiria algum mago de marketing.

Apesar dos loquazes arautos de tecnologias redentoras, a escola sempre deu as costas a elas. O cinema vai revolucionar a escola! Com o rádio a escola chega a qualquer grotão! Com a TV a escola não será a mesma! Entram em cena os computadores na educação, e lá se vão cinquenta anos de tentativas. Agora é a nuvem. O que têm em comum esses inventos revolucionários é o seu fracasso retumbante no ensino acadêmico. Nada deu certo. Ou foi ignorado ou não mostrou resultados (como é o caso do computador na aula).

Como qualquer organização, a escola tem sua cultura, suas práticas consagradas e, igualmente, ferozes mecanismos para defendê-las. Não é um reles computador que mudará seus hábitos seculares. Com um peteleco, a tralha vai para o armário e nunca mais é vista. Ou enguiça e ninguém conserta.

Não prestam essas inovações? Prova de seu valor é a sua adoção nos cursos profissionais, naqueles oferecidos nos programas de educação corporativa e em tudo que não é o ensino acadêmico. Bravamente, a escola resistia.

“A escola tem suas práticas consagradas. Um reles computador não mudará hábitos seculares”

Continua após a publicidade

A Covid-19 foi o iceberg que se chocou com essas escolas. O serviço foi feito por um bicho desse tamanhinho. Depois de rejeitar, negacear e empacar, da noite para o dia as instituições de ensino foram obrigadas a se bandear para a educação a distância, cuja íntima convivência com a tecnologia vinha de bom tempo.

Quem se persignou, vendo na tecnologia coisa do diabo, de uma hora para outra passou a pilotar computadores, PowerPoints, Zoom, Blackboard, chats e tudo o mais que há por aí. Bem feito, pois a tecnologia tem muito a oferecer (tudo que foi citado acima pode ter o seu lugar).

No entanto, é preciso não cometer um outro pecado. Tecnologia não é pedagogia. É apenas uma mecânica de transmitir conteúdos. Não é a pizza, mas apenas o seu entregador.

O YouTube congela e conserva imagens digitais. Serve para tudo, até para ensinar, desde tabuada até medicina genômica. Pode propor a decoreba. Mas, no “ensino invertido”, permite implementar uma pedagogia eficaz. Nela, o aluno vê o vídeo e depois discute na aula. O YouTube é apenas o meio de transporte.

Continua após a publicidade

Confundir o entregador com a pizza é achar que, introduzindo tecnologia, tudo estará resolvido. Não estará. O mais reluzente tablet pode estar a serviço de decorar as capitais da Ásia Central. Mas dá certo quando é o canal para estratégias de ensinar conteúdos de forma criativa. Devemos também entender: tecnologia não é agente de mudança. E tecnologia comprada não vem com as ideias necessárias para o seu bom uso.

Primeira lição: lamentamos, mas há mudanças que requerem uma tragédia para ser implementadas. Segunda: tecnologia na educação é apenas meio de transporte, nem redentora nem portadora de uma boa pedagogia.

Publicado em VEJA de 12 de agosto de 2020, edição nº 2699

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.