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Prazer high-tech: as mudanças nas sex shops para atrair mais mulheres

Com produtos tecnológicos e endereços instalados em bairros residenciais, as novas lojas têm agora uma clientela majoritariamente feminina

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 mar 2020, 10h49 - Publicado em 6 mar 2020, 06h00

Outro dia mesmo, há pouco mais de cinquenta anos, a sexualidade feminina estava para ser descoberta. O ano é 1968 — os Beatles lançavam o Álbum Branco. Os estudantes saíam às ruas em todo o mundo, nas ditaduras e nas democracias. Martin Luther King e Bob­by Kennedy foram assassinados. No Brasil, Caetano, Gil e cia. inauguravam o tropicalismo embebido da antropofagia dos modernos de 1922. E um ensaio, um singelo ensaio, caía como uma bomba americana de napalm a sobrevoar o Vietnã no colo do machismo: O Mito do Orgasmo Vaginal, de Anne Koedt, dinamarquesa radicada nos Estados Unidos, anunciava, sem meias palavras, a existência do clitóris e decretava a possibilidade de chegar ao clímax com um vibrador. Um grosseirão empedernido, o escritor Norman Mailer, encurralado no canto do ringue, esperneou em O Prisioneiro do Sexo, de 1971, surpreso com a “abundância de orgasmos da mulher por toda parte, com aquele dildo de laboratório”. Nada como meio século de permanente revolução, e chegamos ao ponto de hoje: as sex shops vendem brinquedos eróticos sem censura, inclusive no Brasil, e as mulheres as frequentam com mais desenvoltura que os homens.

Hoje, sete em cada dez pessoas que procuram os estabelecimentos de produtos para esquentar o sexo são mulheres da classe A entre 30 e 40 anos. Elas foram atraídas pela transformação das novas lojas. De fachada escura, escondidas, passaram a ter ambientes iluminados e ocupar espaço em bairros residenciais, ao lado do comércio convencional, como padarias, lavanderias e restaurantes. Mas o principal chamariz são as novíssimas traquitanas, de forte apelo tecnológico, com design arrojado e elegante, que nada lembram os manequins esquisitões e feiosos das antigas vitrines. “As lojas não vivem mais apenas em função do prazer masculino”, resume Susi Guedes, organizadora da Íntimi Expo, em São Paulo, uma das maiores feiras de negócios da América Latina voltada para o segmento. No evento, vale dizer, são vetadas exposições explícitas e imagens de pessoas sem roupa. Sexo é coisa séria.

A sofisticação em nome da excitação — muitas vezes apenas individual, solitária, como sugerem os atuais humores comportamentais, de respeito à vontade feminina — é impressionante (veja uma seleção nestas páginas). Há consolos que se conectam a distância por aplicativos. Há apetrechos que oferecem aulas guiadas de pompoarismo — como é chamada a prática de estimular o assoalho pélvico por meio de contrações. Há géis que vêm com propriedades regeneradoras da pele.

Um movimento paralelo foi o da formação de vendedores. “As clientes, sobretudo elas, querem detalhes dos produtos e não gostam de ouvir termos chulos”, diz Camila Gentile, sócia da marca Exclusiva Sexshop, que oferece mais de 17 000 tipos de artigos destinados às práticas sexuais. Fez sucesso uma maquininha de apenas 100 gramas criada para estimular partes da anatomia feminina por meio de sucção. O dispositivo (com sistema de carregamento magnético) ganhou fama depois de aparecer no Instagram da cantora Anitta, que agradeceu ao item por “salvá-­la”. Peças lançadas inicialmente no mercado americano não demoram a desembarcar pelas bandas de cá. O destaque é uma prótese masculina indicada a uma premiação na mais recente Consumer Electronic Show, em Las Vegas, a maior feira de tecnologia do mundo. A mercadoria tem sensores inteligentes que monitoram o prazer da usuária. Depois do apogeu, podem-se acompanhar na tela do smartphone gráficos que indicam os pontos de maior sensibilidade, para ensinar o caminho das pedras.

Existem, ainda, naturalmente, algum constrangimento e vergonha, e por isso crescem também as vendas on-line. Entre 2018 e 2019, o número de compras via e-commerce do setor aumentou 62%, de acordo com monitoramento da consultoria Compre& Confie feito a pedido de VEJA. O valor médio das aquisições: 219 reais. Presencialmente ou a distância, o prazer feminino é definitivamente delas, e ponto-final.


(./Divulgação)

Satisfyer Pro 2
Dispositivo que estimula o clitóris por meio de sucção
700 REAIS


(./Divulgação)

Pretty love
Faz movimentos sincronizados e emite sussurros por meio de fone de ouvido
500 REAIS


(./Divulgação)

Magic Motion
Treinador de pompoarismo via aplicativo. Sensível às contrações musculares, orienta a prática correta dos exercícios
426 REAIS


(./Divulgação)

ORA 3
Replica os movimentos da língua, em sua lateral feita de silicone. Pode ser usado em combinação com outros aparelhos
170 DÓLARES

Publicado em VEJA de 11 de março de 2020, edição nº 2677

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