No Brasil, CEO do Snapchat estuda o mercado e experimenta caipiroska
Evan Spiegel diz que 10% dos smartphones brasileiros possuem o aplicativo e garante que, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, serviço já ultrapassou o Twitter
Fundador do Snapchat, o americano Evan Spiegel foi protagonista de um daqueles episódios que vão da comédia ao constrangimento na velocidade da internet. Na semana passada, vazaram na rede e-mails de seu tempo de estudante da Universidade Stanford. Nos textos, Spiegel contava suas aventuras sexuais e não raro tratava as ex-colegas em termos nada elogiosos. Spiegel se desculpou após o vazamento, e até a universidade veio a público, rogando a seus alunos que não seguissem o exemplo. Evidentemente, o episódio não é abonador, mas não apaga o feito desse jovem de apenas 24 anos que criou o aplicativo de mensagens instantâneas que já reúne cerca de 60 milhões de pessoas, segundo dados não oficiais. Na semana passada, ele passou quatro dias no Brasil para estudar o mercado, entender por que 10% dos smartphones brasileiros possuem o serviço e, de quebra, experimentar a caipiroska. “Adorei!”, diz.
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O Snapchat permite o envio de mensagens (vídeos, textos e fotos) que são deletadas automaticamente tanto do dispositivo do remetente quando do destinatário segundos após o envio. “O Snapchat é uma rede para que amigos muito íntimos compartilhem conteúdo”, diz Spiegel. “As mensagens não ficam armazenadas no smartphone e também são apagadas dos nossos servidores.”
No Brasil, Spiegel deveria visitar São Paulo para tratar de negócios, mas uma parada no Rio foi inevitável. “Fui ao ‘Big J’ (referência ao Cristo Redentor, o ‘grande Jesus’) – e bebi caipiroska. Adorei o Rio!”, diz, acrescentando que estranhou o fato de chegar ao país e não encontrar enfeites da Copa do Mundo espalhados pelos aeroportos.
Spiegel evita a imprensa nos Estados Unidos. “Os jornalistas adoram colocar números em suas manchetes”, diz. No Brasil, ele mantém a aversão às cifras. Não diz quantos usuários utilizam o Snapchat, tampouco confirma outro número: os 3 bilhões de dólares que Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, teria oferecido para comprar sua criação. Ele diz que não tem planos de vender a empresa. “Minha equipe é muito boa e o Snapchat é mais do que um aplicativo”, diz. Para ele, o grande trunfo da rede é o fato de ela não vender os dados de seus usuários para anunciantes.
Durante a entrevista a VEJA.com, Spiegel anotou em seu iPhone todos os aplicativos citados durante a conversa. “Como se soletra? O que faz? Muita gente usa?”, questionava inquieto. “Estamos aqui para estudar e aprender. Ainda é cedo comentar qualquer plano para o Brasil”, despista. Com sua gerente de comunicação à tiracolo, explicou em tom professoral o funcionamento do Snapchat e suas vantagens em comparação à concorrência – que não é pequena no Brasil. O discurso segue o do Vale do Silício, a região da Califórnia que concentra as empresas de inovação: conciso, direto e claro. “Atendemos às necessidades de quem quer compartilhar algo apenas com poucos amigos e não com milhares de pessoas.” A indireta, é claro, é para o Facebook, que lançará nas próximas semanas um aplicativo similar ao Snapchat.
Sem revelar números, Spiegel garante apenas que o número de usuários do Snapchat nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha já supera o de adeptos do Twitter nesses países. De acordo com estudo da Pew Research, 9% de todos os americanos possuem o app em seus smartphones. “Nosso objetivo agora é desenvolver o melhor produto e não fazer dinheiro. Os investidores acreditam nisso”, diz. Na despedida, Spiegel mostrou que deixa o Brasil levando algum aprendizado na bagagem. Ao dizer adeus, ensinou Mary Demyan Ritti, sua gerente de comunicação, a fazer o agradecimento pelo encontro em português. “Você é mulher e, por isso, deve dizer: ‘Obrigada’. Eu, por outro lado, devo dizer: ‘Obrigado’.”