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Kindle Fire não desbanca iPad, mas reforça aposta no conteúdo

Lançamento da Amazon é básico demais para atrair os fãs dos produtos "Apple", mas deve incomodar os fabricantes de tablets que rodam Android

Por Beatriz Ferrari e Carolina Guerra
29 set 2011, 06h34

Com o Fire, deve ganhar vigor a marcha do mercado rumo ao fortalecimento dos sistemas, da oferta de conteúdo e da prestação de serviços

Há um ano e meio, o mercado aguarda o surgimento de um produto para ser chamado de “Ipad Killer”, ou seja, que seja capaz de oferecer verdadeira competição ao tablet da Apple, o Ipad, lançado em março de 2010. A expectativa dos consumidores é que, com uma concorrência efetiva, a empresa finalmente baixe seus preços. Nesta quinta-feira, outra gigante americana, a Amazon, forneceu uma esperança ao anunciar com estardalhaço seu novo tablet, o Kindle Fire. Uma análise mais detalhada, contudo, revela que não será desta vez que a companhia fundada por Steve Jobs virá seu mercado realmente ameaçado. O mesmo não se pode dizer, entretanto, das diversas fabricantes que oferecem tablets que rodam o sistema operacional do Google, o Android. (Veja quadro comparativo dos principais modelos de tablet)

O Fire, lançado nesta quarta-feira, é uma versão modernizada dos primeiros Kindles – pequenos aparelhos cuja principal função é permitir uma leitura confortável de livros digitais. O lançamento da Amazon traz inovações para esta linha de produtos, como a tela touch screen, a memória de 8 gigabytes e o sistema Android de navegação. Porém, a aposta do sucesso do novo aparelho não está na tecnologia de seu hardware, em que os rivais ganham disparado, mas sim na oferta de conteúdo e serviços.

O Kindle Fire foi todo pensado para potencializar a “experiência Amazon” do usuário. Isto significa que, com um dispositivo barato (199 dólares, 60% a menos que o iPad mais em conta), a Amazon dará acesso ao comprador do Fire a um sistema integrado: loja virtual de aplicativos; conteúdos próprios e de parceiros, como livros digitais, filmes, músicas, etc; além de seu serviço de computação em nuvem, a Amazon Cloud Drive. O comprador passa a ter, portanto, num só dispositivo, conteúdo e computação em nuvem de um único provedor, com marca respeitada e conhecida. Tal modelo – que oferece todo um meio ambiente de trabalho, informação e diversão ao usuário – é parecido com o da Apple, que, em seus tablets e smartphones, fornece aos clientes a famosa linha do prefixo ‘i’: iTunes, iCloud, iBooks, iPhoto, iMovie, iWork, etc.

A Apple, no entanto, deverá ser pouco incomodada pelo novo Fire. É que a empresa tem o diferencial de trabalhar apenas com “máquinas matadoras”, com visual bem acabado, hardware poderoso, sistema operacional estável, entre outros atributos reconhecidos pelo mercado. E tudo isso sai caro. Mesmo assim, dificilmente seu público, que se mostra disposto a pagar muitos dólares a mais para “ser Apple”, mudará para uma plataforma mais simples. Aos fãs da empresa, a boa notícia é que ela deve ficar atenta a melhorar ainda mais sua oferta de conteúdo, pois, neste terreno, a Amazon pode vir a incomodar – mesmo com seus aparelhos “básicos”. “Apple e Amazon conduzem as estratégias de mercado. Nunca aconteceu de a Apple baixar preços, mas, com a chegada do Fire, a concorrência deve se acirrar, especialmente no campo dos conteúdos”, apontou Marcelo Marzola, presidente da Predicta Coonsultoria.

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O impacto da entrada desse novo competidor no mercado, afirmam analistas, será sentido em maior escala por outros fabricantes de tablets que, assim como o Kindle Fire, usam o sistema Android, como Motorola, Samsung, Lenovo e Toshiba. Essas marcas serão forçadas a se reposicionar no mercado, tanto em preço quanto em conteúdo e experiência ao consumidor.

infografia dos tablets
infografia dos tablets (VEJA)

Básico sim, limitado não – O Fire não veio para brigar em hardware – o que é meio óbvio quando se olha detidamente para a pobreza de recursos do aparelho. Não há câmera, nem microfone. Não existe suporte para internet 3G, apenas conexão para Wi Fi. Em compensação, o preço é superagressivo e o custo-benefício salta aos olhos. O tablet nasce integrado a todo o sistema Amazon, além de dar acesso ao conteúdo de grandes parceiros, como o canal de notícias Fox, a gravadora EMI, e os estúdios Universal e Warner. Sem contar o sistema operacional Android, que despertará facilmente o interesse de desenvolvedores de aplicativos, haja vista sua grande aceitação. “Não há interesse deles em vender recursos que não expandam a ‘experiência Amazon’, como uma chamada em vídeo. Eles foram cuidadosos em oferecer maneiras que facilitem o consumo de seus conteúdos de livros, músicas e vídeos”, explica a analista de pesquisa em consumo da consultoria Gartner, Carolina Milanesi.

Nesse sentido, não era interessante para a Amazon desenvolver um dispositivo cheio de recursos, mas que saísse caro. “Eles têm feito diversas parcerias com provedores de conteúdos nos últimos anos. E é dessa fonte que os lucros virão. Eles querem muito mais expandir a oferta de conteúdo e serviços que entrar na briga de hardware”, explica Martim Juacida, analista da consultoria IDC.

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Todos pelo conteúdo – A cartada da Amazon deve fazer com que ganhe vigor a marcha do mercado rumo ao fortalecimento de seus sistemas e à oferta de conteúdo. “Quem mais vai sofrer com esse lançamento são os fabricantes com menor market share, que têm menos poder de barganha para ter conteúdo diferenciado e desenvolver aplicativos”, avalia. A Apple, por ora, seguirá com sua bem-sucedida estratégia e deverá passar ao largo da tentação de baixar preço – isso seria, inclusive, inédito em sua história.

Tela fosca não foi abandonada – Outro ponto que agradava a alguns usuários nos primeiros Kindles era tela fosca, em preto e branco, que não cansa os olhos – algo que, para o exercício da leitura num dispositivo móvel, é um ponto importante. Apesar de o Fire possuir tela brilhante, a Amazon tomou o cuidado de não abandonar por completo os modelos com visual antigo. Eles continuam, mas foram atualizados para a versão touch screen. “A Amazon tinha até então um aparelho com uma aplicação única, que era a de ler livros, enquanto os concorrentes ofereciam mais. Só que, em seu caso, oferecer um produto é oferecer mais possibilidades de vendas em sua loja virtual”, apontou Marcelo Zuffo, professor do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP.

Strong in content, but only in English – Por enquanto, essa movimentação será sentida mais fortemente nos Estados Unidos, e talvez em outros países com população que fale inglês. É que a Amazon é muito forte em conteúdo, mas apenas neste idioma. A oferta de livros, músicas, filmes, etc, em outras línguas continua incipiente, e a companhia tem empenhado esforços ao redor do mundo para corrigir esta deficiência.

A empresa já está em negociação com editoras para lançar livros virtuais em espanhol, francês, alemão e até em português para, assim, expandir as vendas de seu leitor digital. A Amazon acabou de inaugurar uma loja na Espanha, mas o consumidor local que quiser comprar o Kindle será direcionado à página americana. Na França, é recente a venda de livros digitais em inglês, mas já se fala em parcerias com editoras para venda de títulos em francês.

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No Brasil, a Amazon vem, há alguns meses, conversando com as editoras locais, como Record, Ediouro e Objetiva, com o mesmo intuito, mas ainda não houve grande progresso. Conversas de bastidores apontam que o aparelho, que deve alcançar o índice de 17,5 milhões de usuários no mundo este ano, poderia chegar ao Brasil ao custo de 250 reais. “Vamos ter uma visão mais clara de como o consumidor vai reagir depois que esses impactos forem absorvidos nos Estados Unidos. Então, saberemos se o consumidor prefere um tablet acessível que facilita o acesso ao consumo de conteúdo ou uma experiência maior de uso do hardware”, explica Juacida.

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