Facebook e WhatsApp existirão juntos — e separados
A bilionária aquisição do WhatsApp pelo Facebook mostra que, em rede fechada ou aberta, o negócio de Mark Zuckerberg é um só: conectar pessoas
Por Rafael Sbarai e Renata Honorato
24 fev 2014, 06h54
Na última quarta-feira, o Facebook surpreendeu o mundo ao anunciar a compra do aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp por 19 bilhões de dólares. É a maior negociação do mercado de tecnologia desde 2001, quando houve a fusão entre as americanas AOL (America On-line) e Time Warner no valor de 162 bilhões de dólares. Ao arrematar o app, que reúne 450 milhões de usuários ativos, o Facebook transforma em aliado um de seus maiores concorrentes. A aquisição, contudo, impõe uma questão: como dois produtos em essência tão diferentes – enquanto a rede incentiva a exposição pública, o app convida à conversa privada – coexistirão sob o comando de uma mesma empresa? A contradição é aparente: o que o gigante da rede quer é construir um conjunto de aplicações que permita às pessoas se conectar. Não importa o canal: o negócio de Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook, é a comunicação.
O acordo bilionário foi construído em apenas dois encontros, separados por quatro dias. O namoro começou no dia 9 de fevereiro, quando Zuckerberg convidou para um jantar em sua casa, em Palo Alto, na Califórnia, Jan Koum, CEO e cofundador do WhatsApp. O anfitrião fez a oferta. O acordo foi selado no dia 14, data em que se celebra o Dia dos Namorados nos Estados Unidos. “Koum foi a um jantar especial com Zuckerberg e sua mulher, Priscilla Chan”, contou o jornal The New York Times. “Eles acertaram a compra enquanto saboreavam uma sobremesa de morangos com chocolates.” (Zuckerberg curtiu. E Priscilla?) Dias antes, Larry Page, CEO do Google, teria feito a sua proposta: 10 bilhões de dólares. Não levou.
Facebook x Aplicativos de mensagens instantâneas*
Facebook
Apps
Mensagens (em bilhões)
10
70
Mensagens enviadas por usuários da rede (1,2 bilhão de pessoas) e dos apps (1,8 bilhão)
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* WhatsApp, WeChat, LINE, KAKAO Talk e Viber
Criado em 2009 pelo americano Brian Acton e por Koum – ucraniano que teve uma infância miserável e aprendeu a programar com ajuda de livros emprestados em sebos -, o WhatsApp é o maior símbolo de transformação em curso no mundo virtual: a migração de usuários do SMS, o famoso torpedo, para programas de comunicação instantânea. Estima-se que, em 2012, esses apps tenham comido 23 bilhões de dólares da receita de operadoras de telefonia. No ano passado, cada usuário de celular economizou, em média, 200 reais graças a esses aplicativos. As mensagens trocadas pelo WhatsApp já superam o número de torpedos enviados em todo o planeta. O app ostenta ainda outra marca: registra cinco vezes o número de mensagens trocadas pelo Facebook diariamente. É aí que a trajetória do aplicativo trombou com a da rede social, forçando o gigante a voltar às compras. “O Facebook comprou, sobretudo, uma valiosa carteira de clientes”, diz Jack London, autor do livro Adeus, Facebook, que descreve a natureza volátil do mercado de redes sociais. A notícia da aquisição pegou de surpresa os mais de 6.000 funcionários da rede nos 36 escritórios regionais espalhados pelo planeta. Em alguns, houve comemoração, o que revela que a ascensão dos apps de mensagens instantâneas de fato preocupa.
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Para manter a relevância de sua criação frente aos concorrentes, Zuckerberg vem mudando de estratégia. Aquisições passadas da rede decretaram o fim dos produtos comprados, caso do Gowalla. Considerado o maior rival do Foursquare, serviço de avaliação de estabelecimentos com uso de geolocalização, o Gowalla foi comprado em 2011 e, em seguida, incorporado ao Facebook Places – na prática, desapareceu. Com o Instagram, a história começou a mudar. Adquirido por 1 bilhão de dólares, em maio de 2012, o app de edição e compartilhamento de fotos manteve vida própria e incentivo adicional do novo dono. Assim, o número de usuários saltou de 30 milhões para 150 milhões.
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Os principais apps de mensagens instantâneas
Usuários ativos
WhatsApp
450 milhões
LINE
350 milhões
VIBER
300 milhões
WeChat
272 milhões
Kakao Talk
100 milhões
Com o WhatsApp, a história deve se repetir: o app terá autonomia, apesar da mudança de dono. “O Facebook apoia a manutenção de um ambiente em que pessoas com mentes independentes criem companhias e se foquem no seu crescimento ao mesmo tempo em que se beneficiam da experiência e dos recursos da nossa empresa”, disse, no dia da aquisição do WhatsApp, Zuckerberg, em seu perfil na rede social. É uma boa indicação do que virá. A ideia é criar uma família de aplicações que tem, em seu DNA, a comunicação entre usuários, seja ela alardeada pelo território virtual (via Facebook), seja ela sussurrada em ambiente reservado (WhatsApp).
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Com o aplicativo sob seu domínio, o Facebook terá condições de manter o posto de maior repositório de informações pessoais do planeta (a maior rede social do mundo, com 1,23 bilhão de usuários, já possui o maior acervo de imagens). Terá sob seu controle o serviço com o maior fluxo de mensagens já visto – e uma base de 450 milhões de números de telefones móveis, informações que podem ser cruzadas com dados de seu próprio serviço. Não menos importante, Zuckerberg ganha, enfim, a oportunidade de entrar no mercado chinês, de onde seu site foi banido 2009, para brigar pela atenção de mais de 600 milhões de usuários de internet. Lá, terá um rival à altura: o WeChat, da gigante chinesa Tencent, conhecido pelo público brasileiro pelas propagandas na TV com Messi e Neymar. Para unir as duas redes, o Facebook pode em algum momento criar um recurso que integre a troca de mensagens entre usuários do WhatsApp e de seu aplicativo nativo de conteúdos, o Messenger.
Uma funcionalidade em teste no WhatsApp parece já amarrar as duas redes, como um símbolo do que as duas fazem de melhor. Trata-se de um botão de compartilhamento, especialidade do Facebook. Por ora, o recurso é testado com discrição nos aplicativos Shazam, de reconhecimento de música, e BuzzFeed, do site americano homônimo. Com um clique, o usuário pode enviar conteúdos dos dois apps para uma conversa com seus contatos do WhatsApp. O resultado é animador, segundo informou o BuzzFeed: “Há mais tráfego proveniente do WhatsApp do que do Twitter.”
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Há outro componente da aquisição bilionária que merece especial atenção: dinheiro, é claro. Por ora, a única fonte de receita do WhatsApp é a taxa de anuidade de 1 dólar que os usuários devem pagar após o primeiro ano de uso. É difícil achar quem já tenha feito o pagamento. A revista americana Forbes estima que, em 2013, esses pagamentos tenham chegado a 20 milhões de dólares. Então, em teoria, o Facebook recuperaria os 19 bilhões da compra no prazo de… 950 anos. É possível que Zuckerberg pense em alternativas mais lucrativas. Uma delas poderia ser a introdução no WhatsApp dos stickers, itens virtuais que representam gestos do mundo off-line. O LINE, rival japonês do app, faturou mais de 50 milhões de dólares no último trimestre de 2013 com a venda dos itens virtuais, o que equilave a mais da metade do lucro da companhia.
Será especialmente interessante ouvir o que Koum terá a dizer se o WhatsApp levar adiante tais estratégias para fazer mais dinheiro. Isso porque o ucraniano sempre se mostrou um incansável crítico do modelo de publicidade, que sustenta os grandes da internet, incluindo o Facebook: 90% do faturamento da rede vêm de anúncios. “Cresci na União Soviética, em um mundo sem propaganda”, disse Koum à edição britânica da revista de Wired. Na entrevista, realizada dias antes da venda de seu negócio sem publicidade para o rei da publidade, Koum, que também fará parte do conselho executivo do Facebook, disse ainda o seguinte: “As pessoas precisam nos diferenciar de empresas como o Facebook e Yahoo!, que coletam dados dos usuários e mantém essas informações em seus servidores (…) Não somos uma plataforma de publicidade e não precisamos de uma base de dados pessoais.” Dezenove bilhões de dólares depois, é possível que ele tenha mudado de ideia.
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