Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Empresas aéreas preparam o relançamento dos supersônicos

Quase duas décadas depois do fim do Concorde, empresas projetam aviões ainda mais rápidos, de olho nos muito ricos e nos altos executivos que têm pressa

Por Caio Saad Atualizado em 4 set 2020, 10h58 - Publicado em 4 set 2020, 06h00

Nos anos 1980 e 1990, quando viajar de avião era um luxo, nada se comparava ao glamour de uma passagem no Concorde, a aeronave supersônica de desenho avançado, capaz de percorrer a rota Londres-Nova York em três horas e meia (menos da metade das oito regulamentares). Com o tempo, o fascínio e as pessoas dispostas a bancar o bilhete aéreo caríssimo foram diminuindo, os problemas se acumularam e, em 2003, o Concorde foi aposentado e virou peça de museu. Os supersônicos, no entanto, continuam vivos em pelo menos seis projetos que pretendem fazer renascer, nos próximos anos, as viagens intercontinentais ultrarrápidas. O anúncio mais recente veio da Virgin Galactic, braço da empresa de aviação britânica que também desenvolve um foguete para passeios espaciais. No início de agosto, ela firmou parceria com a Rolls-­Royce, fabricante dos motores do Concorde, para a criação de um modelo comercial capaz de voar a três vezes a velocidade do som — o Mach 3, equivalente a alucinantes 3 700 quilômetros por hora, que reduziria o itinerário Londres-Nova York a uma hora e meia. “Vamos abrir uma nova fronteira nos trajetos em alta velocidade”, prometeu o chefe de operações da empresa, George Whitesides.

A Boeing, por sua vez, vem trabalhando há dois anos em um projeto ainda mais ousado: operar a Mach 5 — ou a 6 100 quilômetros por hora —, baixando o tempo do voo transatlântico para uma horinha. “Esse avião permitirá que uma pessoa cruze o oceano, ida e volta, em um dia”, diz Kevin Bowcutt, chefe do setor de hipersônicos da Boeing, que prevê o voo inaugural para aproximadamente 2030. Também a Lockheed Martin está desenvolvendo um projeto supersônico, em parceria com a Nasa. O ponto central das pesquisas é como atenuar o tremendo “buuum” que ressoa ao se cruzar a barreira do som. “Definitivamente, o barulho é o mais importante”, afirma Paulo Greco Jr, professor de engenharia aeronáutica na Escola de Engenharia da USP em São Carlos. Por causa dele, o Concorde foi proibido de alcançar velocidade máxima sobre continentes — só podia fazê-lo sobre o mar. Uma das soluções em estudo é mudar a posição dos motores — em vez de estarem embaixo das asas, eles ficariam em cima delas, e sua estrutura funcionaria como um escudo para impedir a propagação do som.

Os novos supersônicos são, em geral, para poucas pessoas. Enquanto o Concorde acomodava de noventa a 120 passageiros, o projeto da Boeing permite no máximo 100 e o da Virgin, dezenove. O Overture, projetado pela Boom, startup em parte financiada pela Virgin, comportará 55 passageiros, atingirá velocidade parecida com o Mach 2 do Concorde e deve entrar em teste em 2025. Os dois mais lentos (Mach 1.4), se é que se pode usar o termo, são o Aerion AS2, com capacidade prevista de doze assentos e estreia estimada em 2027, e o Spike S-512, para dezoito pessoas, esperado em 2025. “Com a eliminação da primeira classe em muitas companhias aéreas, os novos supersônicos têm chance de atrair a clientela muito rica. Mas o grande mercado deve ser o de altos executivos que não podem perder tempo”, diz Guilherme Machado, da consultoria em aviação executiva Asa Consulting.

APOSENTADO - Concorde: design avançado e rejeição ao estrondo sônico – (Daniel Janin/AFP)

O Concorde fez o primeiro voo comercial em 1976, de Paris ao Rio de Janeiro, com escala em Dacar. Tempo de percurso: seis horas, metade do usual. Valor da passagem: cerca de 90 000 reais (ainda não há previsão de preço para os novos supersônicos). Seu interior lembrava muito a classe econômica de hoje. A diferença estava nos serviços, com refeições à base de caviar e champanhe. “Pilotei um voo da British Airways para o Rio de Janeiro em 5 de abril de 1985. A recepção foi fenomenal, animada, viva, simpática. Na partida, sobrevoei a Praia de Copacabana e o Cristo Redentor. Lembro como se fosse hoje”, disse a VEJA o piloto inglês Mike Bannister, que também comandou a última viagem do Concorde, Nova York-­Londres, em outubro de 2003. A martelada supersônica da pandemia sobre a aviação pode atrapalhar os prazos da nova aeronave ultrarrápida, mas, nos EUA, já está em movimento projeto de lei para autorizar os voos acima de Mach 1. Depois disso, o céu não terá limite.

Publicado em VEJA de 9 de setembro de 2020, edição nº 2703

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.