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Vírus pouco conhecido é encontrado nos bancos de sangue brasileiros

Pesquisadores da USP detectaram um patógeno emergente em amostras de sangue de doadores em três regiões do país

Por Julia Moióli | Agência FAPESP
Atualizado em 3 jul 2023, 17h09 - Publicado em 3 jul 2023, 13h59

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) detectaram um vírus pouco conhecido – o gemykibivirus-2 humano (HuGkV-2) – em amostras de sangue de doadores de três regiões brasileiras. Embora não haja evidências de que se trate de uma ameaça transfusional, a descoberta confirma a importância do uso de metagenômica (técnica que analisa todo o material genético contido em amostras de um determinado ambiente, sem isolar os organismos) na área de hemoterapia. O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Transfusion and Apheresis Science.

Nas últimas décadas, vírus emergentes e reemergentes que podem ser transmitidos por procedimentos hemoterápicos, como transfusões de sangue, vêm sendo reconhecidos como ameaças à saúde pública. O exemplo mais impactante é o do HIV, causador da aids, que emergiu na década de 1980 e contaminou derivados sanguíneos em diversos bancos de sangue mundialmente até que seu efeito fosse identificado.

Sequenciamento de última geração e análise do metagenoma viral são técnicas de alto desempenho que podem ajudar a investigar potenciais ameaças e, portanto, se tornar ferramentas úteis e viáveis no Brasil, que ainda não conta com estudos aprofundados sobre o tema.

Em trabalho anterior, o mesmo grupo de pesquisadores, vinculados ao Hemocentro de Ribeirão Preto, associado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), já havia identificado o gemykibivirus humano-2 por análise metagenômica em doadores de sangue positivos para HIV e HBV (causador da hepatite do tipo B) do estado do Amapá. A descoberta levantou a hipótese de disseminação do agente viral também entre doadores saudáveis. O trabalho atual, que contou com apoio da Fapesp, buscou justamente avaliar essa prevalência.

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Para isso, foram investigadas 450 amostras de plasma sanguíneo de doadores sadios obtidas em três regiões brasileiras: 150 do Distrito Federal, 150 do Amapá e 150 do Rio Grande do Sul. A análise feita pela técnica conhecida como PCR (reação em cadeia da polimerase, que permite ampliar e sequenciar os ácidos nucleicos presentes em uma amostra biológica) constatou a presença do vírus HuGkV-2, ainda pouco conhecido pela comunidade científica mundial e sem relação comprovada com efeitos clínicos, mas que levantou preocupação na comunidade científica em 2019, após ter sido encontrado em um paciente chinês com síndrome respiratória aguda inexplicada.

A prevalência geral desses agentes nas amostras avaliadas foi de 7,78% – com 15,33% em doadores da região amazônica, 6% do Centro-Oeste e 2% do Sul.

Análise metagenômica

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“É importante lembrar que a metagenômica detecta uma grande abundância de material genético viral em amostras de sangue – conjunto conhecido como viroma humano –, mas isso não quer dizer que esses vírus sejam necessariamente ameaças transfusionais”, explica Svetoslav Nanev Slavov, pesquisador do Instituto Butantan, do Hemocentro de Ribeirão Preto e coautor do estudo. “Para isso, é preciso que atendam a vários requisitos, como serem comprovadamente patogênicos, ou seja, causarem alguma doença no receptor de sangue; serem transmitidos via transfusão; e, por fim, resistirem a todas as condições envolvidas no tratamento dos produtos sanguíneos, como, por exemplo, o uso de radiação ultravioleta.”

“As principais conquistas do projeto são contribuir para a compreensão do impacto dos vírus emergentes na hemoterapia, mostrar a aplicabilidade da metagenômica na área e capacitar pesquisadores brasileiros para trabalhar com esses métodos, incluindo o sequenciamento de última geração”, diz Slavov.

Também participaram do estudo pesquisadores do Centro Universitário Unieuro, em Brasília, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da Fundação Hemocentro de Brasília (FHB), do Instituto de Hematologia e Hemoterapia do Amapá (Hemoap), da Universidade Campus Biomédico de Roma (Itália) e da Universidade de Brasília (UnB).

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