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Rótulos de alimentos industrializados vão mudar; entenda

O Brasil está prestes a viver uma pequena revolução — a da transparência nas informações para combater o consumo excessivo de açúcar, sódio e gordura

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 nov 2019, 10h11 - Publicado em 22 nov 2019, 06h00

A expressão comer de olhos fechados, ao menos para os alimentos industrializados, caducou. Já não se come sem estar atento ao que vai dentro das embalagens. Uma pesquisa recente mostrou que, nos últimos anos, 50% dos brasileiros aderiram à leitura de rótulos com informações nutricionais — embora, ressalve-se, apenas 25% entendam perfeitamente o que está escrito, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Mas há um contraponto positivo a essa maciça incompreensão: a maior parte dos brasileiros (78%), de acordo com o Datafolha, provavelmente reduziria o consumo de refrigerantes e sucos de caixinha se houvesse alertas sobre o excesso de açúcar. A receita: ainda que estatísticas soem aborrecidas, invariavelmente herméticas, não há como evitá-las em um mundo atento aos problemas de saúde e permanentemente colado a preocupações ambientais. E o Brasil, felizmente, está na antessala de uma pequena revolução da transparência.

No próximo dia 9 de dezembro, terá fim o ciclo de consultas públicas organizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), destinado a definir um novo formato para as etiquetas de alertas aos compradores. Foi levada à mesa a ideia de um selo, visível, na frente das caixas e dos frascos, que alerte para a presença exagerada de gordura, sal ou açúcar. Em discussão, há três formatos de desenho: um triângulo preto, um semáforo e uma lupa (veja o quadro ao lado). Profissionais ouvidos por VEJA apontam franco favoritismo para a lupa, opção apresentada pela Anvisa. Essa não é, contudo, a proposta predileta do consumidor nem a de muitos médicos, que pendem para o triângulo. Ele foi o mais votado em outro levantamento, de outubro, realizado pelo Datafolha, que ouviu 1 384 adultos com idade entre 18 e 55 anos de todas as classes socioeconômicas. Mais de 80% dos participantes do estudo conseguiram identificar corretamente qual era o alimento mais saudável com base no rótulo de advertência calcado na figura geométrica de três lados. Com o modelo de lupa, 64% responderam de forma certa. No caso da iconografia inspirada nos sinais de trânsito, o acerto foi de apenas 35%.

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Haverá também alterações nos dísticos já existentes, de modo a padronizar a exibição de dados e permitir maior facilidade de leitura. As letras serão estampadas em fundo branco e sofrerão um aumento de tamanho. A quantidade de açúcar total e a informação sobre a quantidade de açúcar adicionado devem ser cuidadosamente identificadas (veja o quadro). Depois da anuência da Anvisa, os fabricantes terão 42 meses para total adaptação ao formato. “No Brasil, como acontece em outras partes do mundo, a população deve estar sempre atenta, exigindo rótulos que ajudem a deter a epidemia de doenças crônicas relacionadas à alimentação”, diz uma das maiores autoridades no assunto, o médico especialista em saúde pública Carlos Augusto Monteiro, titular da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e membro do grupo de especialistas em alimentação e saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS). Não há exagero nem alarmismo tolo na frase de Monteiro — a clareza tem sido, historicamente, ferramenta de controle, com ótimos resultados.

Um bom exemplo é o do Chile. Em 2016, o país adotou um octógono como marca nas embalagens, semelhante ao triângulo proposto no Brasil. Em apenas dois anos, segundo trabalho conduzido pelas universidades do Chile e da Carolina no Norte, houve diminuição substancial na compra de produtos ricos em açúcar, como bebidas adoçadas e cereais matinais. No caso das bebidas, deu-se uma queda de 25% no consumo. A venda de cereais encolheu 14%. Registrou-se, ainda, um curioso movimento da indústria. Para escaparem dos selos de advertência, que afugentam clientes, os fabricantes reduziram a quantidade de sódio e açúcar dos alimentos ultraprocessados. Com base na comparação da informação nutricional declarada na embalagem de mais 10 000 produtos disponíveis nos supermercados antes e depois da implementação da lei, detectou-se uma subtração de 20% a 35% na quantidade de açúcar de bebidas adoçadas, lácteos e cereais matinais. Um resultado semelhante a esse, no Brasil, seria extraordinário. De acordo com o Ministério da Saúde, os brasileiros consomem 50% a mais de açúcar do que o recomendado pela OMS.

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A valorização dos rótulos no Brasil é recente. Foi só na década de 70 que se estabeleceram os termos que deveriam constar obrigatoriamente nos produtos embalados, com a anotação de ingredientes, aditivos e o país de origem. Nos anos 1990, as coisas melhoraram. Foi determinada a obrigatoriedade da declaração da presença de glúten, bem como definidos os critérios para que atributos nutricionais específicos, tais como “baixo conteúdo”, “alto teor”, “reduzido”, “aumentado” etc., fossem destacados. No início dos anos 2000, finalmente, foram acrescentados à rotulagem os compostos principais dos alimentos: gorduras saturadas, colesterol, cálcio, ferro e sódio, além do valor energético e de nutrientes. Foram passos relevantes, de mãos dadas com o que há de mais avançado mundialmente, mas a caminhada apenas começou — o novo repertório gráfico, que será decidido em breve, é uma pequena adaptação com gigantescos efeitos positivos.

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Publicado em VEJA de 27 de novembro de 2019, edição nº 2662

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