Quem precisa de um check-up presidencial?
O check-up anual do presidente americano Barack Obama inclui mais de 30 exames. Médicos dizem que um homem comum de 50 anos não precisa de tanto para manter sua saúde em dia
A elogiável transparência com que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula agiram em relação a seus problemas de saúde é algo recente no Brasil. Ambos concordaram em tornar públicos doenças e tratamentos para que a nação pudesse manter-se informada, e sempre com clareza. Dilma fez isso enquanto ainda estava em campanha, mas nem sempre foi assim e em muitos países ainda não é. Nos Estados Unidos, porém, trata-se de uma tradição. Em 1956, por exemplo, o jornal The New York Times publicou um relatório médico sobre a condição de saúde do presidente Dwight D. Eisenhower. Ele pretendia se reeleger , mas um ano antes havia sofrido um ataque cardíaco que provocara queda de 6,5% no índice Down Jones.Eisenhower precisava, portanto mostrar ao país que estava recuperado. Com o tempo, e com a aprovação dos presidentes, a divulgação do estado de saúde tornou-se rotina em Washington.
Barack Obama, quando decidiu candidatar-se à presidêcia, divulgou por iniciativa própria um relatório médico detalhado, que atestava sua boa condição física geral. Ao ser eleito, ele foi submetido a dois check-up de rotina para comprovar que estava apto a cumprir suas obrigações com a nação – a partir daquele momento até o fim do mandato. A Casa Branca divulgou os dados médicos no fim de outubro, atestando que ele goza de boa saúde. O presidente largou o cigarro, está com o peso ideal e é ativo na prática de exercícios. Não é diabético, sua pressão é normal e seu colesterol está sob controle.
Para chegar a esses dados, Obama teve que necessariamente submeter-se a uma série de exames. De acordo com a clínica de diagnósticos americana Concierge Medicine, uma das mais conceituadas em medicina de diagnóstico do país, foram mais de trinta avaliações. Desde uma simples e rotineira análise da história clínica do paciente, até os exames mais sofisticados como o doppler de carótidas, um recurso de precisão que pode auxiliar no diagnóstico de aterosclerose. Obama está bem assessorado pelos melhores médicos e tem acesso às últimas novidades da tecnologia na área de saúde. As vantagens de tanta precaução parecem tão óbvias que pessoas comuns podem lamentar a falta de oportunidade – e dinheiro -para submeter-se a uma bateria idêntica de exames. Mas será que é mesmo necessário todo esse cuidado? Até que ponto um homem comum, na mesma idade de Obama, 50 anos, precisa entregar-se a todas as máquinas que a medicina já inventou para garantir a prevenção de doenças ou um diagnóstico rápido?
Especialistas tranquilizam: “Grande parte desses exames são desnecessários. Nem todos precisam ser feitos anualmente”, diz Silvio Luiz Cardenuto, clínico geral e pneumologista da Santa Casa, em São Paulo. “É preciso pensar no custo-efetividade desses exames”, afirma Carlos Costa Magalhães, cardiologista e diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Por exemplo, a análise cardiovascular de Obama tinha exames comuns, como o eletrocardiograma, e avançados como a angiotomografia coronariana. A complexidade de cada um varia muito, assim como o preço, 194 reais e 2000 reais, respectivamente. “Com eletrocardiograma e teste ergométrico você obtém 80% das informações necessárias para determinar prevenção e tratamento de problemas no coração. Os exames mais avançados servem para aprofundar essa avaliação em casos específicos”, explica Magalhães. Para a maioria os exames básicos bastam e isso não significa que esses pacientes estejam sendo menos, ou pior, assistidos clinicamente.
Uma pessoa com boa saúde deve realizar os check-up anuais, mas a determinação de exames específicos ou mais sofisticados depende de uma série de fatores que devem ser avaliados pelo médico. Só uma consulta detalhada e o conhecimento do histórico do paciente podem orientar a decisão sobre pedidos de exames específicos, caso contrário, eles são dispensáveis. Ainda assim, os que fizerem questão de recorrer a um check-up presidencial terão que reservar um bom tempo livre e, principalmente, desembolsar uma boa quantia em dinheiro. Uma bateria semelhante à realizada por Obama não sai por menos que 7300 reais, em um hospital como o Sírio-Libanês, que trata a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Confira infográfico sobre a relação dos exames feitos pelo presidente americano e veja quais deles são necessários para um homem com a mesma idade de Obama: