Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

O fenômeno da dieta cetogênica, a mais seguida pelos americanos

O cardápio da vez abole os carboidratos e manda consumir muita, mas muita gordura em todas as refeições

Por Bruna Motta Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h49 - Publicado em 14 fev 2020, 06h00

“De todos os males que afetam a humanidade, não conheço nem imagino nenhum mais angustiante do que a obesidade”, já dizia o britânico William Banting, dono de uma casa funerária em Londres, que, em 1863, publicou sua Carta sobre a Corpulência. Primeira dieta impressa de que se tem notícia, o regime que fez Banting deixar de ser obeso consistia, mais de 150 anos atrás, na substituição de pães, açúcar e batata por carne e hortaliças — a batida receita low-carb. De lá para cá, a demonização dos carboidratos foi ficando cada vez mais radical, até desembocar na dieta cetogênica, hoje a mais seguida nos Estados Unidos, que preconiza o consumo em grande escala de gordura, muita gordura.

A estrela mais fulgurante do universo cetogênico é a cantora Adele, que perdeu 45 quilos em seis meses e não para de postar fotos do corpo esbelto e posar com vestidos curtos e decotados. No Brasil, a dieta também é seguida e elogiada por famosos como o ator Bruno Gagliasso e a influenciadora fitness Gabriela Pugliesi (sendo que no caso deles, ao contrário do de Adele, o antes e o depois são quase iguais). Os três, e milhões de adeptos mundo afora, cumprem à risca a lei que determina que, das calorias consumidas em um dia, 70% venham de gorduras, 20% de proteínas e meros 10% de carboidratos. A conta das quantidades deve ser 7 gramas de gordura para cada 2 gramas de proteína e 1 grama de carboidrato.

O princípio por trás da dieta da moda é a cetose, nome do processo que transforma gordura em energia — em contraponto à glicose, parceira íntima dos famigerados carbs. A glicose é o “combustível” mais amplamente utilizado pelo corpo humano, mas, se a ingestão de carboidratos cai a quase nada, a cetose ocupa seu espaço. “O organismo entende que precisa produzir energia em forma de gordura”, explica o nutrólogo Felipe Manzano. Vantagens da troca: a queima de calorias é muito rápida, o nível reduzido de açúcar no sangue resulta em menor produção de insulina (o “hormônio da gordura”) e a sensação de saciedade dura mais tempo. Desvantagens: o cardápio é cansativo, a liberação pode levar ao consumo exagerado das gorduras saturadas, que causam problemas cardiovasculares e hepáticos, e a pessoa corta das refeições alimentos notoriamente saudáveis, como frutas e cereais integrais.

Reduzir a ingestão de carboidratos é parte inerente de qualquer dieta — foge-se tanto deles que o léxico ganhou um novo termo, “carbofobia”, e mesmo a apologia da gordura não é novidade (veja o quadro). A própria dieta cetogênica é citada nos registros médicos desde o início do século passado, quando se constataram seus benefícios no tratamento de crises epilépticas. Mas o recurso da cetose para emagrecer nunca teve tanto peso (com perdão do trocadilho) quanto agora, a ponto de, nos Estados Unidos, estarem em andamento mais de setenta pesquisas sobre os efeitos da dieta. O organismo demora uns quatro ou cinco dias para registrar a troca da glicose pela cetose como fonte de energia, mas, a partir daí, os efeitos aparecem rapidamente. O representante comercial Henrique Ferreira, de 44 anos, parou de se exercitar em 2015 e, em um ano, ganhou 50 quilos, chegando a 124. “Minhas taxas estavam todas desreguladas, e meu médico sugeriu a dieta. Em onze meses, perdi 36 quilos”, relata Ferreira, que hoje é vegetariano. Curiosamente, a personal trainer de Adele, a brasileira Camila Goodis, não é lá muito fã da cetogênica. “Toda dieta a ferro e fogo dá resultado, mas o importante mesmo é mudar os hábitos alimentares”, disse Camila a VEJA — ela atende uma legião de artistas em Los Angeles, onde mora, e confidencia que a cantora “não gosta muito de exercícios”.

O cardápio típico da dieta cetogênica consiste de ovos, queijo, castanhas, folhas e vegetais com alto teor de proteína, como brócolis, couve-flor e espinafre — tudo nadando em azeite, manteiga, banha de porco ou óleo de coco. “Prisão de ventre é um efeito colateral comum, daí a importância dos vegetais”, alerta o nutrólogo Manzano. No quesito carnes, o alimento mais recomendado é salmão, peixe rico em gorduras do bem, mas bacon, presunto e costela também fazem sucesso nas refeições. O banimento dos cereais ricos em fibras é contraindicado a pessoas com histórico familiar de problemas cardiovasculares, e a dieta não fará bem àqueles que praticam futebol e corrida. “Eles dependem da glicose para ter um pique mais rápido”, explica o cardiologista Fabrício Braga. Isso posto, quem estiver acima do peso poderá, com cuidado e a supervisão de um nutricionista, empanturrar-se desta contradição em termos: gordura para combater a gordura.

Continua após a publicidade

dietas

Publicado em VEJA de 19 de fevereiro de 2020, edição nº 2674

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.