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Nossa capacidade de regular sentimentos pode afetar o risco de demência?

Segundo estudo, conexões de regiões do cérebro que processam memórias e emoções, quando afetadas, podem aumentar o risco de doenças mentais

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 jan 2023, 14h22 - Publicado em 20 jan 2023, 14h21

Em um estudo sobre a transferência emocional em adultos jovens e idosos, publicado na Nature Aging Trusted Source, pesquisadores descobriram que os mais velhos exibem maior conectividade entre as áreas do cérebro ligadas ao processamento emocional e autobiográfico. A pesquisa também investiga se a atenção plena ou a meditação “compassiva” podem ajudar a reduzir o risco de demência, uma vez que as emoções negativas crônicas estão associadas a condições neurodegenerativas.

“Essas descobertas nos ajudam a entender como a empatia e a compaixão são representadas no cérebro das pessoas mais velhas”, disse Olga Klimecki, neurocientista e psicóloga, líder da equipe do Centro Alemão para Doenças Neurodegenerativas (DZNE) em Dresden, na Alemanha, e uma das autoras do estudo. “Também nos fornecem um marcador de conectividade cerebral para ansiedade, ruminação e pensamentos negativos, que pode servir como um índice de como as intervenções funcionam no futuro”, acrescentou ela, sobre a pesquisa dividida em dois experimentos.

Para o primeiro experimento, os cientistas recrutaram 26 indivíduos com idade média de 68,7 anos e 29 indivíduos com idade média de 24,5 anos. Eles monitoraram os participantes por ressonância magnética funcional (fMRI) enquanto assistiam a vídeos projetados para induzir empatia. Os adultos mais velhos demonstraram níveis mais altos de empatia do que os adultos mais jovens ao assistir a vídeos de baixa emoção e mais positividade ao assistir a vídeos de alta e baixa emoção.

Esses níveis mais altos de empatia, porém, previram um aumento do efeito negativo de assistir a vídeos de alta emoção em adultos mais velhos e mais jovens. Os pesquisadores concluíram então que existe uma conexão mais forte entre o PCC (córtex pós-cingulado ligado ao processamento de memórias autobiográficas) e a amígdala (que processa as emoções) em adultos mais velhos do que nos mais jovens.

No segundo experimento, os cientistas conduziram o mesmo protocolo em 127 adultos com idade média de 68,8 anos, comparando os dados de fMRI resultantes com pontuações auto-relatadas das escalas de ruminação e empatia. A conectividade entre o PCC e a amígdala se correlacionou com níveis de ansiedade e ruminação, mas não com empatia.

Isso quer dizer que os adultos mais velhos podem regular com mais eficácia seus estados emocionais pois tendem a priorizar as interações sociais e emocionais e têm um viés de positividade. E que carregar emoções negativas de um momento para o outro está ligado a condições como depressão, ansiedade e ruminação, o que pode aumentar o risco de demência. Trabalhos anteriores, no entanto, mostram que a transferência emocional se concentra em pessoas jovens e saudáveis. Ainda não se sabe como ela afeta os idosos e como o pensamento positivo modifica seus efeitos.

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Fator de risco potencial para demência?

Os pesquisadores também descobriram que a alta interconectividade PCC-amígdala previu pensamentos negativos mais frequentes após assistir a vídeos de alta emoção, o que pode contribuir para a inércia emocional e atenuar a recuperação de situações sociais negativas.

Eles apontaram que isso pode ocorrer por meio de associações com memórias afetivas pessoais, especialmente em adultos mais velhos com níveis mais altos de ansiedade e ruminação. Acrescentaram ainda que o PCC é comumente afetado pela doença de Alzheimer e essas mudanças observadas na conectividade podem sim se traduzir em maior risco de demência.

Limitações do estudo

Mas, de acordo com especialistas, há limitações no estudo. “Embora vejamos uma correlação nele, não vemos necessariamente a causalidade”, afirmou Howard Pratt, diretor médico de saúde comportamental da Community Health of South Florida, não envolvido no estudo. “O sujeito não seria capaz de correlacionar quais emoções aquela pessoa estava sentindo apenas olhando para a ressonância magnética funcional”.

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Sony Sherpa, da Nature’s Rise, concordou. Segundo o especialista, como o estudo teve apenas um pequeno número de participantes, as descobertas podem não ser verdadeiras para uma população maior e mais diversificada. “Para realmente entender o quão eficaz é um melhor gerenciamento emocional na prevenção de doenças relacionadas ao envelhecimento, estudos maiores com diferentes tipos de pessoas precisam ser conduzidos”, disse ele, que acrescentou. “Além disso, cientistas e profissionais médicos também devem considerar que pode haver elementos para o envelhecimento patológico que não podem ser explicados apenas pelo controle emocional”.

Professora de gerontologia, psicologia e engenharia biomédica da University of Southern California, Mara Mather expressou ainda uma preocupação com o estudo em passar uma impressão equivocada sobre os mais velhos. “Pesquisas anteriores indicam que o bem-estar emocional normalmente melhora na idade adulta. E no estudo atual, os mais velhos sentiram mais empatia e emoções positivas ao ver as fotos do que os mais jovens”, observou. “Os padrões cerebrais nos quais os autores se concentram não se relacionam com esses efeitos de positividade relacionados à idade. Em vez disso, eles estão associados a diferenças individuais entre esses idosos”, completou.

Efeitos da meditação

No estudo, os pesquisadores sugerem que a meditação pode reduzir o risco de demência ao prevenir a inércia emocional. Para testar essa hipótese, eles conduzem uma pesquisa intervencional de 18 meses para avaliar os efeitos dessa prática no risco de demência.

“Para refinar ainda mais nossos resultados, compararemos também os efeitos de dois tipos de meditação: a atenção plena, que consiste em se ancorar no presente para se concentrar nos próprios sentimentos, e a chamada meditação ‘compassiva’, que visa aumentar ativamente as emoções positivas em relação aos outros”, afirmaram.

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“Sabemos que o treinamento de meditação tem um impacto benéfico nas emoções e nos processos de atenção”, afirmou Olga. “Ter emoções equilibradas reduz o risco de neurodegeneração e pessoas que meditam com mais frequência têm cérebros mais bem preservados. Parece, portanto, que a meditação pode ajudar a reduzir os fatores de risco para demência, como emoções negativas, e impactar positivamente a atenção na velhice”, finalizou.

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