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Leite materno contém mais de 700 bactérias benéficas

A colonização bacteriana muda durante a lactação e é influenciada por diversos fatores como o tipo de parto e a obesidade materna

Por Da Redação
8 jan 2013, 19h12

Pesquisadores descobriram que o leite materno contém mais de 700 bactérias com funções ainda desconhecidas, mas provavelmente benéficas. O estudo foi publicado no The American Journal of Clinical Nutrition e relaciona a existência da comunidade bacteriana a variáveis como obesidade e tipo de parto, que podem influenciar na qualidade do leite materno oferecido desde o primeiro jato produzido, o chamado colostro. “A presença de bactérias em mães saudáveis sugere que elas devem ter uma importante função biológica”, afirma a PhD e pesquisadora do Instituto de Agroquímica e Tecnologia da Alimentação do Centro Espanhol de Pesquisa Nacional, Maria Carmen Collado.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: The human milk microbiome changes over lactation and is shaped by maternal weight and mode of delivery

Onde foi divulgada: The American Journal of Clinical Nutrition

Quem fez: Raul Cabrera-Rubio, Maria Carmen Collado, Kirsi Laitinen, Seppo Salminen, Erika Islauri e Alex Mira

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Instituição: Conselho Espanhol de Pesquisa Nacional e Centro para Pesquisa de Saúde Pública

Dados de amostragem: 18 mulheres grávidas

Resultado: A pesquisa descobriu que o leite materno é colonizado por mais de 700 espécies de bactérias cuja variedade muda durante a lactação e é influenciada por diversos fatores relacionados à mãe do bebê.

Segundo Maria Carmen, o primeiro trabalho a identificar a presença de micróbios benéficos no leite materno foi publicado em 2003, por um outro grupo de pesquisadores espanhóis, e até essa época o leite era considerado estéril a menos que existisse uma infecção e/ou contaminação. De lá pra cá, surgiram outros estudos e a presente pesquisa trouxe novidades no que se refere à presença dessas bactérias.

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Utilizando técnicas baseadas em análise de DNA, os pesquisadores viram que os micróbios estavam presentes tanto em amostras de leite coletado no primeiro e no sexto mês de lactação, como também no colostro, indicando que essas bactérias não são uma contaminação. “Nossa hipótese é que esta função deve ser tanto metabólica, para o bebê digerir os componentes do leite, ou imunológica, na estimulação ou treinamento do sistema imunológico do bebê durante seu desenvolvimento”, afirmou Carmen, em entrevista ao site de VEJA.

A pesquisa também observou a existência de variáveis maternas, ainda não claras, que influenciam na riqueza microbiana do leite. Entre elas, o tempo de lactação, o peso e o Índice de Massa Corpórea (IMC) da mãe, assim como o ganho de peso durante a gravidez. Outro fator de forte impacto é o tipo de parto, já que se observou diferenças nas comunidades bacterianas dos leites de quem teve parto normal e cesariana (eletiva e de urgência).

“O trabalho mostra que partos cesarianos alteram a composição bacteriana e que seus efeitos no desenvolvimento do sistema imunológico do bebê devem ser melhor compreendidos”, explica Alex Mira, PhD e pesquisador do Centro para Pesquisa de Saúde Pública da Espanha.

Os resultados podem até sugerir que é possível uma mãe ter um leite mais saudável optando por um parto normal, por exemplo, ou mantendo o peso. Mas os cientistas afirmam que mais pesquisas são necessárias. Quando se fala em amamentação, os pesquisadores dizem que é necessário analisar se estratégias alimentares são capazes de modificar a composição microbiana sem mudar as outras propriedades benéficas do leite humano. “Nós também gostaríamos de fornecer novas informações à indústria alimentícia infantil para incluir micróbios nas fórmulas e imitar a real composição e efeitos do leite humano”, acrescentou Mira.

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“Esperamos que nosso estudo permita novas aplicações nos campos da medicina e da nutrição personalizada”

Maria Carmen Collado

PhD e pesquisadora do Centro Espanhol de Pesquisa Nacional

O que muda com essa descoberta?

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Nosso estudo concentrou-se na grande biodiversidade microbiana em amostras de leite para mostrar que essa comunidade de bactérias era diferente daquelas encontradas na pele, intestino, vagina ou boca porque tem-se sugerido que são contaminantes e não habitantes do leite. A origem desses micróbios, no entanto, permanece desconhecida, e a pesquisa sobre isso continua ocorrendo. Nosso estudo fornece pela primeira vez a descrição dos micróbios do primeiro leite (colostro) e como essas populações microbianas são influenciadas por diferentes variáveis que tem um impacto na colonização infantil e na maturação do sistema imunológico. Nós esperamos que nosso estudo permita novas aplicações nos campos da medicina e da nutrição personalizada.

As bactérias estão no colostro ou no leite materno?

O colostro é um dos primeiros fluidos produzidos pelas mães e é considerado o primeiro alimento para bebês recém-nascidos. O colostro contém um grande número de anticorpos chamados de “imunoglobulinas A” que protegem as membranas mucosas da garganta, dos pulmões e dos intestinos dos recém-nascidos e também contêm um amplo espectro de micróbios que sustentam a colonização microbiana inicial. Então, esse colostro é necessário para um estabelecimento microbiano preciso e o desenvolvimento da imunidade. Os micróbios foram encontrados no colostro, indicando que essas bactérias não são uma contaminação; e também foram encontrados nos leites maternos de um e de seis meses de amamentação. Nós esterilizamos a superfície da mama e analisamos o leite materno após desperdiçadas as primeiras gotas de leite para evitar contaminação.

Que variáveis influenciam na riqueza microbiana do leite materno?

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Não está claro quais são as variáveis que influenciam a diversidade microbiana do leite materno. Nós descobrimos que o tempo de lactação, o peso e o Índice de Massa Corpórea (IMC) da mãe, assim como o ganho de peso durante a gravidez, tiveram um impacto significativo. E observamos que o tipo de parto teve um importante impacto já que encontramos diferenças entre os partos vaginal e cesariano.

Por que vocês dizem que as bactérias descobertas no leite materno são importantes para o sistema imunológico? Por que não para o metabolismo também?

Porque uma adequada colonização microbiana dirige o desenvolvimento e amadurecimento precisos de um sistema imunológico. Sabe-se que micróbios são necessários para formar o sistema imunológico durante a infância e quando ocorre algum problema o sistema imunológico é alterado aumentando o risco de doenças relacionadas à imunidade. A maior taxa de doenças relacionadas à imunidade em bebês alimentados com leite em pó apoia este ponto de vista. Mas é claro que é possível que as bactérias do leite desempenhem ambas as funções, também ajudando a digerir alguns nutrientes e fazendo deles prontamente disponíveis para as crianças. Atualmente estamos trabalhando para desvendar isso.

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