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“Estou curada”, diz atriz sobre câncer de mama

A VEJA, Simone Zucato conta sobre a notícia da cura da doença diagnosticada em 2018, pouco antes de gravar a novela “O Sétimo Guardião”

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 out 2022, 12h17 - Publicado em 19 out 2022, 11h23

Sim, estou curada! Minha quimioterapia termina definitivamente em fevereiro de 2023, mas já recebi a notícia do meu médico mastologista que posso ser considerada 100% curada. (O protocolo para um câncer de mama ser considerado curado é de cinco anos, sem reincidência).

Descobri o câncer de mama em 2018. Desde os 25 anos, eu faço exames periódicos porque descobri que tinha uma displasia mamária, até que um dia apareceu um resultado suspeito. Achei estranho, passei com médicos mastologistas que disseram que não era nada, para repetir o exame em seis meses. Só que além de atriz, eu também sou médica e fiquei com uma pulga atrás da orelha. Poucos dias depois, encontrei por acaso uma amiga ginecologista e pedi recomendação de um bom mastologista. Ela me indicou o Joaquim Teodoro. Ele pegou meu exame e não precisou ver nenhum laudo: na lata, me disse que aquilo parecia um câncer de mama. Claro que me assustei. Saí do consultório muito preocupada, tinha uma viagem na semana seguinte para Portugal e no dia seguinte, recebi uma ligação do Aguinaldo Silva me convidando para fazer a novela “O Sétimo Guardião”. Era uma terça-feira e o resultado da biópsia saiu na quinta. Não costumo abrir exames antes do médico, mas esse abri e logo na primeira página tinha o diagnóstico: era um câncer de mama. Nesse momento, meu mundo desabou. Engraçado que você nunca se apropria dessa ideia: eu tenho um câncer, acha que isso nunca vai acontecer com você. Tinha 42 anos. Lembro que fui caindo em um sofá, peguei o telefone e liguei para o médico. Expliquei a ele que tinha sido convidada para a novela e que tinha seis meses para ficar boa. Ele me acalmou e fui direto para o consultório. Lá, me explicou o tipo de câncer, como seria a cirurgia e tudo mais. Era abril e eu começaria a gravar em novembro. Mas mesmo ele pedindo urgência, deu entrave no convênio.

Fui para Portugal, viagem que já estava marcada, onde fiquei 15 dias e mergulhei no trabalho. Pelo menos tentei porque é claro que não saia da minha cabeça. Me perguntava o tempo todo porque isso estava acontecendo comigo naquele momento da minha vida, com um trabalho que queria muito fazer. Tinha medo porque um câncer em uma mulher de 42 anos não é um bom sinal. Me perguntava se iria morrer, quanto tempo de vida teria. Tive medo de morrer. Estava apreensiva, mas tinha o alento de saber que quando voltasse, iria direto para a cirurgia. Mas não foi o que aconteceu. Tive problemas burocráticos de convênio, esperei muitos dias, até que entrei com uma liminar para autorizar a cirurgia. E enquanto isso, sabe que está correndo contra o tempo, que tem uma doença crescendo dentro de você. Até a cirurgia, no dia 13 de julho de 2018, quase não dormia, chorava muito, pensando que poderia morrer por conta dessa demora. A operação durou 9 horas. Retiraram dois quadrantes da minha mama esquerda, onde estava o tumor, e fizeram a reconstrução. Logo depois, comecei a fazer a radioterapia. Foram 30 sessões, na 18ª, a pele da minha mama descolou, ficou em carne viva. Posso dizer que a radioterapia foi a pior parte do meu tratamento, não tinha força para fazer nada e ainda tive essa reação de pele.

Tomei a decisão de não contar, só minha família sabia. E ao contrário do que disseram por aí, tomei essa decisão de contar, não por medo de ser demitida da emissora, mas sim porque não queria despertar um excesso de cuidados da equipe comigo. Queria fazer o trabalho da melhor forma possível, mas sem tanta atenção nisso ou as pessoas querendo me poupar porque estava doente. É claro que durante as gravações, tive um pouco de receio de passar mal porque terminei a radioterapia e emendei na quimioterapia. Tinha momentos de náusea, insônia, mas estava tão feliz com o trabalho (Simone interpretava a beata Liliane), que graças a Deus, tudo correu bem. Durante a preparação da personagem e as gravações, nem pensava nisso. Só evitava de me trocar na frente de colegas para não perguntarem sobre uma mancha grande que tinha na mama. Posso dizer que a novela também foi importante para evitar que eu caísse numa depressão. E decidi, depois dela, falar sobre isso porque sabia que era meu papel, como mulher, atriz e médica: dar essa informação e servir de exemplo para as pessoas. Na época, emendei a novela em uma peça de teatro “Silvia”, que trouxe da Broadway e que pretendo voltar em cartaz no começo de 2023.

Em 2020, tive outro baque. Meu pai faleceu em julho, aos 68 anos. Foi de repente, ele era saudável, mas morreu de infarto.  Foi a maior dor da minha vida. Depois disso, a minha mãe ficou ainda mais resistente de sair de casa por conta da Covid-19. Ela ainda é jovem, tem 63 anos, mas nessa época, ela também foi diagnosticada com um câncer de mama. Lembro de estar na sala de exames com ela, e ter visto o câncer dela pelo monitor, enquanto falava com a minha captadora de recursos do meu próximo projeto de teatro, que estava me dando uma boa notícia. Não sabia se chorava ou comemorava, mas acabei chorando na sala. Depois, entendi que o fato de eu ter descoberto o meu antes, ajudou no processo dela já que também pegamos no estágio inicial. Ela se consultou com o mesmo médico e fez a mesma cirurgia que eu, mas com a vantagem de quatro anos depois, precisar de 15 sessões de radioterapia. Agora, faz quimioterapia como eu, e as chances dela se curar são praticamente as mesmas que a minha, o que me deixa duplamente feliz. Nesse momento, eu procuro incentivar as mulheres a fazerem os exames. Conheço muita gente que diz que tem medo de procurar e achar, mas é um erro. O quanto antes souber, mais chances tem de tratar e curar. Não só o câncer de mama, mas qualquer outro tipo de câncer. Hoje, é uma doença tratável, e em alguns casos, como o meu, é curável. O meu tratamento foi 100% bem-sucedido e como disse, hoje já posso dizer que estou totalmente curada!

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