Após uma breve trégua, os casos de Covid-19 voltaram a crescer no Brasil. Isso é visível no compilado de dados públicos e de redes privadas sobre a disseminação do novo coronavírus, o SARS-CoV-2, no país. Segundo o último levantamento do Ministério da Saúde, divulgado nesta terça-feira, 17, a média móvel de novos registros teve alta de 28%. Outra pesquisa, desta vez da rede de saúde integrada Dasa, apontou um aumento de nove pontos percentuais na média de resultados positivos de exames para detecção do vírus: no período de 25 de abril a 1° de maio, a média era de 14,56% e passou para 23,93% entre 9 e 15 de maio. Com base nesta situação, VEJA ouviu José Eduardo Levi, virologista da Dasa, e preparou um perguntas e respostas sobre o crescimento das infecções no Brasil.
Por que os casos de Covid-19 voltaram a aumentar?
O aumento de testes positivos era esperado, principalmente após o relaxamento de medidas, como a obrigatoriedade do uso de máscaras, em algumas cidades desde o mês passado. A cidade do Rio de Janeiro anunciou no fim de abril a retirada do passaporte vacinal para entrada em estabelecimentos, medida que foi adotada pela capital paulista na semana.
Os casos de Covid-19 devem aumentar no inverno, como acontece com outras doenças respiratórias?
Até o momento, não houve sazonalidade de Covid, os picos estão sendo determinados pelas variantes. Isso depende mais do comportamento das pessoas. Se elas aglomerarem em locais sem máscara, deixarem de tomar a vacina e os reforços, o aumento pode ocorrer.
Com as mudanças adotadas pelos estados e municípios, como as pessoas podem evitar a infecção pelo vírus?
Em primeiro lugar, quem está com sintoma, deve ficar em casa, isolado e usando máscara. Esta é uma regra nova que a Covid trouxe. E tem coisas que não mudaram. O vírus não atravessa a máscara e não voa grandes distâncias, então, máscaras de qualidade e distanciamento continuam valendo.
Estou com sintomas de Covid-19 ou tive contato com uma pessoa infectada. Quando devo fazer o teste?
A ômicron tem um curso rápido, começa e termina rápido. Se você esteve com uma pessoa com Covid, deve fazer o teste de três a cinco dias após o contato. A pessoa sintomática pode fazer o teste imediatamente. Esses dados são baseados no RT-PCR, teste padrão-ouro. No caso dos testes de antígeno, o resultado positivo é confiável, mas o negativo nem sempre é, porque a sensibilidade desses testes é menor para ômicron.
A Rede Dasa constatou que a média da quantidade de testes realizados em suas unidades no país cresceu 25% na semana de 9 a 15 de maio em comparação ao período de 2 a 8 de maio. A procura tem relação com mais casos sintomáticos?
Não necessariamente. As pessoas procuram testes em épocas de viagem e também para a volta ao trabalho, mas há casos de pessoas com sintomas. O que está acontecendo é, a partir do momento que tem o autoteste, os dados ficam subdimensionados. O que este dado reflete é que há um aumento de casos visto não só pela procura, mas pela positividade.
Qual o impacto das novas subvariantes da ômicron para o futuro da pandemia?
Para a ômicron, a vacina diminui mortes e internações, mas as pessoas podem ter Covid-19 mesmo com três ou quatro doses. Quando a vacina foi lançada, algumas tinham 95% de proteção contra o vírus. Agora, estamos falando de taxas de proteção mais baixas e sem as barreiras de proteção. O Brasil está em processo de transição de BA.1 para BA.2. No período pré-ômicron, a taxa de reinfecção por outra variante era de 1%. Na BA.2 em relação à BA.1, as taxas de reinfecção são de 30 a 40%. As novas linhagens, BA.4 e BA.5, saíram da BA.2. A grande questão é saber se as filhas da BA2 serão variantes de preocupação, porque, por exemplo, quem já teve BA.1, pode ter BA.4 e BA.5.
Quais ferramentas podemos esperar da ciência para a luta contra a Covid-19?
A esperança está na engenhosidade humana, da ciência e da tecnologia com uma vacina que seja protetora contra todas as variantes do novo coronavírus, um imunizante pan beta-coronavírus. Há grupos trabalhando nisso e alguns estão em fase 2. Vacinas nasais e medicações antivirais.