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Depressão pré-natal também afeta o bebê, aponta estudo

Estudo inédito indica que crianças nascidas de mães com o problema são mais sensíveis ao estresse

Por Da redação
Atualizado em 19 jul 2018, 17h01 - Publicado em 19 jul 2018, 16h23

Um estudo publicado na semana passada no JAMA Network Open apontou que as mulheres da geração millennial – quem nasceu entre 1980 e 1995 – estão mais propensas a sofrer de depressão durante a gravidez do que as mulheres das gerações anteriores. Agora, outro estudo inédito indica que os sintomas da doença podem tornar os bebês mais sensíveis ao estresse. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira na revista Psychoneuroendocrinology. 

A equipe do King’s College London, na Inglaterra, acompanhou 106 gestantes a partir da 25ª semana de gestação; 49 delas receberam o diagnóstico de depressão, mas não tomaram medicamento para tratar o distúrbio. Para verificar se as participantes apresentavam sintomas clínicos da doença  – inflamações e maior produção de cortisol (hormônio do estresse) – foram coletadas amostras de sangue e saliva.  

A primeira descoberta aconteceu ainda durante o acompanhamento da gravidez: o período de gestação das mulheres com depressão é mais curto. Em média, os bebês nasciam oito dias antes, se comparado com as mulheres grávidas que não tinham a doença. 

Segundo os cientistas, a liberação de cortisol e outros sinais de estresse presentes no sangue da gestante cruzam a placenta e passam para o sangue do bebê, por isso eles já sentiam os efeitos da depressão materna ainda no útero. Depois do nascimento, os pesquisadores monitoraram o comportamento dos bebês para verificar a liberação de cortisol, hormônio liberado em situações consideradas como de ameaça ou grande desconforto. Os testes foram realizados aos seis dias de vida, aos oito e aos 12 meses.

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Sensibilidade ao estresse

Após o parto, os bebês cujas mães tinham apresentado sinais de depressão pré-natal eles se mostraram mais hiperativos, chorosos e produziram cortisol em situações em que outras crianças (nascidas de mães que não tiveram a doença) aparentaram normalidade. As descobertas foram registradas em bebês com menos de uma semana de vida.

“Em termos de comportamento, no sexto dia após o nascimento, os bebês com mães que tinham depressão eram mais hiperativos e reativos a som, luz e frio. E era mais difícil consolá-los e acalmá-los”, disse Carmine Pariante, um dos autores da pesquisa, à BBC News Brasil.

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Outras análises da saliva foram feitas no segundo mês de vida e ao completarem um ano (logo após a primeira vacina) para comparação. Os resultados mostraram que, durante a experiência da primeira injeção, as crianças de mães com depressão neonatal se estressaram mais, liberando muito mais hormônio do estresse. Segundo Pariante, crianças nascidas de mães saudáveis não apresentaram mudança no cortisol no recebimento da injeção, ou seja, para eles não era um momento estressante.

“A liberação do cortisol em si não é ruim, porque ele é uma resposta do corpo ao estresse. Ele dá energia aos músculos e eleva a concentração do cérebro. Mas o resultado da pesquisa mostra que os bebês de mães que tiveram depressão na gravidez são particularmente sensíveis ao estresse. Uma situação que seria normal para outros bebês pode ser difícil para esses bebês, e eles reagem ativando a resposta ao estresse”, explicou.

Ele ainda aponta que diante dessa sensibilidade, as crianças enfrentam riscos de desenvolver problemas psicológicos ou mesmo depressão no futuro ao enfrentar situações de tristeza, como perda de familiares, ou de sofrimento, como bullying.

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Reação cerebral

Outro estudo, publicado na revista Biological Psychiatry em 2016, apontou que a depressão durante ou após a gravidez pode provocar redução da espessura do córtex (camada externa do cérebro responsável por pensamentos e comportamentos complexos) em crianças em idade pré-escolar. As descobertas sugerem que o humor da mãe pode afetar o desenvolvimento do cérebro da criança em fases críticas da vida.

Segundo os pesquisadores da Universidade de Calgary, no Canadá, mulheres com sintomas depressivos mais intensos tendem a ter filhos com áreas frontais e temporais mais finas; essas regiões estão envolvidas em tarefas que envolvem inibição e controle da atenção.

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A análise também mostrou que essas associações foram encontradas apenas quando os sintomas ocorreram durante o segundo trimestre e o pós-parto, sugerindo que esses períodos são particularmente críticos para o desenvolvimento do cérebro infantil. “Nossas descobertas ressaltam a importância de monitorar e apoiar a saúde mental nas mães, não apenas no período pós-parto, mas também durante a gravidez”, disse Catherine Lebel, principal autora do estudo, em relatório.

Fatores de risco

Para Rebecca Pearson, principal autora do estudo sobre millennials e depressão pré-natal, alguns fatores específicos podem impulsionar taxas mais altas de depressão em gerações mais jovem, como o aumento da força de trabalho feminina, que pressiona as mulheres jovens a conciliarem família e carreira; e mídias sociais e internet, que podem provocar as comparações sociais e sobrecarga de informações.

Outros fatores importantes são as pressões financeiras, especialmente o preço da moradia e a necessidade de renda para manter o padrão de vida; menor apoio familiar e da comunidade, assim como maior pressão para a manutenção de relacionamentos amorosos bem sucedidos, também podem se tornar fatores de risco para o desenvolvimento de depressão durante a gravidez.

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De acordo com o autor do novo estudo, cerca de uma em 10 mulheres grávidas sofrem de depressão. Por isso é necessário buscar tratamento. Para ele, os tabus sobre depressão e a romantização da gravidez precisam ser superados e as mulheres devem buscar ajuda para evitar que os filhos sofram com o problema.

Poucos estudos

Apesar de a depressão já ser considerada a doença do século e afetar cada vez mais jovens da geração millennial, poucos estudos foram feitos para determinar o melhor tratamento durante a gravidez. Além disso, muitas pesquisas apontam que antidepressivos também podem alterar o comportamento dos bebês, no entanto, com o novo estudo, levanta-se a dúvida se o efeito é decorrente do medicamento ou se da própria doença.

Outro ponto importante é que muitas mulheres deprimidas não fazem o pré-natal corretamente e ainda podem estar cultivando hábitos danosos, como tabagismo e etilismo, assim como tomando medicamentos sem prescrição médica.

Como antidepressivos podem acarretar e mudança comportamental nos bebês, tratamentos não medicamentosos podem ser uma alternativa para combater a depressão durante a gravidez. Vale ressaltar que a decisão sobre o tratamento tem que ser bem informada, para que mãe e médico cheguem à alternativa considerada mais adequada.

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