Como os Estados Unidos vão dar mais atenção à saúde mental
Painel de especialistas lança recomendações de avaliação de ansiedade e estresse em todos os adultos com menos de 65 anos
Na terça-feira 20, foi lançado pela primeira vez um painel de saúde nos Estados Unidos com recomendações de especialistas para que médicos passem a examinar os níveis de ansiedade de todos os pacientes adultos com menos de 65 anos. A orientação se deve pelo extraordinário grau de estresse, que atormenta o país desde o início da pandemia da Covid-19, no início de 2020.
Chamado Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA, o grupo afirmou que a orientação visa ajudar a evitar que distúrbios de saúde mental passem despercebidos e não sejam tratados por anos ou até décadas. O time de médicos fez uma recomendação semelhante para crianças e adolescentes no início deste ano.
Nomeado por um braço do Departamento Federal de Saúde e Serviços Humanos, o painel prepara as orientações desde antes da pandemia. “As recomendações, no entanto, chegam em um momento de “necessidade crítica”, disse Lori Pbert, psicóloga clínica e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, que atua na Força-Tarefa.
Segundo a especialista, os americanos têm relatado níveis de ansiedade descomunais em resposta a uma confluência de estressores, incluindo inflação e taxas de criminalidade, medo de doenças e perda de entes queridos pela Covid-19. “É uma crise”, afirmou Lori. “Nossa única esperança é que as recomendações destaquem a necessidade de criar maior acesso aos cuidados de saúde mental – e com urgência”.
De agosto de 2020 a fevereiro de 2021, a porcentagem de adultos com sintomas recentes de ansiedade ou transtorno depressivo aumentou de 36,4% para 41,5%, segundo um estudo citado pela força-tarefa. O grupo também apresentou dados que mostram que aproximadamente um quarto dos homens e cerca de 40% das mulheres no país enfrentam um transtorno de ansiedade em suas vidas. As mulheres têm quase o dobro do risco de depressão em comparação com os homens, por isso o painel pediu atenção especial aos exames para pacientes grávidas e pós-parto.
Os crescentes problemas de saúde mental, porém, não são exclusivos dos Estados Unidos. A ansiedade e a depressão aumentaram 25% globalmente durante o primeiro ano da pandemia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
Apesar de não serem obrigatórias, as recomendações de painéis como esse influenciam fortemente o padrão de atendimento entre os médicos em todo o país. Em resposta, os profissionais de saúde mental enfatizaram que os programas de triagem são úteis apenas se levarem os pacientes a soluções eficazes e que essas escolhas padronizadas são apenas o primeiro passo para um diagnóstico. “Quando dizem: ‘você deve ter um distúrbio, aqui, tome isso’, podemos enfrentar um problema de prescrição excessiva”, alertou Staab. “Mas o cenário oposto é que temos muitas pessoas sofrendo e que não deveriam estar”.
Os médicos geralmente usam questionários e escalas para pesquisar distúrbios de saúde mental. De acordo com as recomendações, os resultados positivos da triagem levariam a avaliações adicionais, dependendo das condições de saúde subjacentes e outros eventos da vida do paciente.
Alguns profissionais de saúde primária expressaram preocupação em adicionar uma responsabilidade adicional à sua ampla lista de verificação para consultas breves com pacientes. Lori, da Força-Tarefa, respondeu que devem “fazer o que já fazem diariamente: malabarismos e priorizar”.
Ela também disse que a revisão rigorosa do grupo em estudos disponíveis revelou que as pessoas negras são frequentemente subrepresentadas na pesquisa de saúde mental, o que, se não for abordado, pode contribuir para um ciclo de desigualdade. Um problema desenfreado nos Estados Unidos, onde os pacientes negros são menos propensos a serem tratados por problemas de saúde mental do que os brancos, e os pacientes negros e hispânicos são mais frequentemente diagnosticados de forma equivocada. De 2014 a 2019, a taxa de suicídio entre negros americanos aumentou 30%, mostram os dados.
“Padronizar a triagem para todos os pacientes pode ajudar a combater os efeitos do racismo, preconceito implícito e outros problemas sistêmicos na área médica”, afirmou Lori. O painel da Força-Tarefa não estendeu suas recomendações de triagem para pacientes com 65 anos ou mais, pois não há evidências sobre a eficácia das ferramentas de triagem em idosos já que sintomas de ansiedade são semelhantes aos sinais normais de envelhecimento, como fadiga e dor generalizada.