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Como é o novo e moderno Centro de Ensino e Pesquisa do Einstein

A iniciativa sintetiza o pensamento científico contemporâneo ao integrar, em um mesmo lugar, ensino, pesquisa, inovação e assistência

Por Cilene Pereira Atualizado em 13 jul 2022, 17h16 - Publicado em 5 jun 2022, 13h24

Neste mês, o Brasil ganhará oficialmente um dos mais modernos centros de pesquisa e ensino do mundo, uma ótima notícia em um país no qual as verbas destinadas à ciência derretem ano a ano, em clara demonstração de que a área, vital para qualquer nação, não recebe por aqui a prioridade necessária por parte do governo federal. A iniciativa que felizmente vai na contramão do descaso de Brasília é da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, de São Paulo, organização que sempre se destacou no cenário nacional pelo estímulo à pesquisa e ao ensino dos temas relacionados à Ciência da Saúde. A sociedade irá inaugurar seu Centro de Ensino e Pesquisa, um espaço idealizado para servir como ponto de encontro de produção de ciência, ensino e aprendizado e assistência.

O novo centro está instalado em uma construção de 44 mil metros quadrados projetada pelo arquiteto israelense Moshe Safdie, um dos mais conhecidos do mundo, autor de obras espetaculares como a do Crystal Bridges Museum of American Art, em Arkansas, nos Estados Unidos, e a Qorner Tower, em Quito, no Equador. Safdie é conhecido por explorar a luz natural e a integração dos ambientes de forma fluida e delicada. No caso do Centro de Ensino e Pesquisa do Einstein, o desenho arquitetônico traz sua assinatura, claro, e resume a essência do novo modelo de produção e disseminação de conhecimento proposto pela sociedade. As salas de aula e as instalações de pesquisa estão sob o mesmo teto, permitindo que alunos e pesquisadores circulem livremente pelos ambientes.

Visto sem muita atenção, pode parecer uma banalidade, mas criar um espaço dividido por estudantes e cientistas é como ligar um motor que alimentará cotidianamente a curiosidade e o interesse sobre os processos científicos e deixará uma porta permanentemente aberta para as conversas, as dúvidas e as perguntas que movem a ciência. “Sempre acreditamos que uma instituição de excelência em saúde precisa unir assistência, ensino, pesquisa e inovação”, diz o médico Claudio Lottenberg, presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade. “O novo centro é a concretização dos ideais que cultivamos e que estão sintonizados com o pensamento contemporâneo.” De fato, gigantes da área médica têm na base a atuação nesses pilares. Um exemplo é o Johns Hopkins, nos Estados Unidos, aberto em 1876 já com a rota traçada nessa direção, à época uma ideia que se diferenciava da escola europeia de assistência. Hoje, está claro que o modelo da integração é o caminho adequado para acabar com a distância entre a pesquisa, o ensino e a ponta final, o paciente.

O centro vai abrigar alunos de graduação (Medicina e Enfermagem) e de pós-graduação, nível que atualmente concentra o maior número de alunos. Contudo, o Einstein vem investindo pesado na expansão das opções de graduação. “Já oferecemos o curso de Fisioterapia e preparamos para 2023 a abertura das faculdades de Odontologia, Administração em Saúde e Engenharia Biomédica”, explica Alexandre Holthausen, diretor de Ensino da instituição. Os estudantes vão cruzar nos corredores, nos espaços de descanso e convivência, alguns sob o frescor de árvores da Mata Atlântica, com os pesquisadores, hoje abrigados no prédio ao lado, no Morumbi, onde fica o complexo hospitalar do Einstein. Os cientistas vão trabalhar em salas envidraçadas, possibilitando que todos vejam como são conduzidos experimentos que, um dia, poderão contribuir para o desenvolvimento de novos tipos de diagnósticos e de tratamentos. “Quem sabe alguns se interessem e comecem a pesquisar também”, diz o imunologista Luiz Vicente Rizzo, diretor de Pesquisa da instituição.

Hoje, há 773 estudos sendo realizados no Einstein. Entre eles, projetos que usam métodos bastante avançados, como a técnica de edição genética CRISPR, usada na busca de soluções de enfermidades provocadas por alterações no DNA. A anemia falciforme é uma delas. A mutação em um gene leva a uma deformação nos glóbulos vermelhos, que adquirem formato de foice – daí o nome. Mais comum entre a população negra, a doença causa fortes crises de dor e outros sintomas graves, além da própria anemia obviamente. Cientistas da organização estão utilizando a CRISPR na correção genética necessária para a cura da doença e o experimento, assim como outros da área de terapia celular, continuará sua execução em uma das três salas limpas – não permitem qualquer tipo de contaminação em seu interior – que deverão ficar prontas até o ano que vem. Serão as únicas do gênero no país.

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O prédio é ligado ao hospital por uma passarela, já batizada de portal do conhecimento. Ela existe exatamente para facilitar as idas e vindas de médicos, alunos e cientistas entre o complexo hospitalar e o centro, fechando o ciclo da produção, ensino e aprendizado e aplicação do conhecimento. Com uma estrutura tecnológica de ponta e, tão importante quanto, uma cultura científica de vanguarda, o Einstein espera, inclusive, trazer de volta cientistas que hoje estão em outros países simplesmente porque não encontravam aqui condições ideais de trabalho. Segundo o Centro de Gestão de Estudos Estratégicos, entre dois a três mil pesquisadores do Brasil estão em centros de pesquisas estrangeiros. É muita gente, e um país como o Brasil não poderia ter se dado ao luxo de perdê-los. “Queremos repatriar brasileiros que estão em instituições no exterior porque não receberam incentivo de qualquer tipo para ficarem no país”, afirma Sidney Klajner, presidente do Einstein. “A pandemia de Covid-19 reforçou a importância e a urgência de criarmos no Brasil uma estrutura sólida de educação, pesquisa e capacitação em saúde.”

É verdade. Não fossem a estrutura, profissionais gabaritados e investimento maciço em ciência, o mundo não teria respostas tão rápidas sobre o coronavírus e muito menos as vacinas que estão salvando milhares de vida. Nessa jornada, aliás, o Einstein teve participação importante. Foram os pesquisadores do hospital, por exemplo, que lideraram estudos vitais que serviram para derrubar, com ciência de primeira grandeza, crenças destituídas de base científica, como a suposta eficácia da hidroxicloroquina contra a Covid-19. Da mesma forma, a formação de profissionais aptos a trabalharem em equipe, a juntarem conhecimento para avançar nos tratamentos é fundamental na construção de um sistema de cuidado com a saúde eficiente.

O novo centro contou com investimentos  de R$ 700 milhões, parte do montante gerado por doações e o restante do próprio caixa da organização. A sofisticação de recursos, espera-se, atraia também mais parcerias como as firmadas com indústrias farmacêuticas e instituições como o City of Hope, da California, referência mundial em pesquisa de câncer. O conhecimento gerado não ficará somente dentro do Einstein. “Ele será de toda a sociedade brasileira”, afirma Claudio Lottenberg.

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