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“Com tanto trauma, psicodélicos são uma avenida para melhorar a situação”

Um dos maiores nomes da neurociência do país, Sidarta Ribeiro comenta avanços em pesquisas sobre o uso dessas substâncias para tratar depressão

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 jul 2023, 10h16

Após serem associados a delírios e alvo de uma guerra às drogas na década de 1970, os psicodélicos estão entrando em um fértil momento científico, com frentes de estudos que focam em uma das mais profundas dores humanas: a depressão.

De substâncias inicialmente utilizadas como anestésicos a moléculas extraídas de cogumelos, pesquisadores testam novas abordagens para modular o cérebro e estancar o ciclo de pensamentos negativos e prostração que abate pessoas com a condição.

Para compreender os últimos progressos na área, VEJA ouviu o renomado neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que esteve no último encontro da Associação Multidisciplinar de Estudos em Psicodélicos, em Denver, nos Estados Unidos.

Ele explica o papel dessas substâncias, comenta os avanços na pesquisa e destaca a importância de valorizar as populações tradicionais que entregaram o saber sobre esses remédios para a medicina ocidental.

+ LEIA TAMBÉM: Entenda a terapia assistida por psicodélicos

VEJA: Por que a ciência está buscando nos psicodélicos um caminho para tratar a depressão?

Sidarta Ribeiro: A depressão é um problema sério que vem aumentando em muitos países. E os antidepressivos convencionais não parecem ter resolvido o problema em nenhum lugar. O que os psicodélicos prometem não é o consumo cotidiano de uma pílula, mas o uso ocasional, com doses baixas, de substâncias muito poderosas que podem aumentar a plasticidade neural e permitir que o cérebro se reorganize e seja possível encontrar um modo de funcionamento com mais saúde mental e cognição melhorada. Por isso, são uma gigantesca promessa que já está se tornando realidade de transformação na psiquiatria e na neurologia. Porque a próxima fronteira é o plano de testá-los diante do trauma neural, do AVC, da concussão e de demais problemas neurológicos.

O senhor acredita que há preconceito em relação aos psicodélicos por ter ocorrido um uso recreativo e ligado a alucinações?

De fato, tem muito estigma e preconceito. O próprio termo alucinógeno é incorreto, porque as substâncias psicodélicas, que têm diferentes categorias, classes, químicas e efeitos variados entre si, têm, em comum, a capacidade de tornar o sistema nervoso mais capaz de aprender, de se transformar, o que é muito importante para a terapia e para um melhor humor e uma melhor cognição. O modelo que vem surgindo não é o mesmo dos antidepressivos convencionais, mas baseado numa terapia assistida por substância psicodélica. O preconceito que foi criado com a guerra às drogas e a demonização das substâncias psicodélicas foi um grande equívoco de saúde pública que teve implicações políticas e sociais.

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Como reverter isso diante dos resultados positivos em pacientes que já não respondem a tratamentos convencionais?

Hoje aquela ideia caiu por terra, e está muito evidente, do ponto de vista da ciência, que essa fronteira de pesquisa que é relevante para lidar com os problemas gerados pelo mundo urbano contemporâneo, que produz muito sofrimento. Há muito trauma na sociedade e a psicoterapia assistida por psicodélicos é a principal avenida que temos para melhorar essa situação.

A conferência da Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (Maps, na sigla em inglês) acabou de ser realizada e apresentou os achados mais recentes sobre o tema. O que podemos destacar do evento?

Eu destacaria o trabalho do Dráulio de Araújo, do Instituto do Cérebro, mostrando o uso terapêutico da ayahuasca para depressão, e também do DMT (dimetiltriptamina) para essa mesma finalidade. Assim como pesquisas sobre plasticidade induzida por psicodélicos, o trabalho do professor Luís Fernando Tófoli, da Unicamp, sobre o uso do LSD. Um aspecto muito importante da reunião é a participação de lideranças indígenas que são, de fato, detentoras da propriedade intelectual dos usos ancestrais de plantas, fungos, animais medicinais e de uso terapêutico. É por causa dessas culturas que a ciência tem qualquer tipo de conhecimento inicial sobre tais substâncias. É uma conferência gigantesca que marca um ponto de inflexão de crescimento exponencial do campo.

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